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sexta-feira, fevereiro 27, 2009


"Meu amor, como ficaste,

Meu amor, como demoras."

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

“Entra. Dou-te a chave, não a original, mas o duplicado. Fecha a porta e abre-me a mim. Olha-me os pés para que te levante o rosto e consinta. Não digas nada. São as palavras que nos contagiam e agora, neste resto de tempo tentamos consertar o prazer. Será que as rotas do corpo se alteram? Seremos estranhos de novo?
Quem dera que sim. Que agarremos as nossas dúvidas á estranheza de uma primeira vez. De novo.
Desce as mãos pelas minhas costas e a boca pela minha nuca, ao de leve e desejeitadamente enquanto eu te chamo repetitivamente por qualquer nome que não o teu. Tacteia o prazer em mim como se não soubesses a taboada dos meus risos, dos meus gritos, do gemido varrido em mim. Como se cada respirar mais ofegante rebentasse comportas dentro de mim. Deixa-me desaguar em força até não ficar mais que um pequeno ribeiro primaveril onde salpicar os pés.
Desejo-te há muitos dias. Há tantos que não lembro quando te perdeste em mim.Guardei-te em segredo no fundo do bolso, dentro de um lenço florido de ingenuidade indelicada.
O amor que não dei sobra em mim. Sobra quando o desejo inflama a paixão ao pé da boca, a um passo dos olhos que não me deixam mentir. Eu viro o rosto e derreto-me na almofada, no rio, no escuro. Não me olhes. Se os teus olhos pousarem nos meus verás o avesso da história, a verdade que mata o mensageiro.
Eu sou Lisboa quando deixo ficar, só, por minutos que são anos contados.”

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Last call: Saturday on a bench by the star, facing the garden.

Théophile Gautier disse que “amar é admirar com o coração, e admirar é amar com o cérebro.”

Citado In “Estamos todos tão sozinhos” de Paulo Nogueira

Parei nesta frase porque me fez pensar. Automaticamente recapitulei as pessoas da minha vida, enumerando-as uma por uma num escrutínio vagaroso e crítico. O que fora que prendera tanta gente na gaveta das minhas memórias que em dias se atravanca a tal ponto de estravasar para a prateleira inferior, aquela que cai aos nossos pés quando sem pensar abrimos a porta de rompante, sem nada concreto a procurar?
Desde pequena que me deixo prender ás palavras dos outros. Desde muito pequena creio, porque recordo os boletins de avaliação da minha professora da primária no qual sempre referia aos meus pais, a estranha atitude da criança que preferia ler na sala ou ouvir a conversa dos adultos a brincar ao elástico ou à apanhada. Se não me falha a memória, deveria ter cerca de 10 anos quando “amei com o cérebro” pela primeira vez. Lembro o meu espanto e fascínio ao ouvir Miguel Torga a falar de trivialidades talvez, enquanto comia pastéis de bacalhau e bebia um copo de vinho verde, no café da rua que os meus pais frequentavam. Era um senhor, médico segundo sabia na altura que escrevia livros, dissera-me a minha mãe. E eu, sentada num banco alto de um balcão corrido tamborilava os pés na bancada, horas a fio num silêncio que assustava quem conhecia a minha incapacidade de estar calada. Ele falava bem. Era bonito, mas era a escolha das palavras como se fossem pedacinhos de ar multicolor que me prendia a respiração e soltava o espanto.
À medida que comecei a ler e a escolher os meus escritores favoritos confessava-me, ambiciosa, mas em segredo, que era uma escritora. Anos mais tarde, na minha pré-adolescência a minha mãe informava o velho escritor que eu também escrevia. Ele, olhando simplesmente para mim, disse: - fazes bem! Não entendi na altura porque um homem que tratava a literatura por tu, se bastaria numa frase tão simples, para tristeza do meu espírito candidato a novelista.

