sábado, fevereiro 28, 2009


"Sou eu. A mesma. Não mudei por já não reflectir em mim a beleza de te querer, ou antes, a beleza que se fixava em mim com o teu querer. Nunca me importou a medida do teu desejo. Saber se era amor, luxúria, paixão ou cumplicidade nunca foi variável importante na nossa equação. Eu gostava e ti. Tu dizias gostar de mim. Isso bastava numa vida partilhada em simultâneo mas não em exclusivo.
Gostar bastava para se acordar risonha e feliz, entorpecida de vontade de ficar um pouco mais em descanso no teu abraço.
Ficou a vontade, descalça, lá no banco de jardim. Aqueles passos ganharam sentido único, num caminho que se tenta fazer sem olhar para trás. Mesmo assim esperei. Perdi a noção das horas numa espera comprometida e medrosa de um coração menina que queria ainda acreditar na possibilidade de inverter os ponteiros. A cada minuto que o meu medo continha, ensaiava as palavras que diria se o universo fosse o meu melhor amigo de escola, aquele que por pacto de sangue de dedos chupados, sempre me salvaria.
A chuva miudinha mas certeira começava a cair e só os risos dos meninos felizes a impedia de cair mais forte.
Voltei ao principio para garantir a mim mesma que tentara. Não naufragará a ver a praia onde iríamos deitar, rir e amar. Não sei porque nunca fizemos amor na praia. Na realidade não seria amor que faríamos porque não era amor que vivia em nós e vivendo, não passava de um okupa involuntário e clandestino. Não sei hoje o que era, não no conceito ou na justificação, mas sei como crescia, todos os dias um pouco mais.

Há algo de mágico no Jardim da Estrela debaixo de chuva. Mesmo quando chove em simultâneo do lado de dentro da estrela. O jardim já lá estava antes de nós e o banco será sempre um banco. Hoje, era um banco de esperança, um banco com uma declaração de amor, que a chuva transformará em poeira e numa pequena estrela daquele jardim."

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Mais um recado...


"Meu amor, como ficaste,

Meu amor, como demoras."

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

“Entra. Dou-te a chave, não a original, mas o duplicado. Fecha a porta e abre-me a mim. Olha-me os pés para que te levante o rosto e consinta. Não digas nada. São as palavras que nos contagiam e agora, neste resto de tempo tentamos consertar o prazer. Será que as rotas do corpo se alteram? Seremos estranhos de novo?
Quem dera que sim. Que agarremos as nossas dúvidas á estranheza de uma primeira vez. De novo.
Desce as mãos pelas minhas costas e a boca pela minha nuca, ao de leve e desejeitadamente enquanto eu te chamo repetitivamente por qualquer nome que não o teu. Tacteia o prazer em mim como se não soubesses a taboada dos meus risos, dos meus gritos, do gemido varrido em mim. Como se cada respirar mais ofegante rebentasse comportas dentro de mim. Deixa-me desaguar em força até não ficar mais que um pequeno ribeiro primaveril onde salpicar os pés.
Desejo-te há muitos dias. Há tantos que não lembro quando te perdeste em mim.Guardei-te em segredo no fundo do bolso, dentro de um lenço florido de ingenuidade indelicada.
O amor que não dei sobra em mim. Sobra quando o desejo inflama a paixão ao pé da boca, a um passo dos olhos que não me deixam mentir. Eu viro o rosto e derreto-me na almofada, no rio, no escuro. Não me olhes. Se os teus olhos pousarem nos meus verás o avesso da história, a verdade que mata o mensageiro.
Eu sou Lisboa quando deixo ficar, só, por minutos que são anos contados.”

terça-feira, fevereiro 24, 2009

a lo mejor

Há muito que deixei de acreditar em fábulas, histórias de faz de conta, novelas ou relatos de princesas encantadas e finais de felicidade contínua.
Por questões de maternidade tento que essa falta de encanto não trespasse para os meus filhos. É necessário que eles acreditem nos sonhos, na possibilidade infinita de qualquer enredo que decidam acreditar. É essa possibilidade de acreditar que os ajudará a definir-se como indíviduos e são, também, muitas vezes, as desilusões das descobertas que os farão crescer e condicionar o modo como transmitem o mundo aos outros.

Não é fácil jogar esse duplo papel, entre o sim e o não e na maioria das vezes, escudo-me atrás de um “talvez,...sim, talvez aconteça”. O talvez é, assim, o maior aliado dos pais na resposta a um sem número de perguntas, que em verdade, não queremos ter que responder.