sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Last call: Saturday on a bench by the star, facing the garden.

Théophile Gautier disse que “amar é admirar com o coração, e admirar é amar com o cérebro.”

Citado In “Estamos todos tão sozinhos” de Paulo Nogueira

Parei nesta frase porque me fez pensar. Automaticamente recapitulei as pessoas da minha vida, enumerando-as uma por uma num escrutínio vagaroso e crítico. O que fora que prendera tanta gente na gaveta das minhas memórias que em dias se atravanca a tal ponto de estravasar para a prateleira inferior, aquela que cai aos nossos pés quando sem pensar abrimos a porta de rompante, sem nada concreto a procurar?
Desde pequena que me deixo prender ás palavras dos outros. Desde muito pequena creio, porque recordo os boletins de avaliação da minha professora da primária no qual sempre referia aos meus pais, a estranha atitude da criança que preferia ler na sala ou ouvir a conversa dos adultos a brincar ao elástico ou à apanhada. Se não me falha a memória, deveria ter cerca de 10 anos quando “amei com o cérebro” pela primeira vez. Lembro o meu espanto e fascínio ao ouvir Miguel Torga a falar de trivialidades talvez, enquanto comia pastéis de bacalhau e bebia um copo de vinho verde, no café da rua que os meus pais frequentavam. Era um senhor, médico segundo sabia na altura que escrevia livros, dissera-me a minha mãe. E eu, sentada num banco alto de um balcão corrido tamborilava os pés na bancada, horas a fio num silêncio que assustava quem conhecia a minha incapacidade de estar calada. Ele falava bem. Era bonito, mas era a escolha das palavras como se fossem pedacinhos de ar multicolor que me prendia a respiração e soltava o espanto.
À medida que comecei a ler e a escolher os meus escritores favoritos confessava-me, ambiciosa, mas em segredo, que era uma escritora. Anos mais tarde, na minha pré-adolescência a minha mãe informava o velho escritor que eu também escrevia. Ele, olhando simplesmente para mim, disse: - fazes bem! Não entendi na altura porque um homem que tratava a literatura por tu, se bastaria numa frase tão simples, para tristeza do meu espírito candidato a novelista.

Com o tempo percebi que escrever era apenas uma necessidade como dormir, comer ou ter sexo. Faria parte de mim apenas porque era algo que não conseguia evitar.
Gosto de palavras. De palavras bonitas, de palavras como pessoas com personalidade, qualidades e mau feitio.
Gosto de conversar. Gosto de ouvir e aprender. Gosto de me prender. Esqueço com facilidade os rostos e os trejeitos das pessoas, mas registo em pedra dura, qual mandamento aquilo que outros me contaram ou ensinaram. Citações, títulos, estórias, segredos e desabafos.
Gosto tanto de conhecer pessoas pelas suas palavras que confesso que por diversas vezes me senti reticente em passar, neste universo blogosférico ou virtual, á presença física das pessoas. Tenho, nas minhas relações um pânico atávico de ficar sem assunto, de cair num silêncio ensurdecedor da falta de vontade de contar, de partilhar, de ensinar e aprender. Ficarmos mudos entre olhos sem saber, ou pior, sem querer comunicar.
Há quem assuma o medo nas suas relações amorosas da velhice, das doenças, da falta de pica para fazer amor, do corpo cansado e sem jeito. De dois velhos sentados a ver a vida a passar em flashback. A mim, assassina-me a imagem de um casal sentado numa esplanada a jantar em profundo silêncio, ou pior, com cada um a ler o seu livro.
Comer também é para mim falar. Deixar entrar e sair assuntos entre garfadas, que não raras vezes apenas servem de pretexto. O sublime? A boa companhia de uma longa conversa acompanhada de um vinho bailarino e sedutor, entre sussurros de uma comida feita com amor e acima de tudo com prazer.

De novo verifico que a minha teoria está correcta. É o amor do cérebro que perdura e tantas vezes só a custo se deixa matar. O do corpo envelhece, esbate-se como as fotografias fechadas num álbum no fundo do baú no alto do sótão. Talvez, para mim, seja a presença do objecto de paixão a evitar, para que não se me baralhe os sentidos do tacto e do cheiro.

Prometo que não ficaremos sem assunto, mesmo antes de ficarmos sem vida.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Poesia

(Não sei se é filho de peixe, mas sem dúvida sabe versar.)

“Poesia é magia.
É o segredo da vida.
Vem comigo,
descobre
O sentido da vida.

Gosto de poesia,
Dá-me alegria.
Sem poesia
O mundo não existia.

Poesia, poesia
Magia, magia.”

João Guilherme , 9 anos

Segundo ele "dedicado aos grandes compositores e poetas, importantes e normais. Aproveitem a vida!"

