segunda-feira, março 02, 2009


sábado, fevereiro 28, 2009


"Sou eu. A mesma. Não mudei por já não reflectir em mim a beleza de te querer, ou antes, a beleza que se fixava em mim com o teu querer. Nunca me importou a medida do teu desejo. Saber se era amor, luxúria, paixão ou cumplicidade nunca foi variável importante na nossa equação. Eu gostava e ti. Tu dizias gostar de mim. Isso bastava numa vida partilhada em simultâneo mas não em exclusivo.
Gostar bastava para se acordar risonha e feliz, entorpecida de vontade de ficar um pouco mais em descanso no teu abraço.
Ficou a vontade, descalça, lá no banco de jardim. Aqueles passos ganharam sentido único, num caminho que se tenta fazer sem olhar para trás. Mesmo assim esperei. Perdi a noção das horas numa espera comprometida e medrosa de um coração menina que queria ainda acreditar na possibilidade de inverter os ponteiros. A cada minuto que o meu medo continha, ensaiava as palavras que diria se o universo fosse o meu melhor amigo de escola, aquele que por pacto de sangue de dedos chupados, sempre me salvaria.
A chuva miudinha mas certeira começava a cair e só os risos dos meninos felizes a impedia de cair mais forte.
Voltei ao principio para garantir a mim mesma que tentara. Não naufragará a ver a praia onde iríamos deitar, rir e amar. Não sei porque nunca fizemos amor na praia. Na realidade não seria amor que faríamos porque não era amor que vivia em nós e vivendo, não passava de um okupa involuntário e clandestino. Não sei hoje o que era, não no conceito ou na justificação, mas sei como crescia, todos os dias um pouco mais.

Há algo de mágico no Jardim da Estrela debaixo de chuva. Mesmo quando chove em simultâneo do lado de dentro da estrela. O jardim já lá estava antes de nós e o banco será sempre um banco. Hoje, era um banco de esperança, um banco com uma declaração de amor, que a chuva transformará em poeira e numa pequena estrela daquele jardim."

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Mais um recado...


"Meu amor, como ficaste,

Meu amor, como demoras."

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

“Entra. Dou-te a chave, não a original, mas o duplicado. Fecha a porta e abre-me a mim. Olha-me os pés para que te levante o rosto e consinta. Não digas nada. São as palavras que nos contagiam e agora, neste resto de tempo tentamos consertar o prazer. Será que as rotas do corpo se alteram? Seremos estranhos de novo?
Quem dera que sim. Que agarremos as nossas dúvidas á estranheza de uma primeira vez. De novo.
Desce as mãos pelas minhas costas e a boca pela minha nuca, ao de leve e desejeitadamente enquanto eu te chamo repetitivamente por qualquer nome que não o teu. Tacteia o prazer em mim como se não soubesses a taboada dos meus risos, dos meus gritos, do gemido varrido em mim. Como se cada respirar mais ofegante rebentasse comportas dentro de mim. Deixa-me desaguar em força até não ficar mais que um pequeno ribeiro primaveril onde salpicar os pés.
Desejo-te há muitos dias. Há tantos que não lembro quando te perdeste em mim.Guardei-te em segredo no fundo do bolso, dentro de um lenço florido de ingenuidade indelicada.
O amor que não dei sobra em mim. Sobra quando o desejo inflama a paixão ao pé da boca, a um passo dos olhos que não me deixam mentir. Eu viro o rosto e derreto-me na almofada, no rio, no escuro. Não me olhes. Se os teus olhos pousarem nos meus verás o avesso da história, a verdade que mata o mensageiro.
Eu sou Lisboa quando deixo ficar, só, por minutos que são anos contados.”

terça-feira, fevereiro 24, 2009

a lo mejor

Há muito que deixei de acreditar em fábulas, histórias de faz de conta, novelas ou relatos de princesas encantadas e finais de felicidade contínua.
Por questões de maternidade tento que essa falta de encanto não trespasse para os meus filhos. É necessário que eles acreditem nos sonhos, na possibilidade infinita de qualquer enredo que decidam acreditar. É essa possibilidade de acreditar que os ajudará a definir-se como indíviduos e são, também, muitas vezes, as desilusões das descobertas que os farão crescer e condicionar o modo como transmitem o mundo aos outros.

Não é fácil jogar esse duplo papel, entre o sim e o não e na maioria das vezes, escudo-me atrás de um “talvez,...sim, talvez aconteça”. O talvez é, assim, o maior aliado dos pais na resposta a um sem número de perguntas, que em verdade, não queremos ter que responder.

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Last call: Saturday on a bench by the star, facing the garden.

Théophile Gautier disse que “amar é admirar com o coração, e admirar é amar com o cérebro.”

Citado In “Estamos todos tão sozinhos” de Paulo Nogueira

Parei nesta frase porque me fez pensar. Automaticamente recapitulei as pessoas da minha vida, enumerando-as uma por uma num escrutínio vagaroso e crítico. O que fora que prendera tanta gente na gaveta das minhas memórias que em dias se atravanca a tal ponto de estravasar para a prateleira inferior, aquela que cai aos nossos pés quando sem pensar abrimos a porta de rompante, sem nada concreto a procurar?
Desde pequena que me deixo prender ás palavras dos outros. Desde muito pequena creio, porque recordo os boletins de avaliação da minha professora da primária no qual sempre referia aos meus pais, a estranha atitude da criança que preferia ler na sala ou ouvir a conversa dos adultos a brincar ao elástico ou à apanhada. Se não me falha a memória, deveria ter cerca de 10 anos quando “amei com o cérebro” pela primeira vez. Lembro o meu espanto e fascínio ao ouvir Miguel Torga a falar de trivialidades talvez, enquanto comia pastéis de bacalhau e bebia um copo de vinho verde, no café da rua que os meus pais frequentavam. Era um senhor, médico segundo sabia na altura que escrevia livros, dissera-me a minha mãe. E eu, sentada num banco alto de um balcão corrido tamborilava os pés na bancada, horas a fio num silêncio que assustava quem conhecia a minha incapacidade de estar calada. Ele falava bem. Era bonito, mas era a escolha das palavras como se fossem pedacinhos de ar multicolor que me prendia a respiração e soltava o espanto.
À medida que comecei a ler e a escolher os meus escritores favoritos confessava-me, ambiciosa, mas em segredo, que era uma escritora. Anos mais tarde, na minha pré-adolescência a minha mãe informava o velho escritor que eu também escrevia. Ele, olhando simplesmente para mim, disse: - fazes bem! Não entendi na altura porque um homem que tratava a literatura por tu, se bastaria numa frase tão simples, para tristeza do meu espírito candidato a novelista.