Com o tempo percebi que escrever era apenas uma necessidade como dormir, comer ou ter sexo. Faria parte de mim apenas porque era algo que não conseguia evitar.
Gosto de palavras. De palavras bonitas, de palavras como pessoas com personalidade, qualidades e mau feitio.
Gosto de conversar. Gosto de ouvir e aprender. Gosto de me prender. Esqueço com facilidade os rostos e os trejeitos das pessoas, mas registo em pedra dura, qual mandamento aquilo que outros me contaram ou ensinaram. Citações, títulos, estórias, segredos e desabafos.
Gosto tanto de conhecer pessoas pelas suas palavras que confesso que por diversas vezes me senti reticente em passar, neste universo blogosférico ou virtual, á presença física das pessoas. Tenho, nas minhas relações um pânico atávico de ficar sem assunto, de cair num silêncio ensurdecedor da falta de vontade de contar, de partilhar, de ensinar e aprender. Ficarmos mudos entre olhos sem saber, ou pior, sem querer comunicar.
Há quem assuma o medo nas suas relações amorosas da velhice, das doenças, da falta de pica para fazer amor, do corpo cansado e sem jeito. De dois velhos sentados a ver a vida a passar em flashback. A mim, assassina-me a imagem de um casal sentado numa esplanada a jantar em profundo silêncio, ou pior, com cada um a ler o seu livro.
Comer também é para mim falar. Deixar entrar e sair assuntos entre garfadas, que não raras vezes apenas servem de pretexto. O sublime? A boa companhia de uma longa conversa acompanhada de um vinho bailarino e sedutor, entre sussurros de uma comida feita com amor e acima de tudo com prazer.

De novo verifico que a minha teoria está correcta. É o amor do cérebro que perdura e tantas vezes só a custo se deixa matar. O do corpo envelhece, esbate-se como as fotografias fechadas num álbum no fundo do baú no alto do sótão. Talvez, para mim, seja a presença do objecto de paixão a evitar, para que não se me baralhe os sentidos do tacto e do cheiro.

Prometo que não ficaremos sem assunto, mesmo antes de ficarmos sem vida.

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

The persuit of hapiness

Um habitue anónimo desafiou-me a discorrer sobre a felicidade, defini-la ou desmontá-la.
No meu arquivo de conceitos vividos, a felicidade não é mais que o espaço que está entre aquilo que não se quer e o mais que se ambiciona.

A felicidade é um peixe de escamas luzidias mas escorregadias, que se pavoneia no lago de expectativas onde nos olhamos diariamente. Tenta-nos como se tenta um cão faminto a correr atrás do osso com restos de carne e nós, desejosos de poder dizer que é nossa, lá corremos, saltamos, nadamos e fazemos o pino atrás dela. No fim, esgotados, percebemos, com sorte, que nessa tentativa de agarrar a felicidade se desenvolveu em nós capacidades que melhoram a espécie.

A felicidade é a meca da existência.

Desde pequenos que nos ensinam que a felicidade é a maior conquista de um ser humano, mas que eu me lembre, nunca ninguém a soube agarrar e meter num frasco, para que lhe possamos medir a massa, a dimensão, a textura ou a consistência.

Consta que quanto mais se tenta agarrar a felicidade mais ela se espalha e contagia. É talvez um vírus. Mas como até os vírus têm critérios de propagação e nem todos nós sofremos de gripe na mesma escala, alguns há que não têm a sorte de uma baixa remunerada.

A beleza e o poder da felicidade reside no facto de não poder ser definida, desmontada, ou guardada numa caixa. É ser na realidade um conjunto de momentos kodak que cada um de nós guarda e que tantas vezes revê na esperança de repetir o momento.
A felicidade é pequenina como o grau de areia da ampulheta da vida, infinita como o segundo do abraço dos lábios opostos que se desejam como se não houvesse amanhã...efémera como o perfume da tília em noite de primavera, quebradiça como o cristal, valiosa como o diamante raro, única como cada um de nós.

Apesar de difícil de a enquadrar num conceito único que reúna consenso, cada um de nós sabe qual é o seu sabor, qual a cor, qual a magia.

A felicidade é amante de todos mas não é possuída por ninguém.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

O velhinho do ISCSP

Chegada da Palmeira ao Palácio do Conde de Burnay, Rua da Junqueira, Finais do Século XIX.

Saudades do que se viajou na mayonese à sombra dessa palmeira...

quinta-feira, janeiro 22, 2009

O gosto dos outros

Ás vezes falta o sentido no excesso da palavra. Dizer por dizer o que nos o que nos vai na alma na esperança de encontrar o verdadeiro poder da palavra que seja simultaneamente eficaz e libertador.
Com a idade e a capacidade de manuseamento da linguagem vamos conseguindo criar nos outros expectativas daquilo que temos para dizer. Com as palavras vamos dando a conhecer quem somos, o que queremos, o que pensamos sobre os mais variados assuntos. Quanto maior for a nossa criatividade e capacidade de usar a palavra mais fácil se torna convencer os outros dos nossos objectivos, da nossa força, da nossa sinceridade.
Por isso é tão desarmante a impossibilidade de utilizar essa ferramenta ou essa arma na conquista do nosso espaço social.

