sábado, março 01, 2008

Perfect Day




O dia hoje foi um bolo de camadas. Cada uma com o seu cheiro próprio, a sua temperatura, o seu sol, a saborosa calmaria e o pequeno stress controlado. Teve um despertar atribulado mas seguido de um belo pequeno almoço retemperador, com o sol pela cara, a melhor vista que se ambiciona: o sorriso e a alegria da minha filha. As canções na sua boca irrequieta, as suas perguntas inquietantes, as suas ideias tão próprias.

Dançou-se muito. Houve direito a baloiço partilhado e abraços apertados. Tão apertados que se mantêm.

Terminou com uma belissima aula de culinária, dada por uma menina, que mais parecida comigo do que alguma vez imaginei, é pelo menos, mais destemida na cozinha.

Aqui fica o projecto "Biscoito", com um atraso de dias.


Alguém sabe como se alimentam as Joaninhas?

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

February

Para terminar em grande

Prefácio de "O Retrato de Dorian Gray"

"O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão das coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.Aqueles que encontram belas significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança.
São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A antipatia do século XIX pelo Realismo é a raiva de Caliban ao ver a sua cara no espelho.
A antipatia do século XIX pelo Romantismo é a raiva de Caliban por não ver a sua cara no espelho.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito.
Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.O pensamento e a linguagem são para o artista instrumento de arte.O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é a arte do músico.
Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão do actor.Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu.O mesmo sucede àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.

Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.Toda a arte é absolutamente inútil."

PS: Obrigada.

Lugar reservado no Funicular

Sempre gostei da Bica. Tem uma vista simpática, uma quotidiano rico, caras sorridentes, boa música e gente bonita. Há já algum tempo que escolhi a Rua da Bica de Duarte Belo, como a minha soleira da porta, quando decido que é tempo de sair e ver mundos, rir e beber um copo de vinho.
De início parava pela Bicaense, um lugar sempre bem composto, com boa música e pessoas que, na sua maioria conseguiam ter conversas interessantes, comuns, cheias.
Ultimamente, contudo, descobri que o Funicular me assenta melhor. É mais neglige, mais desprendido, mais sólido e reúne algumas coisas que me fazem escolhe-lo como o meu bar de eleição para carregar baterias antes de descer a rua e regressar ao Jamaica ou ao Tóquio, que para mim, são depósitos de memórias, caras e costumes, feitos em compotas de boa música. A música, a par com as pessoas, são o que me faz escolher um bom sitio. Claro que, o facto de se poder fumar também me faz por de lado qualquer consideração mais tonta a respeito do facto de o espaço ser pequeno, ou a rua demasiado larga para tanta gente.
Ontem, de volta ao Funicular para ouvir um amigo DJ, a colocar música, deparei-me com as Tertúlias Informais. Um espaço, onde amigos, estranhos, figurinhas de passagem e cromos colados á mobília partilham o gosto pelas palavras, na forma de poemas, de textos, de conversas, de debate, de exibição, de exibicionismo ou simplesmente de desabafo.
Tive sorte…a escolha da noite caia me bem. Depois do “Cântico Negro” de José Régio declamado por João Villaret, (o primeiro poema que decorei na minha vida, numa noite de Verão de 1990, e com o qual arrecadei um beijo cinéfilo só possível por um adolescente profundamente enamorado), seguiu-se a leitura do Prefácio do Retrato de Dorian Grey de Óscar Wild, brilhantemente lido, em versão original por um rapaz simpático a quem gosto de chamar Tejo. Apareceu Alberto Caeiro, de novo José Régio, á discussão com Adolfo Luxúria Canibal, a cuscar sobre Sidharta e tantos outros.
Quem entrava acabava por ficar e aprender um pouco mais a troco de nada, e todos se enchiam (alguns a custo de muitos copos) de uma leveza e do ar contente de quem descobre uma pequenina coisa nova que nos surpreende.
No Funicular é assim ás Quintas-feiras.
Numa altura em que começava a pensar que as pessoas interessantes ou melhor pondo, que a mim me interessam, tinham desertado para algum canto recôndito da Ex-URSS, ou para o paraíso ficcional do Alasca, onde os homens crescem em árvores, fico contente de lhes ter apanhado o rasto.
Ás quintas, trazem os amigos, as entoações, as canções, as opiniões e a menos que o piso esteja demasiado molhado, há muitos ainda-desconhecidos-candidatos-a-amigos-ou-a-biblioteca-itenerante, para descer aquela rua com o apelo dos segredos, aos trambolhões.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Certezas sobre mim...

