sábado, janeiro 12, 2008

Descobertas

O orgulho é o amigo imbecil e o amante cobarde.

Um conselho

Chateau Morange 2001 (white)
Appelattion Saint-Croix du Mont.

18 de Maio...de um ano qualquer


As palavras de Ian Curtis fizeram parte de um pequeno período da minha existência como punk rural nos idos finais dos 80. Ver CONTROL trouxe-me á memória longas noites de silêncio em pacto com uma profunda procura do significado das palavras e a descoberta da vida através dela.

A ausência de um sorriso em todas as imagens que lembro ter visto dele, sempre me suscitou um brutal respeito pela sua angústia que tão bem retrata este filme. Uma bela interpretação de Sam Riley, mais que explicar quem era este rapaz calado por fora, abre um sem número de perguntas que justificam novas incursões pela sua escrita.

No dia 18 de Maio de 1980 decidiu que a vida, a carreira e o amor não lhe davam combústivel suficiente para aguentar uma doença incapacitante e a tremenda dificuldade de fugir aquilo que queria acreditar.

18 de Maio é um dia tão bom como qualquer outro para morrer. Que o digam as minhas avós, que decidiram partir, ambas, no mesmo dia, aproximadamente à mesma hora, no ano 2007, em paises diferentes. Um bom dia, também, para cair da cama antes mesmo de se deitar nela.

Se calhar foi isto mesmo que pensou este miúdo perdido...


IN A LONELY PLACE


"Caressing the marble and stone

Love that was special for one

The waste in the fever I heat

How I wish you were here with me now


Body that curls in and hides

Arches that often delight

Warm like a dog round your feet

How I wish you with me now


Hangman looks round as he waits

Cord stretches tight then it breaks

Someday we will die in your dreams

How I wish were here with you now"

quarta-feira, janeiro 09, 2008

mafalda veiga cada lugar teu ao vivo

"Amor " de António Mega Ferreira

«Algum dia eu haveria de entrar na normalidade dos que te amam. Amo-te. E dói escrevê-lo (que é pior, meu amor, do que dizê-lo). Amo-te, absoluta, impossível e fatalmente. E ouço, adolescente, uma música adolescente, para me lembrar de ti, porque lembrar-me de ti é lembrar-me que não consigo esquecer-te. E ouço música porque ouvimos música quando amamos, e tudo, no amor, é música, acústica da alma que se quer ser devorada, e, neste caso, dor (tão deliciosamente insuportável) de amar sem sequência nem expectativa de contrapartida, amar unicamente o puro objecto que desgraçadamente amamos. Isto é uma carta de amor, e é possivelmente ridícula (prova maior de que é, realmente uma carta de amor), ou porque perdi o hábito de as escrever, ou porque nunca tive a coragem de as enviar.
«Não percebes porque é que não te falo? Ainda não percebes que, na personagem que de mim eu enceno, não cabe a ameaça de uma derrota, a antecipação do desencanto, a sombra de um vexame? Não te falo, para não saber que o que eu te digo é apenas a forma contida de te dizer outra coisa, mas que essa coisa não é do teu mundo, nem do mundo que eu construí, nem do precário mundo que a nossa fragilíssima ternura mútua arquitectou. E tudo isto é literário, eu sei, mas – que queres? -, a literatura é o melhor de mim e é o melhor de mim que vive dentro da minha cabeça quando estou contigo.
«E depois, afastamo-nos. Beijo-te a correr, não sei se já reparaste, e quase fujo, porque sair do pé de ti é regressar ao que não és tu, o teu olhar e as tuas mãos, a tua alma e a tua voz, e isso, meu amor, transformou-se no insuportável intervalo entre dois encontros.
«Esta carta de amor é um excesso (e isso prova superiormente que é uma carta de amor): eu amo não a ideia de amar-te (durante muito tempo, eu julguei que era apenas isso), mas a ideia de perder-me no meu amor por ti. E mesmo amar-te é um excesso, porque tudo aconselharia que eu me limitasse a mitificar-te, que é a melhor forma de evitarmos enfrentar a realidade.
«Porque a realidade, aqui, é como uma dor difusa, tu sabes como é, um incómodo ainda não localizado, que progressivamente se vai definindo e acertando, até que, insuportavelmente nítida, a sua imagem se nos impõe como uma evidência. A minha dor é que eu comecei a amar-te, sem o saber, durante aquele breve período de tempo em que sair de casa era a promessa reconfortante de ver-te e falar contigo. Eu não sabia, repito, mas o tempo ajudou-me a definir essa pequena dor, tão secretamente pavorosa: cada vez que estou contigo (cada vez mais, meu amor, cada vez mais) é como se a minha vida se virasse do avesso. E é verdade, é cada vez mais verdade, que, quando penso nas coisas que ainda me falta fazer na vida, é em ti que penso. E tenho medo, como um animal que instintivamente foge do que sabe não poder atingir.
«Eu penso em ti, ainda mais do que te digo, e tu estás em tudo, mesmo quando não te penso, tu és a grande razão, o horizonte sem nome que constantemente se desenha na minha imaginação de mim.
«Há uns anos, este seria o momento de desmontar o discurso desta carta, de te mostrar os subtis mecanismos da alma e da máscara, de desdizer ironicamente o que já disse, de insinuar que, afinal, as-coisas-talvez-não-sejam-exactamente-assim. Mas as coisas são exactamente assim, e a carta, que poderia transformar-se num confortável exercício paródico, é, inevitavelmente, uma agonia e um embaraço. Esta carta é um acto de puro egoísmo, que eu até talvez nem tivesse o direito de praticar. É-te incómoda, necessariamente, e isso bastaria para que eu me abstivesse de a enviar, dentro de um envelope azul. Mas o azul fica-te tão bem, e as cores todas ficam em ti como tu ficas no mundo: exactamente.
«Mas, repito: esta carta é um acto de puro egoísmo, é como se não tivesse destinatário. E, no entanto, é preciso enviá-la, para que seja uma carta de amor, para que faça sentido como carta. Para que seja amor. Mas podemos imaginar uma saída elegante: para que possas conservá-la como pura carta de amor, quero eu dizer, sem o embaraço de saberes que ela te foi escrita por alguém que não amas, não a assino. Dou-te tudo: até a hipótese de esta carta não ter sido escrita por mim.
«(E não, esta carta não pode ter sido escrita por mim. És tu – em mim – que me faz escrever o que eu não escrevo. E isso é – de novo – o melhor de mim.)»