Recentemente conheci uma criança surda-muda o que fez com que a minha capacidade de comunicar fosse posta à prova. Apesar das minhas reticências ela tentou da forma que lhe pareceu mais fácil mostrar-se e dar-se, sem que o silêncio se tornasse um muro intransponível. Entre sorrisos e gestos, com muita mão na mão rapidamente chegamos ao sítio onde começam as amizades.

Esta situação fez-me pensar um pouco sobre alguma injustiça praticada por mim face a pessoas que não têm, não porque não sejam capazes, essa apetência para a comunicação, para nos prenderem a atenção com as suas palavras, para nos seduzirem com os seus conhecimentos, para nos encantarem com as suas frases. A verdade é que, dada a minha queda para o excesso de oralidade acabei por pôr de lado gente, que há sua maneira, terá dezenas de coisas belas, inteligentes ou verdadeiras para me ensinar, mas que não sabem embrulhar estas prendas com enfeites mais apelativos para mim.

Percebo o quanto injusta e vítima sou pela prática dessa forma de snobismo intelectual. Sou tão ridícula eu no meu julgamento da intelectualidade quanto patética na prática de descriminação de gentes pela diferença de vocábulos, significados e referências culturais. Aborrece-me ser assim. Não conseguir adequar a minha capacidade de atenção e aprendizagem aos meios que outros, bem mais inteligentes, conhecedores e sabedores se oferecem para partilhar sem que, nesse gesto, se encontre pinga de superioridade.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Mexia sofria de amores...

Nunca fui muito à bola com o Pedro Mexia, ou para ser verdadeiramente sincera muito que não vou á bola com o Pedro Mexia. Foi ele a minha primeiro desilusão de adolescente, ao verificar que o fascínio que acalentava pelo escritor (entenda-se aqui “escritor” no sentido da pessoa que escreve, se exprime e se expõem) e a figura em si não se suportavam. O segundo foi o João Chaves e o Oceano Pacífico.

Há qualquer coisa de “impermeável” nele que me causou comichão na espinha e me fez deixá-lo cair para a prateleira dos Gajos(as) Com Quem Não Vou à Bola Mas Em Dias de Nevoeiro Até Gosto de Ler...Cada vez tenho menos pachorra para o estendal de roupa da intelectualidade. Nos dias que correm tanto me faz que seja à esquerda ou à direita. Aquele número do eu li mais livros que tu, a minha mesinha de cabeceira parece o escaparate da Bertrand (sim, porque da Fnac seria coisa de pobre de espírito),comento tudo e um par de botas e sou tão versado que posso discorrer uma hora sobre qual o melhor batedor de claras em castelo.; põe-me nervos em franja. Já agora,sou tão Gourmet que nunca, jamais , em tempo algum compraria uma Bimby.

Aqui há uns tempos, num outro Blog de uma Senhora com quem não vou à bola sem que a figura em questão tenha contribuído para isso, apenas questões de linhas cruzadas e interferências sensitivas, descobri que o Pedro sofria de amor. Fiquei curiosa sobre de que forma “sofre” de amor um rapaz tão ocupado, com tantos livros para ler, assuntos para falar e uma Cinemateca para gerir. Lamento informar, mas a verdade é que comecei a gostar dele. Outra vez. Simpatizo com o moço, mesmo quando ele passa à frente de uma senhora ou não abre a porta para que ela passe. Tão fino, tão fino...se calhar é o lado distraído dele.

Não é menos verdade que desde que manifestei a minha crescente simpatia pela figura, aumentei as visitas ao blog. A quantidade de gente que procura por ele, não deixa de me surpreender.
É pena mas ele não anda por estes lados. Acho mesmo que ficaria horrorizado com os erros, os desvarios, o conteúdo deste site. Mas, como ele até tem umas coisas acertadas, deixo aqui como testemunho da minha crescente afeição, um texto publicado no Público de 16/08/2008 a propósito dos amigos que se perdem. Muito actual, infelizmente.