Um conjunto de Enochatos? Naaaaaaaaaa


Braga tem os seus 5 P’s e eu consigo reunir 3.
Continuo a achar que o vinho é um excelente amigo. É, sem dúvida um daqueles amigos que, regra geral, nos apresenta outros amigos que com eles trazem outros vinhos. E não serve apenas para afogar as mágoas porque essas nadam melhor que o Phelps.(Piada à la P).


É sempre bom conhecer pessoas que gostam de vinhos. Pessoas que, com prazer se reúnem a uma mesa e falam de vinhos, com uma capacidade de partilha que nos permite sempre aprender, nessa troca de experiências e opiniões.

Não é preciso utilizar palavras que custam caro aos ouvidos dos outro, nem subir ao alto do poleiro para mostrar que a cauda estonteante dos nossos conhecimentos enófilos.


Recentemente tive o prazer de á volta dos vinhos, passar um dos serões mais agradáveis de muito tempo. Conheci gente gira, capaz de gargalhada solta, na proporção correcta do non sense, com graça no trato e capazes de no vinho serem sinceros e dados.

Estes foram os vinhos provados, mas para notas de prova sugiro uma incursão pelo
Blog de um enófilo com estilo.

Muachos Garrafeira 2003
Esporão Syrah 2005
Crios Malbec 2005
Altano Reserva 2005
Quinta de Saes Reserva Estágio Prolongado 2006
Quinta do Valdoeiro Touriga Nacional 2007
Terra a Terra Reserva 2005
Romaneira 2004
(3º P: ficas de castigo pelo comment. Risos)

Gosto de ti por defeito, mas quero-te por convicção...

"E que convicção! Fiz de ti razão da minha dorzinha de alma, sem sequer te querer amar. Mas quero-te. Quero-te tanto porra! Quero-te na mesma medida do meu silêncio e no oposto da espera. Quero-te como quem quer um último cigarro que sabe de morte, quero-te como quero a noite ruidosa dos passos que te afastam de mim. Fujo de ti, contrariando os meus pés desassossegados que teimam em seguir-te. Quero-te com raiva e com vontade de matar. Vontade de te comer em mim na medida em que me vivo.
De tanto te querer odeio-me. Odeio o tempo suspenso do grito que não dei, do murro que não cobrei. Odeio rever-te por toda a parte onde só eu estou.
E quero-te, pela noite dentro. Quando os teus olhos que não vejo, me olham escondidos. E eu sei que és tu. Sinto-o tantas vezes pelas costas. O braço que não se pôs.

Assumir o erro é coisa de gente grande. É prémio de quem na vida já aprendeu a separar o trigo do joio que é como quem diz, o essencial do acessório. Amanhã poderemos estar mortos e o que faremos com o que ficou por dizer e fazer? Não nos irá aquecer mais que a terra que pesará sobre nós.
Aprendi ás minhas custas que há alturas na vida, que devemos parar e partir a loiça. Ouvir aquilo que apenas imaginamos para que isso permita espoletar (obrigada P.) os mecanismos mentais de sobrevivência, a raiva, a tristeza, o luto que servem de vassouras para limpar o que tem que ficar.
Eu, por mau feitio e quando algo me cheirou a esturro, em vez do confronto optei por sair de soslaio, sem contudo dizer tudo aquilo que me queimava na boca. A verdade é que tonalidades de cinzento não clarificam o meu dia-a-dia e eu não sei ficar só porque isso é o oposto de ir embora. Eu fico sim, quando a minha presença é requerida. Quando sou eu e não qualquer outro individuo que tem um lugar marcado à mesa.
Assim, guardei para mim os afectos, rumei de novo á minha vida a meio e por lá fiquei a tentar perceber. Erro crasso. Há coisas que não são para se perceber, mas apenas para esquecer e isso eu ainda não aprendi.

Por isso ainda te quero! Por isso escrevo o que me vai na alma e tu, no alto do teu lugar cativo absorves a massagem ao ego. A mulher que se esmifra no que sente, no rídiculo da ambição, barata e simples de estar bem, faz o teu dia mais alegre por seres tu quem ela quer?Por ser a lembrança dos dias coisa farta que ocupa o lugar de quem merece?
Tu não. Tu não erras. Tu não és assim. Tu tens dignidade e amor e mulheres e vícios que te ocupam. Tu não queres saber do dar por dar, porque é bom e faz sentido e sabe bem.
Tu és homem. Tu partes inteiro e não deixas pedaços pelo chão. Tu não amas. Tu gostas. E gostar é uma questão de modas. Tu fechas a porta sem olhares para trás.
Eu errei...assumo. Errei e erro todos os dias quando te acercas à minha memória. Erro em todos os momentos em que revivo as coisas boas, simples quentes e a ausência da despedida.
Mas dar-te-ei sempre o benefício da dúvida. Porque sou assim. Rídicula, romântica, cativa da capacidade de surpresa. Mesmo com todos os erros e todos os defeitos. Porque por defeito, Gosto de ti."

