sexta-feira, janeiro 18, 2008

A menina?...dança

Há alturas na vida que percebemos que os nossos amigos, por muito que o sejam e gostem de nós, não nos conhecem, ou melhor, não nos conhecem como gostaríamos. Não o fazem por maldade. Tão pouco o fazem. Ás vezes, só, não nos percebem. Vêem aquilo que gostariam de ver. Aquilo que querem acreditar ser verdade.
Também não adivinham aquilo que não mostramos.

É por isso que entendo a melhor atenção no gesto, aquilo que fazem por nós, na tentativa de nos verem um pouco mais felizes. Mas não entendo, quando não aceitam de bem, que queremos viver diferente, ser diferente, estar diferente.
Quando me convidam para um programa animado, que inclui por vezes, a apresentação de um amigo (sempre simpático, inteligente, giro, fabuloso, engraçado, carinhoso, atencioso, orgulhoso, trabalhador, imprevisto, paternal, animal…os amigos dos nossos amigos, são sempre o melhor partido, apenas porque como a nós, também os querem ver felizes, ou pelo menos... bem!) agradeço e fico contente, faz diferença, mas hoje, agora, neste momento, aos 32, prefiro ser eu a procurar o meu momento. A ficar só. Melhor, pior, á maré dos dias. A cavar a terra. A esgravatar. A descobrir. A reencontrar.

Nestes dias, já longos, em que se tenta perceber, conhecer, aprender a nossa cartilha tenho encontrado muitas pequenas grandes coisas. Coisas de somenos importância, talvez, mas bocadinhos de vida que parecem bombons. São EPÁ’s de formas, cores e sonoridades diferentes…um filme que revemos e nos enche o peito de cócegas, a última tablete de chocolate escondida no fundo do armário, o desespero do último cigarro, o livro que nos emociona, o velho amigo que se reencontra atrás da tela, a voz da rádio que nos transporta a outros tempos, a passados bons.

É por isso imprescindível que dance sozinha. Longe das luzes e dos cheiros de outros corpos. Da sensualidade profunda que cada um tem atrás da sua dança. Que fascina, encanta, preenche tantas vezes. Há poucos prazeres como ver alguém a conversar com a música com as mãos.

O vinho ajuda a soltar a língua presa na dor, e reverte-lhe os ponteiros e canta-se, alto e bom som, só para nós. Grita-se, ouvem-se risos, admira-se, encanta-se, chora, ri, canta.

Uma parte da vida em pause. Desligam-se os telemóveis. Escondem-se os relógios e vive-se. Sem plano, sem direcção. Deixamo-nos escorregar no vinho sossegado no copo e todo um caminho novo cresce.
A dor está lá. O vazio ri-se á ausência. Tenta-se evitar a lembrança ainda que ela seja como a garrafa perdida no meio do oceano, a surpresa do encanto da descoberta.
Equaciona-se o amor nas suas 323 formas, nos seus jeitos e gestos grotescos. Aceita-se, perdoa-se, desculpa-se. Tudo e todos. Por minutos ou para todo o sempre.

Por isso, meus amigos aceitem. Aceitem que estou triste e que isso é mesmo assim. Não é dramático, não mata, não me fará mal. Aceitem que também estou contente. Que me emociono comigo mesma, que assumo saudades de mim.
Aceitem que por hoje, tenho despedidas a fazer. Gavetas para arrumar.
Hoje espero. Só por hoje, espero.

1 comentário:

Anónimo disse...

...e limpaste as gavetas?