"É terrível o destino das cartas. Mandámo-las assim, soltas de nós, como se fossem asas vivas e jamais as vemos regressar: perdemo-las para sempre. O acto de escrever representa o desepero, a impotência atroz de não podermos acompanhar a ponte que as palavras tecem."
Autor desconhecido, caderno de filosofia 11º ano
Não lembro a circunstância em que li estas palavras, tãopouco a razão pela qual as registei na capa de um caderno, contudo, hoje, talvez como então continuam a fazer sentido para mim. Soltar palavras pelo mundo em forma de carta ou de simples post-its amarelos que forram estórias passadas como as folhas de um outono brilhante, rosado e ainda quente, é um exercício de vida que nada tem de artístico ou memorável. É apenas um libertar de excessos de uma mente que corre, corre, na esperança de alcançar o derradeiro descanso.
As palavras que dei, foram muitas vezes as linhas onde me cosi, o cabo guia que me trás de volta. E, por vezes, quando anos depois voltam ás minhas mãos enrugadas, rasgatas, esbatidas pelo passar do tempo, trazem com elas outras palavras, novas memórias, sentimentos diferentes que me permitem reconhecer.
Enquanto se vai enterrando o ano que finda, e cada pá de terra se contabiliza os sucessos, as derrotas, as conquistas, as pessoas que entraram, os rostos que partiram, vem-me á boca o sabor bom de ter vivido, de ter sobrevivido, de ter crescido em mim.
Para o novo ano ambiciono reencontrar palavras e mãos que as escrevam e que me façam ao final de outro ano, saborear uma fatia mais deste bolo de gosto duvidoso que é a minha vida.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário