quinta-feira, agosto 09, 2007

Uma outra noite de verão

- Não sei se gosto muito ou pouco de ti, mas que gosto lá isso gosto!
Disseste-me estás palavras há 18 anos.Já atingiram a maioridade. Como o tempo passa. Lembro-em que na altura, no auge da minha veia dramática de adolescente, estas não cairam bem. Precisava de mais. De palavras mais belas, mais elaboradas, mais intensas. Afinal eu estava apaixonada pela primeira vez. Eras tu o objecto da minha adoração. Contra tudo e contra todos, fundamentando o principio do amor romântico levado ao extremo apatetado das histórias infantis, ainda quentes debaixo da cama.
Aprendi contigo a não esperar mais do que o necessário para acalmar os anseios do desejo. Aprendi a sentir o corpo, a soltá-lo, a rir com ele. E tu rias tanto comigo!
Lembrei aquelas palavras tantas vezes que acabaram por cristalizar como pedrinhas no meu aquário.
Passaram 15 anos desde a última vez que falamos, e me disseste que era areia a mais para a tua carruagem.Nunca percebi o que querias dizer, mas respondi-te, convictamente, que um dia perceberias a diferença entre o importante e o acessório, ainda que este também nos faça falta.
Ontem, quando te dirigiste a mim, não me reconheceste de imediato. Os anos não foram generosos contigo, mas manténs aquele sorriso pateta, por detrás do sobrolho carregado com que tentavas impor respeito aos míudos. O meu e o teu, corriam desarvorados como se não houvesse amanhã e aquela amizade de banco de areia estivesse estado sempre lá.
Quando finalmente me reconheceste e entre a troca de formas de estilo de invocação, sorriste e pecebeste o mesmo que eu. Ambos ainda estávamos lá. Num muro sentados a rir dos nossos disparates e inseguranças secretas.
Admito que me soube bem saber que acompanharas à distância a minha vida ao longo do tempo. Que tinhas saudades minhas. Que te rias de soslaio sempre que alguem dizia "eu é mais é bolos". Confessaste que estavas desiludido com vida. Que o riso já não te era fácil e que te cansaras das pessoas previsivéis, lineares e perfeitas.
Não fiquei contente por teres percebido isso tão tarde, que te tenhas convencido tarde demais.
Não é assim tão tarde. Ainda agora regressaste. Nem que seja por uma noite. A única que me fará perceber o real sentido daquelas palavras.
Eu por mim, sei porque gosto. Sempre soube. Não mudou á custa dos erros e aventuras da vida.
Gosto de ti, porque tal como tudo o que me deste, deste na certeza e frontalidade do que podias assumir. Deste-me o que de melhor as tuas palavras encontraram.
E hoje...repetiste.

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