Um habitue anónimo desafiou-me a discorrer sobre a felicidade, defini-la ou desmontá-la.
No meu arquivo de conceitos vividos, a felicidade não é mais que o espaço que está entre aquilo que não se quer e o mais que se ambiciona.
A felicidade é um peixe de escamas luzidias mas escorregadias, que se pavoneia no lago de expectativas onde nos olhamos diariamente. Tenta-nos como se tenta um cão faminto a correr atrás do osso com restos de carne e nós, desejosos de poder dizer que é nossa, lá corremos, saltamos, nadamos e fazemos o pino atrás dela. No fim, esgotados, percebemos, com sorte, que nessa tentativa de agarrar a felicidade se desenvolveu em nós capacidades que melhoram a espécie.
A felicidade é a meca da existência.
Desde pequenos que nos ensinam que a felicidade é a maior conquista de um ser humano, mas que eu me lembre, nunca ninguém a soube agarrar e meter num frasco, para que lhe possamos medir a massa, a dimensão, a textura ou a consistência.
Consta que quanto mais se tenta agarrar a felicidade mais ela se espalha e contagia. É talvez um vírus. Mas como até os vírus têm critérios de propagação e nem todos nós sofremos de gripe na mesma escala, alguns há que não têm a sorte de uma baixa remunerada.
A beleza e o poder da felicidade reside no facto de não poder ser definida, desmontada, ou guardada numa caixa. É ser na realidade um conjunto de momentos kodak que cada um de nós guarda e que tantas vezes revê na esperança de repetir o momento.
A felicidade é pequenina como o grau de areia da ampulheta da vida, infinita como o segundo do abraço dos lábios opostos que se desejam como se não houvesse amanhã...efémera como o perfume da tília em noite de primavera, quebradiça como o cristal, valiosa como o diamante raro, única como cada um de nós.
Apesar de difícil de a enquadrar num conceito único que reúna consenso, cada um de nós sabe qual é o seu sabor, qual a cor, qual a magia.
A felicidade é amante de todos mas não é possuída por ninguém.
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