A morte saiu á rua num dia assim....

No início de um ano que que trouxe tantas mortes e perdas para tantos nós, que se ressente injusto pela natureza da vida e nos deixa quase sem folêgo para inspirar tudo o que ainda há para vir, deixo aqui umas palavras de conforto, escritas pela Luisa Castel-Branco e que encontrei, por puro acaso (ou talvez não) num banco de Jardim onde sentei a alma para deixar a dor descansar.

"Dizer adeus"

Dizer adeus naquele momento parece ser o mais doloroso. A missa, as pessoas em lágrimas, nós em lágrimas, os rituais, os abraços e uma vez mais as lágrimas. Mas afinal, a morte não é isso, nem a partida do corpo nem as despedidas sentidas é tudo o resto, todos os dias que sobram.
Segue-se um vazio tremendo, de vez em quando até esquecemos que a pessoa já cá não está, entre nós, e introduzimo-la na conversa, nos momentos do dia-a-dia. Até que nos damos conta que não é assim. Resta então essa imensa capacidade que temos de sobreviver, de tomar fôlego e andar em frente, mas não estamos sós, porque ao nosso lado, bem ao nosso lado, vai uma sombra a par.
A morte nunca é justa, tal como a vida não o é. E é nessa depuração das tristezas e dos ressentimentos, que vamos fazendo o caminho. Mas amar, das mais diferentes formas que o amor toma, é sempre um bálsamo para a alma. Mesmo que naquele momento só signifique mais dor, a verdade é que ninguém morre enquanto houver uma única pessoa que o relembro com saudade. A memória é uma bênção dos deuses. É aí que vamos buscar o alimento para a vida, e é aí que guardamos o que foi e já não é.
A amizade é a outra forma do amor, e dá-la e recebê-la torna-nos seres humanos muito melhores. É isso que significa envelhecer. É ver partir, chorar e depois sorrir com as lembranças e sempre que possível, dizer a alguém o quanto gostamos, o quanto essa pessoa é importante para nós. O que podemos ambicionar é que a idade nos leve o pudor das palavras e nos dê maior dimensão à alma."

in Destak 4.12.07

terça-feira, janeiro 08, 2008

Presente de dia de reis....

Como quem sai aos seus...não é de Genebra... a minha Pilarência também terá que usar óculos. Ontem fomos as duas num programa altamente feminino, que incluiu cabeleireira, compra de sapatos e escolha dos óculos, era vê-la feliz a saltitar pelo centro comercial e a desejar a todos os que passavam um Ano Novo muito feliz. Mas feliz, feliz, mesmo feliz fiquei eu com um presente sem laço que me deu no meio do nada:

- Mãe, estou tão feliz por usar óculos. Sempre quis usar óculos.
- Ainda bem, mas porque motivo sempre quiseste usar óculos?
- Para ficar igual a ti.
- igual a mim, porque?
- Dah...porque mãe, tu és a pessoa mais bonita do mundo e quando crescer quero ser como tu!!!

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Rua do Quelhas

"Morre-se devagar neste país
onde é depressa a mágoa e a saudade
oh meu amor de longe quem me diz
Como é a tua sombra na cidade

Morre-se devagar em frente ao Tejo
repetindo o teu nome lentamente
cintura com cintura, beijo a beijo
e gritá-lo, abraçado, a toda a gente

Morre-se devagar e de morrer
fica a cinza de um corpo no olhar
oh meu amor a noite se vier
é seara de nós ao pé do mar."

António Lobo Antunes