“Entra. Dou-te a chave, não a original, mas o duplicado. Fecha a porta e abre-me a mim. Olha-me os pés para que te levante o rosto e consinta. Não digas nada. São as palavras que nos contagiam e agora, neste resto de tempo tentamos consertar o prazer. Será que as rotas do corpo se alteram? Seremos estranhos de novo?
Quem dera que sim. Que agarremos as nossas dúvidas á estranheza de uma primeira vez. De novo.
Desce as mãos pelas minhas costas e a boca pela minha nuca, ao de leve e desejeitadamente enquanto eu te chamo repetitivamente por qualquer nome que não o teu. Tacteia o prazer em mim como se não soubesses a taboada dos meus risos, dos meus gritos, do gemido varrido em mim. Como se cada respirar mais ofegante rebentasse comportas dentro de mim. Deixa-me desaguar em força até não ficar mais que um pequeno ribeiro primaveril onde salpicar os pés.
Desejo-te há muitos dias. Há tantos que não lembro quando te perdeste em mim.Guardei-te em segredo no fundo do bolso, dentro de um lenço florido de ingenuidade indelicada.
O amor que não dei sobra em mim. Sobra quando o desejo inflama a paixão ao pé da boca, a um passo dos olhos que não me deixam mentir. Eu viro o rosto e derreto-me na almofada, no rio, no escuro. Não me olhes. Se os teus olhos pousarem nos meus verás o avesso da história, a verdade que mata o mensageiro.
Eu sou Lisboa quando deixo ficar, só, por minutos que são anos contados.”
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