Com o tempo percebi que escrever era apenas uma necessidade como dormir, comer ou ter sexo. Faria parte de mim apenas porque era algo que não conseguia evitar.
Gosto de palavras. De palavras bonitas, de palavras como pessoas com personalidade, qualidades e mau feitio.
Gosto de conversar. Gosto de ouvir e aprender. Gosto de me prender. Esqueço com facilidade os rostos e os trejeitos das pessoas, mas registo em pedra dura, qual mandamento aquilo que outros me contaram ou ensinaram. Citações, títulos, estórias, segredos e desabafos.
Gosto tanto de conhecer pessoas pelas suas palavras que confesso que por diversas vezes me senti reticente em passar, neste universo blogosférico ou virtual, á presença física das pessoas. Tenho, nas minhas relações um pânico atávico de ficar sem assunto, de cair num silêncio ensurdecedor da falta de vontade de contar, de partilhar, de ensinar e aprender. Ficarmos mudos entre olhos sem saber, ou pior, sem querer comunicar.
Há quem assuma o medo nas suas relações amorosas da velhice, das doenças, da falta de pica para fazer amor, do corpo cansado e sem jeito. De dois velhos sentados a ver a vida a passar em flashback. A mim, assassina-me a imagem de um casal sentado numa esplanada a jantar em profundo silêncio, ou pior, com cada um a ler o seu livro.
Comer também é para mim falar. Deixar entrar e sair assuntos entre garfadas, que não raras vezes apenas servem de pretexto. O sublime? A boa companhia de uma longa conversa acompanhada de um vinho bailarino e sedutor, entre sussurros de uma comida feita com amor e acima de tudo com prazer.

De novo verifico que a minha teoria está correcta. É o amor do cérebro que perdura e tantas vezes só a custo se deixa matar. O do corpo envelhece, esbate-se como as fotografias fechadas num álbum no fundo do baú no alto do sótão. Talvez, para mim, seja a presença do objecto de paixão a evitar, para que não se me baralhe os sentidos do tacto e do cheiro.

Prometo que não ficaremos sem assunto, mesmo antes de ficarmos sem vida.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Poesia

(Não sei se é filho de peixe, mas sem dúvida sabe versar.)

“Poesia é magia.
É o segredo da vida.
Vem comigo,
descobre
O sentido da vida.

Gosto de poesia,
Dá-me alegria.
Sem poesia
O mundo não existia.

Poesia, poesia
Magia, magia.”

João Guilherme , 9 anos

Segundo ele "dedicado aos grandes compositores e poetas, importantes e normais. Aproveitem a vida!"

Um conjunto de Enochatos? Naaaaaaaaaa


Braga tem os seus 5 P’s e eu consigo reunir 3.
Continuo a achar que o vinho é um excelente amigo. É, sem dúvida um daqueles amigos que, regra geral, nos apresenta outros amigos que com eles trazem outros vinhos. E não serve apenas para afogar as mágoas porque essas nadam melhor que o Phelps.(Piada à la P).


É sempre bom conhecer pessoas que gostam de vinhos. Pessoas que, com prazer se reúnem a uma mesa e falam de vinhos, com uma capacidade de partilha que nos permite sempre aprender, nessa troca de experiências e opiniões.

Não é preciso utilizar palavras que custam caro aos ouvidos dos outro, nem subir ao alto do poleiro para mostrar que a cauda estonteante dos nossos conhecimentos enófilos.


Recentemente tive o prazer de á volta dos vinhos, passar um dos serões mais agradáveis de muito tempo. Conheci gente gira, capaz de gargalhada solta, na proporção correcta do non sense, com graça no trato e capazes de no vinho serem sinceros e dados.

Estes foram os vinhos provados, mas para notas de prova sugiro uma incursão pelo
Blog de um enófilo com estilo.

Muachos Garrafeira 2003
Esporão Syrah 2005
Crios Malbec 2005
Altano Reserva 2005
Quinta de Saes Reserva Estágio Prolongado 2006
Quinta do Valdoeiro Touriga Nacional 2007
Terra a Terra Reserva 2005
Romaneira 2004
(3º P: ficas de castigo pelo comment. Risos)

Gosto de ti por defeito, mas quero-te por convicção...

"E que convicção! Fiz de ti razão da minha dorzinha de alma, sem sequer te querer amar. Mas quero-te. Quero-te tanto porra! Quero-te na mesma medida do meu silêncio e no oposto da espera. Quero-te como quem quer um último cigarro que sabe de morte, quero-te como quero a noite ruidosa dos passos que te afastam de mim. Fujo de ti, contrariando os meus pés desassossegados que teimam em seguir-te. Quero-te com raiva e com vontade de matar. Vontade de te comer em mim na medida em que me vivo.
De tanto te querer odeio-me. Odeio o tempo suspenso do grito que não dei, do murro que não cobrei. Odeio rever-te por toda a parte onde só eu estou.
E quero-te, pela noite dentro. Quando os teus olhos que não vejo, me olham escondidos. E eu sei que és tu. Sinto-o tantas vezes pelas costas. O braço que não se pôs.