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Orangotang

Gosto de ti...


Tenho uma embirração de estimação pelo dia de São Valentim.(ergue-se o coro à voz pequena a chamar-me nomes tão bonitos como “ressabiada”, mal amada, mal ...).
Custa-me a aceitar o amor com marcador de agenda, a foleirice de esfregar na cara de outro(s) que se tem um mais que tudo.
Eles e elas aproveitam para comparar afectos, com base na carteira alheia ou na enorme imaginação roubada em qualquer publicação. A única vez que festejei a data tinha 16 anos e no mesmo dia, deixei de ter motivos para o festejar,mas no entretanto lá recebi o tradicional bouquet de rosas vermelhas. Contudo, ao longo da vida e em tantas outras épocas do ano, já fui presenteada com dezenas de prendas e surpresas que fariam corar de vergonha qualquer Valentim a soldo em agência de Publicidade.

Amigos e amigas andam num desassossego com os preparativos do dia 14. Elas em pulgas a comprar lingerie, a aprender a dança do varão ou a marcar mesa em restaurantes sofisticados da moda e eles desvairados a imaginar o que lhes vão dar, receosos do risco que correm se por azar do destino ou má conselho da menina da perfumaria errarem na escolha. (Nota: elas não sabem o que querem, por isso irão sempre colocar defeito...pelo menos ao ouvido da amiga).

A mim, ambos, pedem ajuda para escrever declarações de amor que colocarão nos postais com imagens de ursinhos abraçados ou fins de tarde em praias paradisíacas que muitos nunca visitaram ou irão sequer fazê-lo juntos. Eu, confesso, assumo o papel de mercenária do amor. Escrevo sinceramente sobre um amor, ou vários amores. Porque de amor se tratando, correspondido ou não, já muitas latas de tinta fiz correr. Já recebi muita carta de amor e já escrevi outras tantas, na sua maioria sem que o destinatário tivesse qualquer participação nesse momento de afectuosidade criativa. Já escrevi sobre todos os tipos de amor e este blog faz prova disso. Do amor próprio, do amor aos filhos, incondicional e severo, do amor apaixonado, do amor comovido, do amor incorrespondido, do amor à distância, acima de tudo, do amor por defeito.

Lamento contudo, que o “amor” que une todas estas pessoas que me pedem palavra, não tenha linguagem própria ou citação adaptável escolhida por quem realmente quer mostrar-se ,assim despido de pré-conceitos, de vergonhas, numa nudez de sentimentos que só nos pode tornar mais amavéis.
Eu, por mim, continuo a preferir as declarações cheias de erros ortográficos e palavras desadequadas, nas quais reveja o valor daquilo que sou ás mãos do outro.

Pensando bem eu troco todas as palavras pelo silêncio da boca no avesso das palavras.

Nota: Apesar da embirração não quero deixar de contribuir de forma mais alargada, para que todos os visitantes do blog, caso necessitem, possam inspirar-se na propagação dos amores e como prova disso cá fica um amor com “fairplay”.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Quem tem vergonha passa mal...

"Ser feliz por momentos é algo de que não se deve ter vergonha. Momentos que o fim torna rídiculos. A felicidade, como o amor, é um sentimento ridículo. Mas a felicidade, como o amor, só é ridícula quando vista de fora. A felicidade, como o amor, só é ridícula antes ou depois de si própria.

A felicidade são momentos que, no seu presente fugaz, são mais fortes do que todas as sombras, todos os lugares frios, todos os arrependimentos. Ser feliz em palavras que, durante essa respiração breve, mudam de sentido. E nem a forma do mundo é igual: o sangue tem a forma de luz, as pedras têm a forma de nuvens, os olhos têm a forma de rios, as mãos têm a forma de árvores, os lábios têm a forma de céu, ou de oceano visto da praia, ou de estrela a brilhar com toda a sua força infantil e a iluminar a noite como um coração pequeno de ave ou de criança.

Momentos que o fim torna ridículos. Momentos que fazem viver, esperando por um dia, depois de todas as desilusões, depois de todos os arrependimentos e fracassos, que se possam viver de novo, para de novo chegar ao fim e de novo a esperança e de novo o fim. Não se deve ter vergonha de se ser feliz por momentos. Não se deve ter vergonha da memória de se ter sido feliz por momentos."

José Luís Peixoto, in Uma Casa Na Escuridão