Dou a mão à palmatória..
Soudtrack de sábado
sábado, janeiro 19, 2008
sexta-feira, janeiro 18, 2008
A menina?...dança
Há alturas na vida que percebemos que os nossos amigos, por muito que o sejam e gostem de nós, não nos conhecem, ou melhor, não nos conhecem como gostaríamos. Não o fazem por maldade. Tão pouco o fazem. Ás vezes, só, não nos percebem. Vêem aquilo que gostariam de ver. Aquilo que querem acreditar ser verdade.
Também não adivinham aquilo que não mostramos.
Também não adivinham aquilo que não mostramos.
É por isso que entendo a melhor atenção no gesto, aquilo que fazem por nós, na tentativa de nos verem um pouco mais felizes. Mas não entendo, quando não aceitam de bem, que queremos viver diferente, ser diferente, estar diferente.
Quando me convidam para um programa animado, que inclui por vezes, a apresentação de um amigo (sempre simpático, inteligente, giro, fabuloso, engraçado, carinhoso, atencioso, orgulhoso, trabalhador, imprevisto, paternal, animal…os amigos dos nossos amigos, são sempre o melhor partido, apenas porque como a nós, também os querem ver felizes, ou pelo menos... bem!) agradeço e fico contente, faz diferença, mas hoje, agora, neste momento, aos 32, prefiro ser eu a procurar o meu momento. A ficar só. Melhor, pior, á maré dos dias. A cavar a terra. A esgravatar. A descobrir. A reencontrar.
Nestes dias, já longos, em que se tenta perceber, conhecer, aprender a nossa cartilha tenho encontrado muitas pequenas grandes coisas. Coisas de somenos importância, talvez, mas bocadinhos de vida que parecem bombons. São EPÁ’s de formas, cores e sonoridades diferentes…um filme que revemos e nos enche o peito de cócegas, a última tablete de chocolate escondida no fundo do armário, o desespero do último cigarro, o livro que nos emociona, o velho amigo que se reencontra atrás da tela, a voz da rádio que nos transporta a outros tempos, a passados bons.
Nestes dias, já longos, em que se tenta perceber, conhecer, aprender a nossa cartilha tenho encontrado muitas pequenas grandes coisas. Coisas de somenos importância, talvez, mas bocadinhos de vida que parecem bombons. São EPÁ’s de formas, cores e sonoridades diferentes…um filme que revemos e nos enche o peito de cócegas, a última tablete de chocolate escondida no fundo do armário, o desespero do último cigarro, o livro que nos emociona, o velho amigo que se reencontra atrás da tela, a voz da rádio que nos transporta a outros tempos, a passados bons.
É por isso imprescindível que dance sozinha. Longe das luzes e dos cheiros de outros corpos. Da sensualidade profunda que cada um tem atrás da sua dança. Que fascina, encanta, preenche tantas vezes. Há poucos prazeres como ver alguém a conversar com a música com as mãos.
O vinho ajuda a soltar a língua presa na dor, e reverte-lhe os ponteiros e canta-se, alto e bom som, só para nós. Grita-se, ouvem-se risos, admira-se, encanta-se, chora, ri, canta.
Uma parte da vida em pause. Desligam-se os telemóveis. Escondem-se os relógios e vive-se. Sem plano, sem direcção. Deixamo-nos escorregar no vinho sossegado no copo e todo um caminho novo cresce.
A dor está lá. O vazio ri-se á ausência. Tenta-se evitar a lembrança ainda que ela seja como a garrafa perdida no meio do oceano, a surpresa do encanto da descoberta.
Equaciona-se o amor nas suas 323 formas, nos seus jeitos e gestos grotescos. Aceita-se, perdoa-se, desculpa-se. Tudo e todos. Por minutos ou para todo o sempre.
Por isso, meus amigos aceitem. Aceitem que estou triste e que isso é mesmo assim. Não é dramático, não mata, não me fará mal. Aceitem que também estou contente. Que me emociono comigo mesma, que assumo saudades de mim.
Aceitem que por hoje, tenho despedidas a fazer. Gavetas para arrumar.
Hoje espero. Só por hoje, espero.
Equaciona-se o amor nas suas 323 formas, nos seus jeitos e gestos grotescos. Aceita-se, perdoa-se, desculpa-se. Tudo e todos. Por minutos ou para todo o sempre.
Por isso, meus amigos aceitem. Aceitem que estou triste e que isso é mesmo assim. Não é dramático, não mata, não me fará mal. Aceitem que também estou contente. Que me emociono comigo mesma, que assumo saudades de mim.
Aceitem que por hoje, tenho despedidas a fazer. Gavetas para arrumar.
Hoje espero. Só por hoje, espero.
quinta-feira, janeiro 17, 2008
Olha o que me havia de sair na Rifa
"Rifa-se um coração quase novo.
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posiçõe
sarrependido de palavras e gestos.
este coração tantas vezes incompreendido.
tantas vezes provocado.
tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre
sorrisos tão largos que quase dá pra engolir
as orelhas, mas que também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração,
ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego,
surdo e mudo,mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusara cultivar ares selvagens
ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta."