Assumir o erro é coisa de gente grande. É prémio de quem na vida já aprendeu a separar o trigo do joio que é como quem diz, o essencial do acessório. Amanhã poderemos estar mortos e o que faremos com o que ficou por dizer e fazer? Não nos irá aquecer mais que a terra que pesará sobre nós.
Aprendi ás minhas custas que há alturas na vida, que devemos parar e partir a loiça. Ouvir aquilo que apenas imaginamos para que isso permita espoletar (obrigada P.) os mecanismos mentais de sobrevivência, a raiva, a tristeza, o luto que servem de vassouras para limpar o que tem que ficar.
Eu, por mau feitio e quando algo me cheirou a esturro, em vez do confronto optei por sair de soslaio, sem contudo dizer tudo aquilo que me queimava na boca. A verdade é que tonalidades de cinzento não clarificam o meu dia-a-dia e eu não sei ficar só porque isso é o oposto de ir embora. Eu fico sim, quando a minha presença é requerida. Quando sou eu e não qualquer outro individuo que tem um lugar marcado à mesa.
Assim, guardei para mim os afectos, rumei de novo á minha vida a meio e por lá fiquei a tentar perceber. Erro crasso. Há coisas que não são para se perceber, mas apenas para esquecer e isso eu ainda não aprendi.

Por isso ainda te quero! Por isso escrevo o que me vai na alma e tu, no alto do teu lugar cativo absorves a massagem ao ego. A mulher que se esmifra no que sente, no rídiculo da ambição, barata e simples de estar bem, faz o teu dia mais alegre por seres tu quem ela quer?Por ser a lembrança dos dias coisa farta que ocupa o lugar de quem merece?
Tu não. Tu não erras. Tu não és assim. Tu tens dignidade e amor e mulheres e vícios que te ocupam. Tu não queres saber do dar por dar, porque é bom e faz sentido e sabe bem.
Tu és homem. Tu partes inteiro e não deixas pedaços pelo chão. Tu não amas. Tu gostas. E gostar é uma questão de modas. Tu fechas a porta sem olhares para trás.
Eu errei...assumo. Errei e erro todos os dias quando te acercas à minha memória. Erro em todos os momentos em que revivo as coisas boas, simples quentes e a ausência da despedida.
Mas dar-te-ei sempre o benefício da dúvida. Porque sou assim. Rídicula, romântica, cativa da capacidade de surpresa. Mesmo com todos os erros e todos os defeitos. Porque por defeito, Gosto de ti."

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Orangotang

Gosto de ti...


Tenho uma embirração de estimação pelo dia de São Valentim.(ergue-se o coro à voz pequena a chamar-me nomes tão bonitos como “ressabiada”, mal amada, mal ...).
Custa-me a aceitar o amor com marcador de agenda, a foleirice de esfregar na cara de outro(s) que se tem um mais que tudo.
Eles e elas aproveitam para comparar afectos, com base na carteira alheia ou na enorme imaginação roubada em qualquer publicação. A única vez que festejei a data tinha 16 anos e no mesmo dia, deixei de ter motivos para o festejar,mas no entretanto lá recebi o tradicional bouquet de rosas vermelhas. Contudo, ao longo da vida e em tantas outras épocas do ano, já fui presenteada com dezenas de prendas e surpresas que fariam corar de vergonha qualquer Valentim a soldo em agência de Publicidade.

Amigos e amigas andam num desassossego com os preparativos do dia 14. Elas em pulgas a comprar lingerie, a aprender a dança do varão ou a marcar mesa em restaurantes sofisticados da moda e eles desvairados a imaginar o que lhes vão dar, receosos do risco que correm se por azar do destino ou má conselho da menina da perfumaria errarem na escolha. (Nota: elas não sabem o que querem, por isso irão sempre colocar defeito...pelo menos ao ouvido da amiga).

A mim, ambos, pedem ajuda para escrever declarações de amor que colocarão nos postais com imagens de ursinhos abraçados ou fins de tarde em praias paradisíacas que muitos nunca visitaram ou irão sequer fazê-lo juntos. Eu, confesso, assumo o papel de mercenária do amor. Escrevo sinceramente sobre um amor, ou vários amores. Porque de amor se tratando, correspondido ou não, já muitas latas de tinta fiz correr. Já recebi muita carta de amor e já escrevi outras tantas, na sua maioria sem que o destinatário tivesse qualquer participação nesse momento de afectuosidade criativa. Já escrevi sobre todos os tipos de amor e este blog faz prova disso. Do amor próprio, do amor aos filhos, incondicional e severo, do amor apaixonado, do amor comovido, do amor incorrespondido, do amor à distância, acima de tudo, do amor por defeito.

Lamento contudo, que o “amor” que une todas estas pessoas que me pedem palavra, não tenha linguagem própria ou citação adaptável escolhida por quem realmente quer mostrar-se ,assim despido de pré-conceitos, de vergonhas, numa nudez de sentimentos que só nos pode tornar mais amavéis.
Eu, por mim, continuo a preferir as declarações cheias de erros ortográficos e palavras desadequadas, nas quais reveja o valor daquilo que sou ás mãos do outro.

Pensando bem eu troco todas as palavras pelo silêncio da boca no avesso das palavras.

Nota: Apesar da embirração não quero deixar de contribuir de forma mais alargada, para que todos os visitantes do blog, caso necessitem, possam inspirar-se na propagação dos amores e como prova disso cá fica um amor com “fairplay”.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Quem tem vergonha passa mal...