Um indivíduo que se quer coerente e equilibrado deve ter meia dúzia de certezas na vida e algumas manias muito próprias. Pensando, em conjunto com uns amigos sobre quais seriam aquelas que me identificam, chegamos às seguintes conclusões temporárias:

Escrevo como sinto, raramento edito e nunca releio nada que se destine a enviar/entregar alguém (exames, p.ex)
Ainda que saiba o nome correcto digo sempre “tosta mística” e raramente “tosta mista”
Tenho a mania de alterar ditados e provérbios, p.ex: “Chapa feita, chapa gasta” ou “presunção e água benta cada um toma a que pode”
Gosto de vespas coloridas
Não me sento nunca de costas para as portas;
Gosto de andar pela rua a cantar
Gosto de andar à chuva;
Tenho o hábito de colocar alcunhas a todos os amigos e colegas;
De inverno ...uso o cachecol até à hora de ir dormir;
Não Tenho cócegas
Adoro ténis All Star coloridos
Gosto tanto de comer caracóis como em miúda gostava de os colecionar;
Gosto de comer os caroços das cerejas;
Nunca termino completamente uma refeição...deixo sempre uma amostra no prato;
Gosto de Apanhar pirilampos
Adoro apanhar trevos de 4 folhas;
O meu gelado favorito é o Epá;
Adoro Chupa-Chups

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Transvision Vamp - Born To Be Sold

Saudades do Carnaval mais sexy de sempre. Claro que esta não era tão gira!!!
FMH Chicks!

domingo, fevereiro 24, 2008

Non, Je N'ai Rien Oublié - Charles Aznavour

O verdadeiro artista

Hier Encore

Ver esta noite o espectáculo de Charles Aznavour foi sem dúvida o melhor final para o triste, decrépito e patético filme dos últimos dois dias. O amor é aquela fórmula química que salva vidas, cria sonhos, vence batalhas e faz cada um de nós estar aqui, esta noite. Mas quanto mal cozinhado transforma-nos em seres feios, amargos, capazes das maiores maldades que nem o mais profundo desamor justifica.

No entanto, ás vezes o destino dá-nos pequenos bálsamos para reciprocar a alma, e mesmo a maior dor turva e suja, não resiste quando a arte nos cresce diante dos olhos.
Charles Aznavour é o perfeito exemplo dessa forma de arte. Num espectáculo que deixou o pavilhão atlântico de pé e suspenso á sua voz, mostrou que a idade, a velhice é um pormenor sem a mais pequena importância quando o que se faz, é acima de tudo aquilo que se é.
Dono de uma voz bonita e marcada, é acima de tudo um homem de palavras, um actor num roteiro de viagens que transportava todos a momentos únicos de vida. Estava ali como se se tratasse de um velho amigo á mesa de jantar, partilhando histórias, piadas. Ás lágrimas nostálgicas que corriam pela face de quase todos os que me rodeavam, grandes e pequenos, eram poeticamente limpas não por kleenex a jeito no bolso, mas pelo seu humor, a sua dança. Um homem capaz de compor e cantar uma canção com as mãos, é digno de uma profunda admiração.
A energia deste homem de 80 anos, bonito, elegante, leve e cheio de graça fazia qualquer D’zrt morrer de vergonha. Durante 2 horas fez-nos rir, cantar, lembrar e conquistou muitos jovens acompanhantes de senhoras de idade avançada que suspiravam em meteorito.

Eu, que tive a sorte de ficar na fila da frente, fiquei encantada com o seu sorriso e com a forma como junta as palavras, naturais, simples, e nos conduzia a todos com jeitinho. De vez em quando confesso que senti o sorriso dele em mim, que retribuí com as covas do meu queixo bailarino e aspirante a cantor.

Ainda que muito se perca quando não se entende o francês, a beleza da sua melodia e aquilo que transmite com a forma intensa com que se canta, traduz da melhor maneira, o porque de ter sido considerado uma das maiores figuras do século.