Clarice Lispector
Um coração idealista.
Um coração como poucos.
Um coração à moda antiga.
Um coração moleque que insiste
em pregar peças no seu usuário.
Rifa-se um coração que na realidade está um
pouco usado, meio calejado, muito machucado
e que teima em alimentar sonhos e, cultivar ilusões.
Um pouco inconseqüente que nunca desiste
de acreditar nas pessoas.
Um leviano e precipitado coração
que acha que Tim Maia estava certo quando escreveu...
"...não quero dinheiro, eu quero amor sincero,é isso que eu espero...".
Um idealista...
Um verdadeiro sonhador...
Rifa-se um coração que nunca aprende.
Que não endurece, e mantém sempre viva a
esperança de ser feliz, sendo simples e natural.
Um coração insensato que comanda o racional
sendo louco o suficiente para se apaixonar.
Um furioso suicida que vive procurando
relações e emoções verdadeiras.
Rifa-se um coração que insiste em cometer
sempre os mesmos erros.
Esse coração que erra, briga, se expõe.
Perde o juízo por completo em nome
de causas e paixões.
Sai do sério e, às vezes revê suas posiçõe
sarrependido de palavras e gestos.
este coração tantas vezes incompreendido.
tantas vezes provocado.
tantas vezes impulsivo.
Rifa-se este desequilibrado emocional que abre
sorrisos tão largos que quase dá pra engolir
as orelhas, mas que também arranca lágrimas
e faz murchar o rosto.
Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado
por quem gosta de emoções fortes.
Um órgão abestado indicado apenas para
quem quer viver intensamente
contra indicado para os que apenas pretendem
passar pela vida matando o tempo,
defendendo-se das emoções.
Rifa-se um coração tão inocente
que se mostra sem armaduras
e deixa louco o seu usuário.
Um coração que quando parar de bater
ouvirá o seu usuário dizer
para São Pedro na hora da prestação de contas:
"O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo,só errei quando coloquei sentimento.
Só fiz bobagens e me dei mal
quando ouvi este louco coração de criança
que insiste em não endurecer e, se recusa a envelhecer"
Rifa-se um coração,
ou mesmo troca-se por
outro que tenha um pouco mais de juízo.
Um órgão mais fiel ao seu usuário.
Um amigo do peito que não maltrate
tanto o ser que o abriga.
Um coração que não seja tão inconseqüente.
Rifa-se um coração cego,
surdo e mudo,mas que incomoda um bocado.
Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda
não foi adotado, provavelmente, por se recusara cultivar ares selvagens
ou racionais,
por não querer perder o estilo.
Oferece-se um coração vadio,sem raça, sem pedigree.
Um simples coração humano.
Um impulsivo membro de comportamento
até meio ultrapassado.
Um modelo cheio de defeitos que,
mesmo estando fora do mercado,
faz questão de não se modernizar,
mas vez por outra,constrange o corpo que o domina.
Um velho coração que convence
seu usuário a publicar seus segredos
e a ter a petulância de se aventurar como poeta."
Clarice Lispector
terça-feira, janeiro 15, 2008
a amizade que se esfuma...
Arrumei os amores, é a primeira regra da vida – saber arquivá-los, entendê-los, contá-los, esquecê-los. Mas ninguém nos diz como se sobrevive ao murchar de um sentimento que não murcha. A amizade só se perde por traição – como a pátria. Num campo de batalha, num terreno de operações. Não há explicações para o desaparecimento do desejo, última e única lição do mais extraordinário amor. Mas quando o amor nasce protegido da erosão do corpo, apenas perfume, contorno, coreografado em redor dos arco-íris dessa animada esperança a que chamamos alma – porque se esfuma? Como é que, de um dia para o outro, a tua voz deixou de me procurar, e eu deixei que a minha vida dispensasse o espelho da tua?..."]--
[Inês Pedrosa, in "Fazes-me falta"]
[Inês Pedrosa, in "Fazes-me falta"]
segunda-feira, janeiro 14, 2008
-filho…é feio mentir. Já te expliquei que mentir nos pode magoar muito. E pior que isso, pode magoar quem gosta de nós.
- Mas os crescidos fazem-no. E eles são crescidos e já foram ensinados e fazem-no na mesma. E como são crescidos e mandam na vida, ninguém se pode zangar com eles.
- Claro que se pode.
- Eu acho que quando se começa a ficar velhinho, como tu se mente mais, diferente mas mais.
- Eu não estou a ficar velhinha…não digas isso.
- Estás. Por isso já é que tu mentes.
- Que te menti eu? Diz lá.
- Mentes quando fazes de conta que sorris. Que estás contente quando estás triste. Tens um sorriso faz-de-conta. E isso é enganar, por isso também é mentira.
Tenho o peito estremunhado. O silêncio encobriu o que não lhe podia dizer. É feio mentir…não só aos outros. Mas a nós próprios e a uma pequena extensão do nós.