"Ser feliz por momentos é algo de que não se deve ter vergonha. Momentos que o fim torna rídiculos. A felicidade, como o amor, é um sentimento ridículo. Mas a felicidade, como o amor, só é ridícula quando vista de fora. A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria.

A felicidade são momentos que, no seu presente fugaz, são mais fortes do que todas as sombras, todos os lugares frios, todos os arrependimentos. Ser feliz em palavras que, durante essa respiração breve, mudam de sentido. E nem a forma do mundo é igual: o sangue tem a forma de luz, as pedras têm a forma de nuvens, os olhos têm a forma de rios, as mãos têm a forma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar com toda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança.

Momentos que o fim torna ridículos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependimentos e fracassos, que se possam viver de novo, para de novo chegar ao fim e de novo a esperança e de novo o fim. Não se deve ter vergonha de se ser feliz por momentos. Não se deve ter vergonha da memória de se ter sido feliz por momentos."

José Luís Peixoto, in Uma Casa Na Escuridão

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Estrada Nacional ou auto-estrada...

Ele: É verdade que vocês, mulheres, fingem orgasmos?

Ela: Claro que sim!

Ele: Comigo não. Elas não fingem os orgasmos tal como eu não finjo os preliminares.

Ela: Tem a certeza?

Ele: Como é que eu tenho a certeza? Ora, elas disseram-me! Está insinuar que não deveria ter acreditado?

Ela: Não...de todo...fica-lhe bem acreditar. Nós, mulheres, achamos sempre alguma graça a esse lado da ingenuidade masculina.
Além disso, a prova de que o fingimento é um prazer necessário, é que enquanto nós sabemos que é o gozo da viagem o objectivo e não o destino,...os homens se sentem apaziguados nas suas dúvidas existênciais ao crer que nos fizeram chegar lá, cumprindo essa lei universal de saberem sempre ler os mapas e não precisar de pedir indicações...

Até nos podem levar ao destino, mas há uma diferença entre o prazer do passeio tranquilo e a rapidez da auto-estrada...

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Oblivion | Piazzolla ou

Carlos Reynolds

Danço entre as gotas que lavam a calçada,
pés descalços terra quente,
cheiro podre de terra,
palco,
espelho,
montra cheia.
Manequins bailando
um tango despernado,
e tu,
sentado mexendo os fios,
escritos na boca...

The persuit of hapiness

Um habitue anónimo desafiou-me a discorrer sobre a felicidade, defini-la ou desmontá-la.
No meu arquivo de conceitos vividos, a felicidade não é mais que o espaço que está entre aquilo que não se quer e o mais que se ambiciona.

A felicidade é um peixe de escamas luzidias mas escorregadias, que se pavoneia no lago de expectativas onde nos olhamos diariamente. Tenta-nos como se tenta um cão faminto a correr atrás do osso com restos de carne e nós, desejosos de poder dizer que é nossa, lá corremos, saltamos, nadamos e fazemos o pino atrás dela. No fim, esgotados, percebemos, com sorte, que nessa tentativa de agarrar a felicidade se desenvolveu em nós capacidades que melhoram a espécie.

A felicidade é a meca da existência.

Desde pequenos que nos ensinam que a felicidade é a maior conquista de um ser humano, mas que eu me lembre, nunca ninguém a soube agarrar e meter num frasco, para que lhe possamos medir a massa, a dimensão, a textura ou a consistência.

Consta que quanto mais se tenta agarrar a felicidade mais ela se espalha e contagia. É talvez um vírus. Mas como até os vírus têm critérios de propagação e nem todos nós sofremos de gripe na mesma escala, alguns há que não têm a sorte de uma baixa remunerada.

A beleza e o poder da felicidade reside no facto de não poder ser definida, desmontada, ou guardada numa caixa. É ser na realidade um conjunto de momentos kodak que cada um de nós guarda e que tantas vezes revê na esperança de repetir o momento.
A felicidade é pequenina como o grau de areia da ampulheta da vida, infinita como o segundo do abraço dos lábios opostos que se desejam como se não houvesse amanhã...efémera como o perfume da tília em noite de primavera, quebradiça como o cristal, valiosa como o diamante raro, única como cada um de nós.

Apesar de difícil de a enquadrar num conceito único que reúna consenso, cada um de nós sabe qual é o seu sabor, qual a cor, qual a magia.

A felicidade é amante de todos mas não é possuída por ninguém.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Serendipity again...

Lembro o chão. Ás luzes, os olhares, a lágrima, o sorriso, o corpo, o calor, o querer mais que tudo, o mundo a começar onde acaba...
É um lembrar que faz tão bem...

Missing




"És linda como o horizonte e chata como o búfalo!" - Pilarência

(só espero que não seja o horizonte que olha o búfalo)

O meu pé de vida

Quando soube que ia ser mãe, toda eu fiquei feliz. Ainda que por momentos a angústia da novidade, da ansiedade, da incerteza tenha tomado conta de mim, cresceu em mim uma convicção alegre de que tinha dentro de mim alguém especial.
Foste especial desde os primeiros momentos de uma gravidez complicada, diferente, por vezes até dolorosa. Eu queria-te. Queria-te muito. Contava os dias para o momento em que te teria nos braços, em que te olharia fundo nos olhos e perceberia a razão daquele amor tão incondicional.
Do momento em que saíste de mim, em que nos separamos, em que passou a ser tu e o mundo e não apenas um nós seguro, lembro a ausência da força. Não te consegui pegar. Riam do meu estado esgotado, mas sabia-te bem e saudável e podia permitir ao mundo, ao teu pai, aqueles momentos únicos.
Quando te trouxeram vestido e lavadinho, bem embrulhado, colocaram-te entre as minhas pernas. Confesso que essa forma de te transportar me fazia confusão. Mas essa sensação logo se esfumou quando um amontoado de almas excitadas te adoravam, se derretiam e trocavam piropos sobre as parecenças. Eu, que sou uma pessoa incapaz de ver parecenças em bebés, sorria por dentro. Por confirmar o quanto adorado e esperado eras.
A tua avô delirou contigo desde o momento em que te viu. Como ela te amava. Sinto saudade dos telefonemas diários dela, para saber do “nosso menino”. De manhã para saber como passaras a noite, se comeras bem, se foste contente para a escola. Á noite só para te saber feliz. Mesmo quando estava doente, muito doente meu amor, ela queria estar contigo. Esforçava-se porque sabia o quão bom isso era.
No dia do teu primeiro aniversário disseste “olá”. Subiste apoiado e devagar as pequenas escadas, encostaste-te à floreira e disseste “olá” a sorrir para uma plateia que se deliciava.

