terça-feira, setembro 30, 2008

Um gajo normal


“I picture my epitaph: "Here lies Paul Newman, who died a failure because his eyes turned brown".”
Paul Newman

segunda-feira, setembro 29, 2008

Before is too late

Before It's Too Late

"I wander through fiction to look for the truth
Buried beneath all the lies
and I stood at a distance
To feel who you are
Hiding myself in your eyes

And hold on before it's too late
We'll run till we leave this behind
Don't fall just be who you are
It's all that we need in our lives

and the risk that might break you
Is the one that would save
A life you don't live is still lost
So stand on the edge with me
Hold back your fear and see
Nothing is real 'til it's gone

So live like you mean it
Love 'til you feel it
It's all that we need in our lives
So stand on the edge with me
Hold back your fear and see
Nothing is real 'til it's gone"

Goo Goo Dolls

domingo, setembro 28, 2008

Entre portas


Entre portas há silêncios. Entre portas há paz. Pela primeira vez em muito tempo, há neste espaço uma imensidão de sabores que se vão saboreando. Cada esquina, cada recanto, concede momentos que a pouco e pouco ajudam a construir um registo simpático, tranquilo, acolhedor.
Há na vida inúmeras razões para mudar. Inúmeras circunstâncias que nos moldam. Toneladas de experiências que em passos de segundos nos corrigem. Uma casa é um motor tão forte como qualquer amor, ou abraço desejado em desespero.
Hoje, essa casa é minha. Essa mudança é minha. A razão do meu silêncio.
Tem o meu cheiro a correr à mistura com as minhas vozes. A 3 a 4 ou a 6 decibéis de prazer. Está repleta de passados. Cheia de escolhas próprias que reflectem como espelho velho e amarelecido pelos milhares de olhares, aquilo que fui, aquilo que ambiciono ser e melhor ainda, aquilo que sou.
As ausências também têm um tecto aqui. Quando se fecha os olhos e entre cortados eles nos levam de volta a outras casas. Quando nos entre alma adentro as pernas por cima de tapetes que antes se pisaram. E ao rever vemos os livros que hoje se lê, as palavras desditas dos jornais de hoje. Os sorrisos ténues de certezas, esperança, de quem pensa noutras casas, noutros móveis, cheiros, pedaços de dia-a-dia espalhados.
É por isso que me escrevo. Para que daqui a muito tempo, também outros passos regressem aqui.

Fomes

Estava particularmente calada. Preocupantemente em silêncio. Olhava a linha do horizonte, ou a luz do pôr-do-sol, ou as velhas antenas do casario. Não faço ideia e isso preocupa-me. Veio calada, muda diria, todo o caminho até aqui. Tenho a sensação de falar para o boneco, um boneco que me intimida com o seu silêncio.

- Como te sentes?

Hesita por momentos, como se da sua resposta dependessem vidas. Como se as procurasse com cuidado no fundo da sua mala sempre desarrumada. Remexe-se na cadeira, respira. Abre a boca de mansinho mas cala.

- Exausta. Vazia. Tranquila. Arrumadinha como o quarto no momento seguinte á passagem do serviço de quartos. Esfomeada. Estou capaz de comer um boi.

Não consigo evitar rir ás gargalhadas. Daquelas cheias, a abarrotar de satisfação.

- Definitivamente estás diferente.
- Parece que me livrei das pedras que tinha entaladas na garganta e que impediam a passagem do susbstracto do corpo, da reles comidinha, do prazer. Sinto-me tão leve que preciso de comida para servir de lastro.

Sorria com vontade, enquanto virava o rosto e depositava o olhar no jovem sentado na mesa ao lado. Como se o visse pela primeira vez e gostasse do que os seus olhos lhe mostravam.

- Convido-te para jantar. Há que celebrar essa fome toda com algo substancial.
- De acordo. Mas escolhes tu. Aviso que estou com um apetite voraz.

Continuou calada toda a viagem. Não mudou a estação de rádio. Não se queixou do frio. Não reclamou do facto de não poder fumar..