domingo, janeiro 13, 2008

Matar o vício...

Os amores com defeito guardam-se durante muito tempo. Escondem-se na poeira das páginas dos livros emprestados, numa esperança secreta que um dia se possam compor.
Ainda que muito escangalhado o amor incompleto, que não se viveu até á exaustão fica pendurado atrás das portas e não se esquece. Não o podemos mandar dar uma volta ao bilhar grande. Ele regressa de cara cheia.
Ele é que se liberta de nós.
Primeiro parte o sabor. Vai-se embora o doce, num carreiro de formigas que vai do coração á barriga embrulhada de nós. O amargo ainda fica num longo final de boca.
Sorrateiramente o tacto sacode-nos e parte-se em cacos no vazio.
Depois, foge-lhe o cheiro e nem as gotas guardadas numa velha camisa nos valem.
Os nossos olhos zangam-se com a ausência e a memória teima em brincar ás escondidas. Como miúda de feitio ranhoso, esconde-se, e faz-nos aflitos a procurá-la por todos os cantos e debaixo dos colchões.
Desistimos de lembrar. Acalmamos e até ficamos contentes, mas como a ausência sustêm em nós as palavras ditas e reditas na nossa cabeça caímos de quatro ao ouvir a musica que nos deixa o amor em repeat.
Até que ele se canse. Se canse da nossa figura patética suspensa por um fio de esperança. E um dia parte e só deixa um recado:
Fui matar o vício, volto já.

1 comentário:

Anónimo disse...

Nesses casos o melhor mesmo é nem tentar esquecer. Aceitar que o amor existiu mas terminou, na vertente em que o concebemos...fisico, carnal, visual.
Sei de fonte segura, que o amor ás vezes não acabou...está só em stand by ...a recuperar energias...quem sabe...

Beijos

Peter Pan