“A amizade é uma experiência mais frequente que o amor; mas todos os dias ouvimos histórias sobre ex-maridos e ex-namoradas, ao passo que pouca gente fala dos ex-amigos.
E ao nosso lado há amizades que acabam, como uma implosão de um edifício em ruínas, estrépido abafado e uma grande nuvem de pó. Disso fica apenas um grande silêncio.
As pessoas não gostam de reconhecer que a amizade é um laço frágil. A mitologia diz que os amigos são indestrutíveis e eternos. Há por isso um grau de decepção no fim de uma amizade que cobre de vergonha os envolvidos.
… Quando o amor acaba, a tragédia é minimizada porque já sabíamos que “o amor acaba”. O fim de uma amizade é uma surpresa mais chocante. Quando uma amizade acaba temos que reconhecer, contrariados, que a amizade, tal como o amor, é uma eternidade fraudulenta.
… A amizade suporta bem opiniões divergentes. Eis o que uma amizade não aguenta: deslealdades, traições, ausências, crueldades, competições, impiedades.
Já passei por algumas rupturas violentas, e sei que as amizades acabam porque pomos em causa o carácter do amigo. Reparem que não me refiro às amizades que se desvanecem, à intensidade que diminui, às pessoas com quem vamos perdendo contacto aos poucos, sem premeditação, só porque mudaram os nossos hábitos ou as nossas circunstâncias. De tempos a tempos, todos temos amigos de quem já não somos amigos. Mas isso é muito diferente de um ex-amigo.
Um ex-amigo é alguém a quem um dia entregamos as chaves todas que tínhamos. Teve acesso total às nossas ideias e emoções. Um ex-amigo foi sempre um amigo íntimo. È isso que explica o decoro antiquado com que evitamos o assunto.
O ex-amigo representa um juízo ético errado. É uma mancha humana. Um momento em que nos enganamos completamente sobre a humanidade, ou sobre um humano concreto.
É fácil dizermos “eu achava que estava apaixonado” e garantirmos que confundimos o amor com uns olhos azuis. Mas com um amigo, que é um peixe de águas profundas, não temos essa desculpa.
Quem é que diz “eu achava que era amigo dele”?
O fim de uma paixão revela um erro comum. O fim de uma amizade é um erro pessoal. Sem direito a perguntas.
O ex-amigo nunca nos é indiferente. Uma das minhas regras sagradas é que nunca digo mal de um ex-amigo. Isso é tanto mais estranho quanto sou capaz de dizer mal de um amigo, em casos graves.
Mas um ex-amigo é como uma investigação policial inconclusiva. É um caso arquivado por desistência e que pesa na consciência. Se eu criticasse um ex-amigo era como se ele ainda fosse meu amigo. E isso seria uma sensação incómoda.
Ao mesmo tempo, o ex-amigo não é exactamente um inimigo. È um fantasma, uma assombração de que nos lembramos sempre…
O amigo entrou na Cidade Proibida e agora não nos perdoamos que ele tenha visto os leões e os archeiros.
…Nunca perdoamos o entusiasmo lúcido com que fizemos um amigo e depois o perdemos.
Não estamos sequer arrependidos: - estamos tristes com uma tristeza mais suportável e mais duradoura que a tristeza amorosa.
Quando nos cruzamos com um ex-amigo e não nos cumprimentamos, pesa no coração o logro que é a fraternidade. Sem a qual a igualdade e a liberdade afinal não valem nada."

terça-feira, dezembro 09, 2008

Olha a cidade onde as luzes se acendem a passo cronometrado com o seu. De olhos postos o chão onde se perdem os seus passos, ouve a música gritada aos seus ouvidos. Não quer ouvir o mais pequeno sinal de vida que passa á sua volta. Quer espantar as palavras que ecoam na sua cabeça, como se o esquecimento delas a fizessem voltar ao ponto de partida.

- Desculpe Maria. Dava tudo para não lhe dar esta notícia. É irónico que de novo seja eu a fazê-lo. Anos depois.

-Mais uma coincidência. Apenas isso. Se eu acreditasse em algo que fosse, em Buda talvez, pensaria que existe para me chamar á terra de cada vez que me baralho por ai. Deixe lá. O que não mata engorda já diria a minha avó.

We wish.

sábado, dezembro 06, 2008

Repensar a vida é bom mas há que faze-lo com o mesmo princípio aplicado ás bebidas alcoólicas: Pense com moderação!

Coisas que aparecem assim no IP4

Quando a soma dos dias é justa, a poesia é o troco da tristeza.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

E que o que dói na dor é viverem dentro de nós pessoas que, perante o nosso sofrimento, digam, por palavras nossas: Afinal, quem és tu?

