segunda-feira, março 17, 2008

P.S. Quero um velório assim...


Quando se junta um irlandês impetuoso, apaixonado, terno e imprevisivél com uma míuda meia perdida, vulnerável, trapalhona, desastrada e inconstante, e se adiciona a um amor que parece perfeito, uma morte por si só cortante,encontramos os ingredientes para uma história de amor no mínimo divertida e contagiante.

P.S. I love you, não é um filme para se assistir como programa de um date. Se, como eu tem lágrima solta, e não consegue conter o seu impêto romântico e as toneladas de suspiros que incomodam quase tanto como os baldes de pipocas vizinhos, sugiro que guarde este filme para assistir no recato do lar, munida de inúmeros Kleenex, baldes de gelados (se for essa a sua panca), e um edredon de penas.
Caso não siga a minha sugestão e resolva levar companhia até á sala de cinema mais perto de si, assegure-se que leva uma amiga de peito, ou de outro modo poder ter que lidar com um amigo meio baralhado sem saber o que fazer e que passará parte da noite a indagar-se sobre qual foi a parte que ele não percebeu, ou a tentar intuir que raio achamos nós tão comovente.
A verdade é que este filme é giro. Giro sim. Vai da comoção á gargalhada brutal num ápice de segundo e mesmo os momentos tristes são carregados de um humor negro, que a vida encerra em si e que não raras vezes nos faz rir, quando o assunto não é connosco.
Confesso que não consegui reter um sorriso maldoso, quando a meio do filme me lembrei das circunstâncias da morte, do pai de uma ex-fantasma do homem que eu amava, engasgado com um bocado de bife. É cruel, eu sei, mas há momentos em que somos capazes de piores coisas.
PS – I Love you é um filme sobre o luto,ou aquilo que seria, a meu ver, o luto ideal. Nada nos prepara para a perda de quem se ama, seja um marido, uma mãe, um filho, um amigo. Seja à custa da morte, ou da simples despedida circunstâncial. Gerry, assumindo que teria que partir, resolveu fazer uma despedida à sua maneira, passando rasteira ao tempo e à imaterialidade da ausência que leva ao esquecimento e fez-se presente. Nesse percurso tenta preparar a mulher que ama, para viver sem ele, para aceitar a cruel realidade de ter que recomeçar de novo, para lhe mostrar de que forma pode reviver as memórias deles sem que tal seja sinónimo constante de desespero ou infelicidade.

Através de cartas com o Post Scriptum mais perfeito, ele determina passos que Holly deverá seguir, ao jeito dos Jogos de Pista feitos por qualquer escuteiro e com ajuda da mãe de Holly e das suas amigas assegura-se que ela se encontra na sua ausência. (Na minha caracteristica mania de argumentista de trazer por casa, descobri logo a forma de entrega das ditas cartas...risos).

Gostei da ilustração da forma como ela fez gere os primeiros tempos de dor e desepero que a ausência daquele que amamos comporta: uma falta de ar, a sensação de dor obtusa presa ao peito e que o mais pequeno grão de pó de qualquer lembrança rebenta numa enchurrada de loucura e demência que não se compraz com canones comportamentais ou exigências de civilidade. A loucura na dança dela, vestida com a roupa que era dele é uma forma cómica de mostrar como fica um coração partido e até que ponto o amor é mesmo rídiculo.

Para além de Gerry e Holly esta história simples fala-nos também da dificuldade de uma mãe digerir a dor que um filho sente. Da inutilidade dos nossos afectos ou palavras, da raiva que encerra vermos que o nosso filho segue os nossos passos e o único que lhe poderemos garantir é que efectivamente ele vai mesmo ter que sofrer e que na solidão dessa dor ele encontrará a companhia de outros que estão no mesmo barco.

Eu chorei. Comovi-me, revendo-me nas cinzas daquele amor. A verdade é que me ajudou a perceber que o meu luto tinha terminado. Que as memórias estavam arrumadas, que o ponto final colocado permitia um ínicio de parágrafo bem mais bonito e iluminado.

Resumindo: É um belo filme de gaja e eu não me importavava nada de encontrar um Irlandês assim!!! Garanto que não o levava a ver este filme, a menos que seja daqueles que também chora nos filmes e que nos derretem tanto.
Realização: Richard LaGravenese

Sem comentários: