domingo, abril 22, 2007

Um rosto demasiado quente


Parte. Parte tudo. Destrói a cama, rasga os lençois, grita no vazio.Esmurra aquilo que foste, o que ambicionas ser. Desarruma cada canto deste mundo. Abre gavetas. Fecha portas. Delira em desempero.
Corre para longe.Esquece. Obriga.
Deixa a chuva correr por dentro de ti. Absorve os medos, os olhares, as dores que te fazem esquecer para constantemente te assaltarem em pesadelos diários. Em que cada segundo é uma eternidade. Uma vida. Um filho.Um velho.
E ela. A solidão, confortável amiga que te acolhe num abraço. Te engana com silêncios de uma falsa paz. Te diz o que pensas querer ouvir, ou melhor te envolve num silêncio que assumes como teu.
Sem intensidade. Sem cor. Sem vozes altas e desafinadas que irritam o que sentes.
Encosta a faca. Corta. Rasga de novo cada milimetro de uma pele que anseias por deixar..
Não voltes atrás. Não faz sentido rever os lugares de dor. Não te fazem construir. Apenas tijolos de uma falsa razão que procuras em vão descortinar.

Corta...mas não te cales.

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