"Os que se perdem nos sonhos falam da ausência do amor, timidamente, evocando o cansaço. Ou reclamam-no, simplesmente, invadindo de ira todos os seus gestos. No fundo, temem-no, de tanto o desejarem (protelando-o, sempre, para depois). Vivem amarrotados pela distância que vai entre tudo o que sonharam e as brumas dos dias (que não lhes tiram os desejos nem lhos trazem, de surpresa). E dão-se conta dos sonhos que se perderam sempre que, por acidente, esbarram em relações de sonho.

Os que o olham de cima supõem que são as manhãs de sol quem abre as persianas pelo coração. Acham o amor uma relação fora de moda e o melhor que conseguem é encontrar a pessoa dos seus sonhos... para os próximos dias. Não compreendem que a sedução é uma defesa contra os abraços. E não concebem que a segurança seja contar com o amor de alguém (em vez de estar seguro que a pessoa com quem se conta não conte, seguramente, para mais ninguém).

Já os outros reconhecem que, quando ponderamos acerca do que gostamos numa pessoa, já não gostamos dela: reparamos nos pormenores. E que, quanto mais preponderante é um amor, mais a iminência da sua perda nos revolve. Sabem, por mais que não as tenham, que há relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que serão elas a quem chamamos amor. E que esse amor faz do que temos cá dentro uma democracia que nos torna, a todos, iguais nos sonhos e diferentes na forma de os vivermos. E é por isso que, diante das falhas do amor, somos todos crianças desamparadas entre um colo e as cavalitas (como se amar com resignação fosse uma casa de chocolate que, depois de nos distrair, acaba por nos comer).

E que o que dói na dor é viverem dentro de nós pessoas que, perante o nosso sofrimento, digam, por palavras nossas: Afinal, quem és tu?

Na verdade, amar é ver mais longe. Mais longe, até, do que se avista quando se enxerga o coração do planalto de um abraço. Saudar os sonhos com a inocência de quem procura neles um trilho especial. E perceber que tudo o que se sonha é pouco mais do que nada ao pé das relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que só essas fazem dos sonhos o passadiço do amor."

Eduardo SÁ

terça-feira, outubro 21, 2008



As relações constroem-se quase sempre com base nas palavras ditas, nos sms trocados em intervalos da presença do corpo. Contudo, na ausência do objecto que a sustenta são, não raras vezes, alimentadas pelo silêncio.


Muda-se a forma no avesso dos sinais.

domingo, setembro 28, 2008

Fomes

Estava particularmente calada. Preocupantemente em silêncio. Olhava a linha do horizonte, ou a luz do pôr-do-sol, ou as velhas antenas do casario. Não faço ideia e isso preocupa-me. Veio calada, muda diria, todo o caminho até aqui. Tenho a sensação de falar para o boneco, um boneco que me intimida com o seu silêncio.

- Como te sentes?

Hesita por momentos, como se da sua resposta dependessem vidas. Como se as procurasse com cuidado no fundo da sua mala sempre desarrumada. Remexe-se na cadeira, respira. Abre a boca de mansinho mas cala.

- Exausta. Vazia. Tranquila. Arrumadinha como o quarto no momento seguinte á passagem do serviço de quartos. Esfomeada. Estou capaz de comer um boi.

Não consigo evitar rir ás gargalhadas. Daquelas cheias, a abarrotar de satisfação.

- Definitivamente estás diferente.
- Parece que me livrei das pedras que tinha entaladas na garganta e que impediam a passagem do susbstracto do corpo, da reles comidinha, do prazer. Sinto-me tão leve que preciso de comida para servir de lastro.

Sorria com vontade, enquanto virava o rosto e depositava o olhar no jovem sentado na mesa ao lado. Como se o visse pela primeira vez e gostasse do que os seus olhos lhe mostravam.

- Convido-te para jantar. Há que celebrar essa fome toda com algo substancial.
- De acordo. Mas escolhes tu. Aviso que estou com um apetite voraz.

Continuou calada toda a viagem. Não mudou a estação de rádio. Não se queixou do frio. Não reclamou do facto de não poder fumar..

terça-feira, julho 08, 2008


"Há três coisas que jamais voltam: a flecha lançada, a palavra dita e a oportunidade perdida."


Provérbio Chinês

quarta-feira, janeiro 23, 2008

O Moleskine e eu

"Levo-te dentro da Algibeira
todas as manhãs ao sair de casa,
todas as tardes ao voltar.
Mesmo quando pareço despido,
quando pareço não ter algibeiras,
estás na algibeira do sonho,
no território da paz.
Levo-te onde couber o amor."

Ignacio Anzoátegui