Entra.
Fecha a porta.
Não digas nada. Não penses.
Abre a janela e deita-te aqui.
Não digas nada.
Deixa as tuas mãos escreverem em mim.
Olha-me para além dos olhos e vê.
Deixa o teu nariz ler o mapa dos meus sentidos.
Rasga-me a pele,
desata o desejo e deixa-te estar.
Envolto em mim, embrulhado no meu suor,
nas pernas bambas,
nas tremuras quentes e doces do meu ser.
Deixa-me estar,
vê-me crescer para ti.
Não digas nada que o amanhã já foi.
Ouve as palavras do vento,
os risos dos pássaros
o desalento dos homens.
Agarra-me ao universo do que sou...
Deixa-me ficar no silêncio do meu nome.
O tacto das dores que se anseiam e dispersam em nós.
A energia do corpo que expele a história,
o episódio,
a série que se sucede.
Sem palavras...
só um desejo mudo de certezas,
parco de razões
sedento de paz.
Acaricia-me a boca
que despeja palavras
contextos em pedaços de nós.
Agarra a voz e deposita dentro de mim,
no fundo de mim
que se funde num nós
sem momentos.
Embala o abraço.
É tarde
Muito tarde...
Quiças tão tarde q pode esperar...
Só mais um minuto que não faz sentido
mas se sente...
Muito.
Dorme em nós.
Sonha sem legendas,
sem genérico de outras almas.
Acordo
Acordo
E volto a acordar..
E a porta...nunca se abriu
Não tem fechadura
e a rua já não existe..
Era uma memória doce e quente...
De um outro sonho.