quinta-feira, abril 24, 2008
segunda-feira, abril 21, 2008
A idade do suspiro...
A propósito do lançamento do novo CD da Mafalda Veiga, esta noite na FNAC, não pode deixar de pensar no lançamento do CD anterior e da forma como a vida, de forma por vezes quase dolorosa, nos ensina o que é melhor para nós, mesmo que à primeira vista nos pareça uma profunda estupidez.
Por graça ao longo dos anos, os amigos habituaram-se a ouvir-me dizer que “casaria” com o primeiro homem que gostasse de Mafalda Veiga. Como se de alguma forma essa partilha de gostos podesse ser extrapolada numa garantia de felicidade certeira.
Praticamente um ano depois, e muita água passada debaixo destas pontes que se foram construindo percebo o quanto é fácil querer cosntruir alicerces de betão armado feitos de açucar amarelo. Não dá. A paixão tolda raciocínios e embrulha os medos, disfarça as diferenças, mascára os defeitos que não queremos ver, mas quase nunca nos mostra a massa de que as pessoas são feitas.Poder-se-ia gostar de Mafalda Veiga, por uma tarde como ramo de flores entregue á saída do escritório a jeito de querer confessado, mas nunca se seria fã da mesma Mafalda, pelos mesmos motivos, até porque ai não haveria nada a aportar.
Ao mesmo tempo que se discute o amor e se vive a paixão consubstancio esta minha ideia de que o mesmo não é compatível com desculpas esfarrapadas de ausência de tempo, dinheiro ou simples disponibilidade mental O amor, genuino no sentido, não se compraz com pedidos de ausência para arrumar ideias, a casa ou do Impresso do IRS que está a atrasado. Na paixão não se podem mendigar afectos, carinhos, atenções, nem aceitar que nos neguem o direito de os dar, porque é isso que nos apazigua o pequeno coração. Nada é suficientemente rídiculo, patético, impossível, imaturo quando se esta apaixonado. Dizemos as coisas mais adolescentes a propósito de um sorriso que nos faz feliz e mais bonitas.Ainda que agora as circunstâncias da nossa vida não tenham uma dose de imprevisisbilidade tão grande, e por muito que convictamente acreditemos que já não há nada de novo a descobrir, reside na essência da paixão essa capacidade de nos surpreendermos, de nos deixarmos levar, de repetir comportamentos que pensavamos ter deixado para trás.
Antes namoravamos ás escondidas dos pais ...agora namoramos ás escondidas dos filhos e somos capazes de afectos desnorteados que envergonhariam qualquer um deles...e somos felizes.
A propósito da simplicidade e da forma como o amor nos reorganiza a agenda e os hábitos aqui fica um texto do Alvim, que ás vezes até me consegue fazer rir.
“Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é díficil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós."
Fernando Alvim
Por graça ao longo dos anos, os amigos habituaram-se a ouvir-me dizer que “casaria” com o primeiro homem que gostasse de Mafalda Veiga. Como se de alguma forma essa partilha de gostos podesse ser extrapolada numa garantia de felicidade certeira.
Praticamente um ano depois, e muita água passada debaixo destas pontes que se foram construindo percebo o quanto é fácil querer cosntruir alicerces de betão armado feitos de açucar amarelo. Não dá. A paixão tolda raciocínios e embrulha os medos, disfarça as diferenças, mascára os defeitos que não queremos ver, mas quase nunca nos mostra a massa de que as pessoas são feitas.Poder-se-ia gostar de Mafalda Veiga, por uma tarde como ramo de flores entregue á saída do escritório a jeito de querer confessado, mas nunca se seria fã da mesma Mafalda, pelos mesmos motivos, até porque ai não haveria nada a aportar.
Ao mesmo tempo que se discute o amor e se vive a paixão consubstancio esta minha ideia de que o mesmo não é compatível com desculpas esfarrapadas de ausência de tempo, dinheiro ou simples disponibilidade mental O amor, genuino no sentido, não se compraz com pedidos de ausência para arrumar ideias, a casa ou do Impresso do IRS que está a atrasado. Na paixão não se podem mendigar afectos, carinhos, atenções, nem aceitar que nos neguem o direito de os dar, porque é isso que nos apazigua o pequeno coração. Nada é suficientemente rídiculo, patético, impossível, imaturo quando se esta apaixonado. Dizemos as coisas mais adolescentes a propósito de um sorriso que nos faz feliz e mais bonitas.Ainda que agora as circunstâncias da nossa vida não tenham uma dose de imprevisisbilidade tão grande, e por muito que convictamente acreditemos que já não há nada de novo a descobrir, reside na essência da paixão essa capacidade de nos surpreendermos, de nos deixarmos levar, de repetir comportamentos que pensavamos ter deixado para trás.
Antes namoravamos ás escondidas dos pais ...agora namoramos ás escondidas dos filhos e somos capazes de afectos desnorteados que envergonhariam qualquer um deles...e somos felizes.
A propósito da simplicidade e da forma como o amor nos reorganiza a agenda e os hábitos aqui fica um texto do Alvim, que ás vezes até me consegue fazer rir.
“Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é díficil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós."
Fernando Alvim
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