quarta-feira, dezembro 12, 2007

Lar

Finalmente o coração vai ficando sem palavras gastas e tristes ,de coisas que ficaram por dizer. Os olhos estão a limpar a casa e ganharam espaço para novos sorrisos. A cabeça vai-se arrumado por ordem cronológica e de relevância, e no meio desta reabilitação urbana vai-se relativizando todo um conjunto de situações futuras. É um processo demorado e lento de reconstrução da casa, desde o revolver das terras inundadas, ao fundear de novos pilares de um novo lar.
De vez em quando a empreitada sofre um revés. Uma brisa mais zangada, uma chuva mais intensa abala as estruturas.
Em vez de ficar ali a torcer de medo que a obra desabe antes mesmo de estar concluída, procuram-se outras mãos que ajudem a trabalhar. Uns a troco de nada, outros a troco de uma refeição quente e de uma bebida doce. Alguns porque é suposto. Alguns por excesso de voluntarismo.
A casa vai ficando cada vez mais bonita, mais improvisada, mas mais colorida. Ainda não tem cadeiras para descansar as pernas. Ainda não tem cama para limpar a poeira dos detalhes dos dias. Não tem tapetes para esconder o que não se quer aceitar.
Mas tem um quadro. Uma bela pintura que se refaz todos os dias para nos surpreender.
Devagar, devagarinho vai crescendo em nós, nos rabiscos do projecto que vou escrevendo, nos retalhos de tecidos iluminados que vou colando.
A vista da janela grande da pequena sala tem o Chiado, o Castelo, o Rio, o Bairro, a música, os carros, os turistas, os pedintes, a luz…e tudo o que os nossos olhos desimpedidos conseguirem abarcar.

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