(continua)
O arrependimento não tráz paz de espírito, apenas prova à nossa consciência que poderiamos ter feito melhor.

O velhinho do ISCSP

Chegada da Palmeira ao Palácio do Conde de Burnay, Rua da Junqueira, Finais do Século XIX.

Saudades do que se viajou na mayonese à sombra dessa palmeira...

Feliz Aniversário


O alarme do telemóvel apitou para me lembrar do teu aniversário, como se fosse necessário.
O Pulga viu o teu nome e entusiasmado queria dar-te os parabéns. Arranjei uma desculpa esfarrapada para não te ligar como eles pediam...era demasiado cedo, estarias a dormir.

Eles não entendem este conceito de amigos mas não tão amigos assim.

A Goma gigante, contudo, á sucapa como é apanágio dela deu-me este presente para ti.

Ela, á maneira dela, não deixa ninguém ocupar o teu lugar e mostra que és bemvindo.

Eu, á minha maneira, torpe como sempre, desejo-te o melhor de sempre, ao longe onde estás.

Bem hajas, meu doce e querido M.

quinta-feira, janeiro 29, 2009

Confidências inesperadas à sacada de uma janela


Não leves a mal o jeito...esta presença aqui prova que há sempre um "tum tum", como escreve a tua amiga. Pela troca de cabeçalhos sem necessidade de edição, partilho este presente que é demasiado bonito para guardar só para mim...

"O luto do grande amor torna-nos apenas numa pessoa. E ser uma pessoa é muito pouco para quem já foi nada. Para quem já deu tudo. Jurámos que nunca mais. Assim não. Nem pensar - "Não te posso dar nada", dizem os amantes uns aos outros depois de terem dado tudo. O nada é aquilo que nos lembra aos outros, quando morremos de uma das múltiplas mortes que podemos ter para os outros. Agora contamos a história tintim por tintim. Mas sobra sempre um tumtum.” .

Inês Pedrosa a "Instrução dos amantes"

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Fábulas

Para quem gosta de Fábulas, vinhos, coisas giras, gentes simpáticas...

www.salubaf.blogspot.com

Imaginar um adeus

"Muitas vezes, a memória torna-se clemente com as coisas que, sendo tristes, não são nem preponderantes nem indiferentes para nós.
As coisas tristes não precisam de ser episódios que nos sangrem na alma. Estão por ali. Não as conseguimos ignorar nem as queremos esquecer: acompanham-nos como o som, fanhoso, de um rádio antigo que atropela todas as tentativas de saborear um silêncio.
As coisas tristes não nos deprimem nem nos amarguram, por exemplo. E isso é bom. Mas adormecem e põem-nos de costas para o futuro. E isso é péssimo.


Nunca se prepara um adeus. Qualquer que seja. Imaginar um adeus não nos habilita a compreender a tontura de sermos apanhados de surpresa quando perdemos alguém. Preparar a despedida não nos ensina a dizer adeus mas, simplesmente, a prevenir todos os remorsos."

Eduardo Sá

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Midnight Bottle

Banda Sonora de um domingo chuvoso

quinta-feira, janeiro 22, 2009

“Não procures mas faz-te encontrada”
Disseste-me estas palavras a jeito de conselho como se as artes dos afectos tivessem regras. Intui-te no olhar que, na tua opinião sou melhor quando amo. È verdade que sim. Que sou bem mais bonita, mais solta, mais atraente até, quando me deixo levar por uma paixão.
Não consegues entender que não estou disponível para amar. Que não só não consigo como não quero amar homem algum.
Porque amo.
Porque independentemente da ausência há um corpo que desejo, há um olhar que ambiciono, há na minha cama o lugar preenchido, há na minha pele restos de sabores, há vazios que não quero encher.
Não há espera, não há esperança, há uma digestão a fazer. Há que absorver cada bocadinho desse amor que não se deu, que não se esgotou, para que se transforme em matéria-prima de vida, de conhecimento, de experiência que um dia servirá de filtro para outros sentimentos.

Ris-te de mim e tentas convencer-me que é o tempo. Que o tempo mudará as coisas, que me trará o esquecimento. Ai é que tu te enganas. Eu não quero esquecer, não quero deitar para trás das costas, não quero expurgar, não quero reciclar, não quero apagar.

Eu quero só lembrar quando quiser sem que isso seja um impulso de momentos ociosos, ou detalhes de cenário que se espetam pelos olhos dentro e nos projectam lá para trás para um tempo que já não há.

Não. Não será o tempo que mudará esta forma de sentir. Nem as necessidades do corpo, curtas de mitigar, como fome que se mata com qualquer pedaço de alimento. Há que saber comer. Não será o passar das horas, nem os entreténs de outros passos de dança, nem de outras mãos, menos ainda de outros vinhos.

Será o inevitável. O brusco momento em que a vida toda que ainda não vivemos nos entra pela alma a dentro em forma de planos, projectos, sonhos, caminhos. Quando outro olhar bastar para fazer o mundo virar do avesso e dar-lhe uma nova certeza. Uma certeza que de garantias nada terá, mas que se sente como única.
Não, não desisto mas ainda assim resisto ao convite e penduro nessa porta, um convicto.”Não incomodar”

O gosto dos outros

Ás vezes falta o sentido no excesso da palavra. Dizer por dizer o que nos o que nos vai na alma na esperança de encontrar o verdadeiro poder da palavra que seja simultaneamente eficaz e libertador.
Com a idade e a capacidade de manuseamento da linguagem vamos conseguindo criar nos outros expectativas daquilo que temos para dizer. Com as palavras vamos dando a conhecer quem somos, o que queremos, o que pensamos sobre os mais variados assuntos. Quanto maior for a nossa criatividade e capacidade de usar a palavra mais fácil se torna convencer os outros dos nossos objectivos, da nossa força, da nossa sinceridade.
Por isso é tão desarmante a impossibilidade de utilizar essa ferramenta ou essa arma na conquista do nosso espaço social.

Recentemente conheci uma criança surda-muda o que fez com que a minha capacidade de comunicar fosse posta à prova. Apesar das minhas reticências ela tentou da forma que lhe pareceu mais fácil mostrar-se e dar-se, sem que o silêncio se tornasse um muro intransponível. Entre sorrisos e gestos, com muita mão na mão rapidamente chegamos ao sítio onde começam as amizades.

Esta situação fez-me pensar um pouco sobre alguma injustiça praticada por mim face a pessoas que não têm, não porque não sejam capazes, essa apetência para a comunicação, para nos prenderem a atenção com as suas palavras, para nos seduzirem com os seus conhecimentos, para nos encantarem com as suas frases. A verdade é que, dada a minha queda para o excesso de oralidade acabei por pôr de lado gente, que há sua maneira, terá dezenas de coisas belas, inteligentes ou verdadeiras para me ensinar, mas que não sabem embrulhar estas prendas com enfeites mais apelativos para mim.

Percebo o quanto injusta e vítima sou pela prática dessa forma de snobismo intelectual. Sou tão ridícula eu no meu julgamento da intelectualidade quanto patética na prática de descriminação de gentes pela diferença de vocábulos, significados e referências culturais. Aborrece-me ser assim. Não conseguir adequar a minha capacidade de atenção e aprendizagem aos meios que outros, bem mais inteligentes, conhecedores e sabedores se oferecem para partilhar sem que, nesse gesto, se encontre pinga de superioridade.

Uma expressão palerma

"Fazer amor não existe, porra , o amor não se faz. O amor desaba sobre nós já feito, não o controlamos - por isso o sistema se cansa tanto a substituí-lo pelo sexo, coisa gráfica, aparentemente moldável. Também não era foder, fornicar, copular - essas palavras violentas com que tentamos rebentar o amor. Como se fosse possível. Como se o amor não fosse exactamente essa fornicação metafísica que não nos diz respeito - sofremos-lhe apenas os estilhaços, que nos roubam vida e vontade."

Inês Pedrosa
Eu bem tento fazer as coisas by the book...mas será pedir muito que especifiquem wich book?

Na cama não se fala de filosofia

“Na cama não se fala de filosofia.

Peguei na mão dela, coloquei sobre meu coração, disse,meu coração é seu,depois pus sua mão sobre minha cabeça e disse,
meus pensamentos são seus, moléculas do meu corpo estão impregnadas com moléculas do seu. (...)Ela disse,
te amo, vamos viver juntos.

Perguntei, não está tão bom assim?
Cada um no seu canto, nos encontramos para ir ao cinema, passear no Jardim Botânico, comer salada com salmão, ler poesia um para o outro, ver filmes, foder.
Acordar todo dia, todo dia, todo dia juntos na mesma cama é mortal.

Ela respondeu que Nietzsche disse que a mesma palavra amor significa duas coisas diferentes para o homem e para a mulher.
Para a mulher, amor exprime renúncia, dádiva.
Já o homem quer possuir a mulher, tomá-la, a fim de se enriquecer e reforçar seu poder de existir.

Respondi que Nietzsche era um maluco.

Mas aquela conversa foi o início do fim.

Na cama não se fala de filosofia.”

Rubem Fonseca, "Ela e outras mulheres"

terça-feira, janeiro 20, 2009

Para 2009 que desafios?

O meu amigo Piloto Automático lançou-me hoje um desafio e eu, como sempre, disse logo que sim sem saber ao que ia, isto porque não sou capaz de dizer não a qualquer repto, o que nem sempre resulta a meu favor.

Para responder a este desafio tenho que pensar nos meus 8 desejos para 2009, o que é mau, tendo em conta que esta passagem de ano a minha resolução foi não pedir desejos.

Assim e após alguma exercício de arrumação de prioridades eis a minha lista de desejos, que mesmo que não se concretizem não trazem mal ao mundo ao serem desejados, mas não há que esquecer a velha máxima, “cuidado com o que desejas porque se pode concretizar.”

Assim, em 2009 desejo:




  • * Muita saúde para toda a família e os meus amigos;
  • * Que os meus filhos sejam estupidamente felizes;
  • * Que os meus amigos desempregados arranjem um emprego que os preencha;
  • * Que se descubra a cura para o cancro da mama;
  • * Que ultrapasse o meu pânico de conduzir;
  • * Engordar 10 Kg;
  • * Que o Pedro Mex descubra a cura para os desgostos de amor;
  • * Que a vida me seja justa;

Passo o desafio a estes 8 bloggers:


Uma mulher aventureira


Uma miúda Gira


Partilhas


O rapaz das Palavras


O rapaz das viagens


O inquestionável

A Incensurável


Riacho

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Stacey Kent - You ' ve got a friend

A propósito de amigos...a não perder dia 24 de Abril em Lisboa!!!

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Mexia sofria de amores...

Nunca fui muito à bola com o Pedro Mexia, ou para ser verdadeiramente sincera muito que não vou á bola com o Pedro Mexia. Foi ele a minha primeiro desilusão de adolescente, ao verificar que o fascínio que acalentava pelo escritor (entenda-se aqui “escritor” no sentido da pessoa que escreve, se exprime e se expõem) e a figura em si não se suportavam. O segundo foi o João Chaves e o Oceano Pacífico.

Há qualquer coisa de “impermeável” nele que me causou comichão na espinha e me fez deixá-lo cair para a prateleira dos Gajos(as) Com Quem Não Vou à Bola Mas Em Dias de Nevoeiro Até Gosto de Ler...Cada vez tenho menos pachorra para o estendal de roupa da intelectualidade. Nos dias que correm tanto me faz que seja à esquerda ou à direita. Aquele número do eu li mais livros que tu, a minha mesinha de cabeceira parece o escaparate da Bertrand (sim, porque da Fnac seria coisa de pobre de espírito),comento tudo e um par de botas e sou tão versado que posso discorrer uma hora sobre qual o melhor batedor de claras em castelo.; põe-me nervos em franja. Já agora,sou tão Gourmet que nunca, jamais , em tempo algum compraria uma Bimby.

Aqui há uns tempos, num outro Blog de uma Senhora com quem não vou à bola sem que a figura em questão tenha contribuído para isso, apenas questões de linhas cruzadas e interferências sensitivas, descobri que o Pedro sofria de amor. Fiquei curiosa sobre de que forma “sofre” de amor um rapaz tão ocupado, com tantos livros para ler, assuntos para falar e uma Cinemateca para gerir. Lamento informar, mas a verdade é que comecei a gostar dele. Outra vez. Simpatizo com o moço, mesmo quando ele passa à frente de uma senhora ou não abre a porta para que ela passe. Tão fino, tão fino...se calhar é o lado distraído dele.

Não é menos verdade que desde que manifestei a minha crescente simpatia pela figura, aumentei as visitas ao blog. A quantidade de gente que procura por ele, não deixa de me surpreender.
É pena mas ele não anda por estes lados. Acho mesmo que ficaria horrorizado com os erros, os desvarios, o conteúdo deste site. Mas, como ele até tem umas coisas acertadas, deixo aqui como testemunho da minha crescente afeição, um texto publicado no Público de 16/08/2008 a propósito dos amigos que se perdem. Muito actual, infelizmente.



“A amizade é uma experiência mais frequente que o amor; mas todos os dias ouvimos histórias sobre ex-maridos e ex-namoradas, ao passo que pouca gente fala dos ex-amigos.
E ao nosso lado há amizades que acabam, como uma implosão de um edifício em ruínas, estrépido abafado e uma grande nuvem de pó. Disso fica apenas um grande silêncio.
As pessoas não gostam de reconhecer que a amizade é um laço frágil. A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há por isso um grau de decepção no fim de uma amizade que cobre de vergonha os envolvidos.
… Quando o amor acaba, a tragédia é minimizada porque já sabíamos que “o amor acaba”. O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante. Quando uma amizade acaba temos que reconhecer, contrariados, que a amizade, tal como o amor, é uma eternidade fraudulenta.
… A amizade suporta bem opiniões divergentes. Eis o que uma amizade não aguenta: deslealdades, traições, ausências, crueldades, competições, impiedades.
Já passei por algumas rupturas violentas, e sei que as amizades acabam porque pomos em causa o carácter do amigo. Reparem que não me refiro às amizades que se desvanecem, à intensidade que diminui, às pessoas com quem vamos perdendo contacto aos poucos, sem premeditação, só porque mudaram os nossos hábitos ou as nossas circunstâncias. De tempos a tempos, todos temos amigos de quem já não somos amigos. Mas isso é muito diferente de um ex-amigo.
Um ex-amigo é alguém a quem um dia entregamos as chaves todas que tínhamos. Teve acesso total às nossas ideias e emoções. Um ex-amigo foi sempre um amigo íntimo. È isso que explica o decoro antiquado com que evitamos o assunto.
O ex-amigo representa um juízo ético errado. É uma mancha humana. Um momento em que nos enganamos completamente sobre a humanidade, ou sobre um humano concreto.
É fácil dizermos “eu achava que estava apaixonado” e garantirmos que confundimos o amor com uns olhos azuis. Mas com um amigo, que é um peixe de águas profundas, não temos essa desculpa.
Quem é que diz “eu achava que era amigo dele”?
O fim de uma paixão revela um erro comum. O fim de uma amizade é um erro pessoal. Sem direito a perguntas.
O ex-amigo nunca nos é indiferente. Uma das minhas regras sagradas é que nunca digo mal de um ex-amigo. Isso é tanto mais estranho quanto sou capaz de dizer mal de um amigo, em casos graves.
Mas um ex-amigo é como uma investigação policial inconclusiva. É um caso arquivado por desistência e que pesa na consciência. Se eu criticasse um ex-amigo era como se ele ainda fosse meu amigo. E isso seria uma sensação incómoda.
Ao mesmo tempo, o ex-amigo não é exactamente um inimigo. È um fantasma, uma assombração de que nos lembramos sempre…
O amigo entrou na Cidade Proibida e agora não nos perdoamos que ele tenha visto os leões e os archeiros.
…Nunca perdoamos o entusiasmo lúcido com que fizemos um amigo e depois o perdemos.
Não estamos sequer arrependidos: - estamos tristes com uma tristeza mais suportável e mais duradoura que a tristeza amorosa.
Quando nos cruzamos com um ex-amigo e não nos cumprimentamos, pesa no coração o logro que é a fraternidade. Sem a qual a igualdade e a liberdade afinal não valem nada."

