terça-feira, setembro 11, 2007

A caixa





Passeio por ela nos últimos dias, sem a olhar. Desejando que por não a ver ela deixasse de existir. Tive êxito na minha tarefa inglória de a ignorar por várias semanas. Mas ela continuava ali. Á espreita, á coca, aguardando o momento exacto para saltar e rir das minhas emoções.
Ontem, um sonambulismo mediocrê fez-me tropeçar nela e cair em mim. A caixa. Uma caixa tão igual a qualquer outra, tão cheia de objectos que são hoje vazios de sentido, ou meio-cheios de dorzinhas, agruras, saudades. Utensílios que já não assumem hoje o papel que lhes foi destinado, transformados pela vida em objectos de memória curta e silêncios longos.
Sabia o que a caixa continha e mesmo assim recusava-me a abri-la. Quis o destino que se abrisse ela por mim. Lá dentro vi um sentimento belo, profundo e real, que fora retalhado em peças solidificadas.
Cairam-me as pernas no chão duro que amparou a queda da minha esperança ingénua. Devolvera-me os pertences, mas tirará a bondade, a sinceridade, a candura. Devolveu-se um amor inacabado, a ternura.
Devolveu-se os presentes da nossa história, os adereços de um filme que se quis muito.
Como é possível que a dor cega e injusta, nos faça devolver a atenção e o carinho depositado num presente que se deu embrulhado em sentimentos do mais belo que a nosso coração produz. Também se devolve o beijo que se deu? Devolvem-se os abraços? Há direito de devolver os carinhos trocados? Devolve-se o sorriso que nos acorda? Devolve-se o querer quente, forte e doce que nos preenche?
!Quem dá e tira para o inferno gira!” dizia a minha avô . E quem recebe e devolve merece o que? O despeito? O desrespeito? O esquecimento?É como dizer – não gosto de me lembrar de ti e quero limpar-te como pó da minha vida.
Eu não me devolvo...e tudo o que dei me fez ser um pouco mais eu. Eu guardo os instântaneos de momentos que foram preechidos de coisas boas.
E a ternura não se devolve, não se divide, chega para todos. Nunca uma substitui a outra.

A minha caixa, tem chave, para se abrir sempre e deixar a ternura apanhar sol.

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