segunda-feira, fevereiro 11, 2008

O amor num calendário

A propósito do Valentim tenho pensado muito no amor. O amor está na moda, definitivamente. Todos querem amar e ser retribuidos na medida que sonharam, ou então contentarem-se, em tempo de saldos, com a medida do possível.
Á laia de "As good as it gets", tive recentemente e por mais do que uma vez, ocasião de debater com alguns dos protagonistas das falhadas histórias de amor que vivi, umas longas e vividas em extremos outras que não passaram de simples enfatuations, as razões do fracasso de tais projectos. De onde menos esperava ouvi a melhor resposta, ou pelo menos aquela que me coube na carapuça, entre o espanto das suas palavras e o incrédulo do meu coração que ali a um canto ainda está a digerir.
Perguntei-lhe se alguma vez me amara.Riu-se alto e chamou-me tonta. Claro que sim. Primeiro apaixonara-se sem razão nenhuma, para além do facto de eu lhe assentar bem. Não eram preciso justificações para se estar bem. Estavamos ali, eramos jovens e fazia sentido. Bastava.
Meia envergonhada perguntei-lhe porque se afastára. Olhou-me com cara de poucos amigos e acusou-me de ser esquecida. Eu é que o mandára embora.Não uma, não duas, nem sequer três vezes. A partir de algum tempo cansara-se de me tentar mostrar que me queria. Eu não queria ver.
Ainda que as palavras dele me tivessem adulado o ego, anos depois de tantas outras palavras terem ficado por estas páginas penduradas á espera que ele as visse, a verdade é que fizeram mossa.
Pouco convencida procurei outra outra vítima do meu afecto, para fazer as mesmas perguntas. Nem precisei de muitas perguntas dissimuladas para que me atirasse á cara um chorrilho de ideias fundamentadas por quem passou muito tempo a pensar no assunto. Acusou-me de não querer ser feliz e boicotar constantemente qualque tentativa de me deixar amar. Que não sei confiar, que não acredito, que nada para mim é sagrado e essa é a verdadeira causa do meu desamor.Mas deu-me os parabéns, por tantos homens bons que tentaram.

Numa altura em que a vida me dá a maior lição que se pode receber, questiono o meu passado e estas outras relações de forma quase obsessiva para confirmar uma teoria que há muito se vinha elaborando nos intervalos da dor. É doloroso perceber que em verdade eu fui e sou até, uma mulher muito amada. Talvez nem sempre da melhor maneira ou pelos melhores motivos, mas, de facto bastante querida por homens, que hoje me parecem realmente Principes Encantados.
Afinal,não sou apenas uma miúda com olhos "inclinados á remela", que sempre se apaixonou por homens inacessíveis ou de fracas convicções. Os homens eram bons, o amor é que tinha defeito, mas vinha de origem.
Aqui sentada enquanto escrevo um pouco mais de mim, nestas memórias virtuais que servirão brevemente de testemunho para os meus filhos, confesso:
- Eu não sei amar, pelo simples facto de que não sei, não consigo sentir-me amada. Mesmo em momentos em que o bem- estar era supremo, em que a plenitude me inundava, encontrei sempre um motivo para não acreditar na longevidade do afecto. Curiosamente retrospectivando, percebi que a todos os homens que amei acabei por lhes dar guia de marcha. Todos excepto o primeiro, aos meus treze anos. Creio, se as minhas básicas capacidades de psicalistas me permitem,a presunção, que o fiz pela antecipação da perda. Nunca os amei menos por os ter deixado. Antes pelo contrário. Insisti com cada um deles o tempo que me foi possível e a todos amei com a maior convicção do momento. Para todos quis ser a primeira e a última.
Estranhamente senti a dor da ausência, do frio cortante da saudade que embarga a voz e rebenta na alma. De todos fiz um luto longo e contagiante.

A triste verdade é que o amor não me convence. Não chega cá ao fundo. Acredito nele enquanto os olhos se enchem de cor e da ilusão da sedução, ou os ouvidos se derretem com palavras bonitas mais distantes da prática do que a terra do sol. Mas quando os olhos já se habituaram ao excesso de luzes e o silêncio se impõe, o amor choca com a barreira e vai, a cada investida perdendo as forças.
Nessa altura eu, convencida que o que se avizinha pode ser cruel, apanho os cacos, limpo-os e devolvo o amor á proveniência para que o ofereça a outra.
Vou para casa remendar o muro que aos poucos vai parecendo um mural retalhado de rostos e memórias de um amor que nunca chegou a ser.

Por isso Valentim não insistas por favor, que do meu lado ainda se empacota, por entre cartas perfumadas, e imagens coloridas, os restos do último amor.


"Para quem se vai embora é sempre mais fácil. Pelo menos, muda de ares. Quem fica tem de respirar os restos de epiderme polvilhados sobre os móveis da casa."

José Luís Peixoto

3 comentários:

Marina Luz disse...

Minha querida amiga, é por todas estas razões que raramente vivemos o agora, temos saudades do passado, suspiramos pelo futuro e raramente vivemos com intensidade o presente.
Não te esqueças que para passar de presente a passado basta um centesimo de segundo e quase nem damos conta dele, por isso arruma em caixotes o que não queres lembrar e emoldura o que queres recordar, depois vive o instante seguinte como se soubesses que seria o teu ultimo instante, ri, chora, amua, grita, fica rabujenta, mas vive o agora.
Um beijo grande

Camaleão Vaidoso disse...

Querida Amiga inesperada...

É o que se vai fazendo por estes lados. A vida não está para grandes planos como sabes, mas qualquer minuto se expreme ao segundos e ás vezes o sumo é muito doce.
O nosso amigo eremita tem-me ensinado muitas coisas importantes e eu parece que até ou boa aluna. Presunção não falta.

Beijos

Ps...o Blog da Familía Epiranga está cada vez mais giro. Claro que os meus "contributos" também ajudam. Risos.

Camaleão Vaidoso disse...

Bem...e pelo que reli a dislexia está cada vez pior. Já não bastava o V que foi dar uma curva agora até como os outros.Mas como eu até sou de Guimarães que é mesmo ali ao lado de Braga, passa por charme.