- Mas os crescidos fazem-no. E eles são crescidos e já foram ensinados e fazem-no na mesma. E como são crescidos e mandam na vida, ninguém se pode zangar com eles.
- Claro que se pode.
- Eu acho que quando se começa a ficar velhinho, como tu se mente mais, diferente mas mais.
- Eu não estou a ficar velhinha…não digas isso.
- Estás. Por isso já é que tu mentes.
- Que te menti eu? Diz lá.
- Mentes quando fazes de conta que sorris. Que estás contente quando estás triste. Tens um sorriso faz-de-conta. E isso é enganar, por isso também é mentira.
Tenho o peito estremunhado. O silêncio encobriu o que não lhe podia dizer. É feio mentir…não só aos outros. Mas a nós próprios e a uma pequena extensão do nós.
Arquivos de cabeceira...
"É mesmo verdade que pensas atirar-te de uma janela?
- Oh, sim.
- Muitas vezes?
- Frequentemente.
- E o que é que te impede?
- Não é que eu queira morrer, é que quero viver... viver melhor. Quero que a vida seja melhor e assim compenetro-me que é melhor ficar viva por um pouco mais de tempo.
-Não morres.
-Isso foi também o que disseste no sonho.
-Então não posso enganar-me duas vezes em vinte e quatro horas.
-Diz isso outra vez.
-Não me posso enganar.
-Outra vez.-Não vais morrer.
-Uma última vez.
-Não vais morrer. Vais viver.
-Está bem. Obrigada. Adeus.
O que é?
- Estou a pensar que ainda te amo.
- A sério?
Apesar de?
- Apesar de."
Philip Roth, Traições
- Oh, sim.
- Muitas vezes?
- Frequentemente.
- E o que é que te impede?
- Não é que eu queira morrer, é que quero viver... viver melhor. Quero que a vida seja melhor e assim compenetro-me que é melhor ficar viva por um pouco mais de tempo.
-Não morres.
-Isso foi também o que disseste no sonho.
-Então não posso enganar-me duas vezes em vinte e quatro horas.
-Diz isso outra vez.
-Não me posso enganar.
-Outra vez.-Não vais morrer.
-Uma última vez.
-Não vais morrer. Vais viver.
-Está bem. Obrigada. Adeus.
O que é?
- Estou a pensar que ainda te amo.
- A sério?
Apesar de?
- Apesar de."
Philip Roth, Traições
domingo, janeiro 13, 2008
Matar o vício...
Os amores com defeito guardam-se durante muito tempo. Escondem-se na poeira das páginas dos livros emprestados, numa esperança secreta que um dia se possam compor.
Ainda que muito escangalhado o amor incompleto, que não se viveu até á exaustão fica pendurado atrás das portas e não se esquece. Não o podemos mandar dar uma volta ao bilhar grande. Ele regressa de cara cheia.
Ele é que se liberta de nós.
Primeiro parte o sabor. Vai-se embora o doce, num carreiro de formigas que vai do coração á barriga embrulhada de nós. O amargo ainda fica num longo final de boca.
Sorrateiramente o tacto sacode-nos e parte-se em cacos no vazio.
Depois, foge-lhe o cheiro e nem as gotas guardadas numa velha camisa nos valem.
Os nossos olhos zangam-se com a ausência e a memória teima em brincar ás escondidas. Como miúda de feitio ranhoso, esconde-se, e faz-nos aflitos a procurá-la por todos os cantos e debaixo dos colchões.
Desistimos de lembrar. Acalmamos e até ficamos contentes, mas como a ausência sustêm em nós as palavras ditas e reditas na nossa cabeça caímos de quatro ao ouvir a musica que nos deixa o amor em repeat.
Até que ele se canse. Se canse da nossa figura patética suspensa por um fio de esperança. E um dia parte e só deixa um recado:
Fui matar o vício, volto já.
Ainda que muito escangalhado o amor incompleto, que não se viveu até á exaustão fica pendurado atrás das portas e não se esquece. Não o podemos mandar dar uma volta ao bilhar grande. Ele regressa de cara cheia.
Ele é que se liberta de nós.
Primeiro parte o sabor. Vai-se embora o doce, num carreiro de formigas que vai do coração á barriga embrulhada de nós. O amargo ainda fica num longo final de boca.
Sorrateiramente o tacto sacode-nos e parte-se em cacos no vazio.
Depois, foge-lhe o cheiro e nem as gotas guardadas numa velha camisa nos valem.
Os nossos olhos zangam-se com a ausência e a memória teima em brincar ás escondidas. Como miúda de feitio ranhoso, esconde-se, e faz-nos aflitos a procurá-la por todos os cantos e debaixo dos colchões.
Desistimos de lembrar. Acalmamos e até ficamos contentes, mas como a ausência sustêm em nós as palavras ditas e reditas na nossa cabeça caímos de quatro ao ouvir a musica que nos deixa o amor em repeat.
Até que ele se canse. Se canse da nossa figura patética suspensa por um fio de esperança. E um dia parte e só deixa um recado:
Fui matar o vício, volto já.
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