Coldplay - Viva La Vida

A musica e as pessoas. É natural associarmos músicas com vivências e pessoas. Seja o momento em que ouvimos determinada musica pela primeira vez, seja a pessoa com quem partilhamos esse momento, seja apenas uma palavra ou sentimento que nos coagita associações. É uma coisa pavloviana.
Lembro-me perfeitamente do momento em que ouvi este cd pela primeira vez. Lembro a decoração da sala, os sorrisos, a disposição das pernas, o silêncio confortável ao toque que se exercia por ser algo que por vezes não se consegue evitar.O estar e deixar-se dormir porque era assim que o corpo pedia.
No entanto, esta musica tem duas caras. Duas caras radiantes e sorridentes e profundamente belas. Duas vozes que a mal acompanhavam a letra sempre a decibéis acima do permitido. Que pediam com modos a jeito de ameaça velada...põe aquela musica enquanto se acelarava pela estrada fora e o sal se dispersava o ar á mistura com a areia.
Ontem, quando vos vi era esta a música que tocava no carro. Não pude conter as lágrimas á mistura com a ternura. Á mistura com uma admiração profunda e os sentimentos confusos de quem na perda também ganhou.
Sim Princesa...aquelas estrelas no céu são só para ti. Sim...eu irei sempre gostar de ti e tu serás sempre uma cara de lua cheia e seixos redondos e polidos que brilhavam mais que qualquer outra jóia. Sim Princesa o teu cabelo cheira sempre bem, as ondas dos teus caracóis vão sempre crescer e as fadas existem, e as estrelas que vês são tuas. Emprestas-me algumas para acalmar a saudade?

quinta-feira, janeiro 08, 2009

1/2 cinza eléctrico


Efeitos secundários:

  1. Olhos esbugalhados que se mantêm abertos à custa de um frio do caraças:
  2. 32 horas decorridas desde que dormi pela última vez!
  3. Dois choques frontais: 1 com o outdoor do Clonney (menos mal) e outro com um pica-bilhetes sentado em cima do muro em desiquilibrio gástrico (um género Alice in winederland);
  4. As ideias da secção de frescos e do arquivo morto aparecem a pares, mas falta-lhes sempre a ponta.
  5. Sou oficialmente incapaz de sorrir para alguém mas farto-me de rir comigo;
  6. Fui invadida por uma enorme ternura gratuita pelo Pedro Mexia ( à escala). Oscilo entre a vontade de lhe dar um abraço ou um serviço de jantar de 80 peças Vista Alegre, para atirar a quem lhe apetecer;
  7. Sou atacada pontualmente e de surra, por uma brigada de Bichos-Carpinteiros que estavam hibernados. Não consigo manter os braços esticados.
  8. uma média de 1 copo de água a cada 4 horas;
  9. Estou na dúvida se vivenciei uma alucinação: alguém me confidenciou que sou ex-namorada de um Gay. Ou para ser correcta de um BI. Não sei o que me chateia mais:Se ter ficado a saber. Se não ter percebido!Se não ter a certeza! Ao menos não sou a única. No entanto, ainda não estou em condições de teorizar sobre o assunto!

    Next Milestone:

    Dormir que nem uma pedra.

Better make it two!

0- Insónia


O Vizinho , que afinal é do 2º dto (eu tenho um problema com a esquerda e direita), conseguiu aniquilar qualquer uma das minhas tentativas de descanso. Tentei de tudo até ao momento, desde tampões à música suave, banho quente, leite morno, sofá, TV e são 4:50 da manhã e eu sentada ao computador a tentar passar o tempo. A “batoneira” faz estremecer tudo e eu estou tentada a cometer um crime.
Há anos atrás nada disto teria impacto. Nem a insónia, ou as poucas horas dormidas e muito menos a irritação provocada por um cérebro cansado mas incapaz de parar. Na realidade eu tenho muitas coisas para pensar e variadas decisões para tomar. Esta manhã, um escritório em peso verá uma zombie de mau humor, o que dada a agenda do dia, não posso assegurar que não haja “baixas”.

Hoje é um dia diferente. É dia 8 de Janeiro. Aniversário do Sohel, o que me faz vir á cabeça o surf, que me transporta para o Alentejo. É o dia que se segue ao quebrar de uma regra, ao dar uma abébia ao “impensado”. São 8 dias passados do início de um ano que se prevê, para todos nós, muito difícil.

É o dia para iniciar um novo projecto. É o dia 0. É dia de aceitar o conselho de um velho novo amigo. É um dia para convicções. É um dia para morrer de medo, mas mais vale tentar e morrer do que não chegar a tentar e viver à sombra do receio.

Não sei muito bem o que escrever, mas quero que daqui a uns tempos este momento duplique o sentido. Veremos.

LF, obrigada pelo exemplo e a inspiração.
"Regret for the things we did can be tempered by time; it is regret for the things we did not do that is inconsolable. "
Sidney J. Harris

A culpa é do vizinho do 2º esquerdo que desconhece a existência do Rinomer!

Um amigo lamenta eu não ser dada ao “sexo descomplicado”; outro sugere uma incursão pelas amizades coloridas, uma amiga tenta convencer-me das oportunidades de bem estar com homens casados.
Terei na testa um daqueles painéis electrónicos a dizer disponível? Ou será a abundância de tempo ou ausência de sexo, a causa do acne tardio?

Self-respect sky rocket

- a menina não tem medo de apanhar uma pneumonia com esse decote?Está muito frio!
- e o meu caro amigo não tem nada menos óbvio que fazer que olhar para o meu decote?- minha cara…a graça do seu decote reside na subtileza do mesmo!