sexta-feira, março 07, 2008

Rostos no Trânsito

É à luz do final do dia que se começa a despir, por entre corropios do trâsito ou na calmaria das últimas gotas de sol a cair sobre a mesa e a perderem-se no liquido cru do copo, que me assalta essa nostálgia, esse desassossego de alma, que assume por vezes um nome e me acompanha. É no último dia da semana de trabalho que se descansa, onde surge essa vontade louca, irresponsável, insensata, adolescente de mandar para trás das costas as minhas razões e as dos outros, e correr em direcção ao desejo, ao impulso animal que me condena.
Há um momento em que páro e leio o mundo e percebo que ele nem sempre é assim tão linear.
Regresso a casa para o mundo como ele pode ser.

«Às vezes, como náufragos, precisamos de nos agarrar a uma reminiscência banal, para evitarmos que tudo se dissolva na falsa enunciação da memória, na sua trágica encenação de efeitos sem correspondência com a realidade».

António Mega Ferreira, Amor, Lisboa, 2002.

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