Por outros lábios...
terça-feira, dezembro 30, 2008
terça-feira, dezembro 23, 2008
O Natal em mão fechado
De intenções e presentes também se vai fazendo o meu Natal. Este ano e para parecer que o Natal é maior coloquei meia dúzia de presentes de Natais passados. Por algum bug do destino, ou fracas capacidades de gestão tenho um stock considerável de presentes de outros Natais que não chegaram a ser ao qual se juntaram este ano, outros tantos do Natal que se esperava. Poderia tê-los “reciclado”, tê-los oferecido a novos destinatários e sempre tive a hipóstese de os devolver à loja. Nunca o consegui fazer e em verdade por muito que me entristeça olhar para eles, eles recordam-me momentos de muita felicidade e enorme esperança.
Claro que está na altura de me desfazer deles, porque o lastro daquilo que não foi pesa a dobrar. Não lamento o dinheiro gasto, a disponibilidade mental mal aproveitada. O único que lamento é nunca ter oportunidade de ver os olhos rasgados a rir de brilho quando as mãos tocassem o amor em forma de objecto.
Porque o Natal também se compra mas o amor apenas se dá.
Desejo a todos um Natal Sincero, Verdadeiro e Real
Já que um amigo blogger se antecipou na escolha do enquandramento musical para os seus votos,e me "roubou" a ideia, fica esta bela música que sempre me divertiu muito, mesmo que o video não seja tão cheio de "vitamina ao olho".
segunda-feira, dezembro 22, 2008
Porquê
terça-feira, dezembro 09, 2008
Palavras...palavritas
Como as coisas belas e bonitas são para partilhar, deixo-vos aqui uma pequena amostra de como este Meu amigo, escreve bem, também ele com o coração ao pé da boca, e da mão e do pé. O blog dele, ainda que não actualizado com regularidade, vale sempre uma visita e um comentário.
"Nunca contamos con que los años van cayendo como gotas de lluvia sobre un hierro impoluto, el cual , finalmente se acaba oxidando y asemejandose a los demás trozos mohosos de metal que un día relucieron a la luz de un sol lleno de vida y por qué no?? de ilusión.Ésta posiblemente, fue la razón por la cual nunca imaginó nadie, tanto menos él, un adios tan repentino, pero el amor es traicionero y a veces nos da la mejor de las sensaciones para luego darnos el peor de los dolores. Es dificil ser consciente de que la vida puede estar acabandose tras la siguiente curva, y ella convertirse en precipicio inminente, quizas porque no queramos saberlo, quizas porque no nos guste la idea o quizas porque no estemos hechos para ello... sea cual sea la causa, el irreparable dolor que deja un amigo que se va, es la estaca que abre la brecha de nuestros pensamientos y la razón que nos mueve al porqué de la existencia."
- Desculpe Maria. Dava tudo para não lhe dar esta notícia. É irónico que de novo seja eu a fazê-lo. Anos depois.
-Mais uma coincidência. Apenas isso. Se eu acreditasse em algo que fosse, em Buda talvez, pensaria que existe para me chamar á terra de cada vez que me baralho por ai. Deixe lá. O que não mata engorda já diria a minha avó.
We wish.
segunda-feira, dezembro 08, 2008
Pensamentos obtusos
domingo, dezembro 07, 2008
Fim da linha
António Alçada Batista,
29/01/1927 - 07/12/2008
in "O riso de Deus
sábado, dezembro 06, 2008
Coisas que aparecem assim no IP4
sexta-feira, dezembro 05, 2008
Heróis
“Tu não és a minha mãe! Tu não és a minha mãe!” gemia a minha filha encolhida sobre si, incapaz de me olhar nos olhos, como se a minha presença a assusta-se ainda mais. Tentava a todo o custo tranquilizá-la, mostrar-lhe o quanto a quero, o quanto são eles a coisa boa da minha vida correndo trilhos na minha cabeça a tentar perceber o porquê daquelas palavras.
Segundo ela, eu não sou a mãe. Sou alguém igual à mãe, mas que não é a mesma mãe. Não é uma mãe que sorri, não sou uma mãe “querida”, não sou uma mãe presente. Mas, apesar deste rol de queixas, ela ainda gosta de mim.
No instante que ouvi essas grito de desespero, e por entre gritos cortados a seco do fundo de mim percebi
É difícil, cansativo e diário o esforço por sermos o herói, o tesouro, o segredo mais belo de alguém, mas basta uma pequena escorregadela sem queda aparatosa, para passarmos a ser a desilusão de alguém.
Nos últimos dias a contagem fez-me perder. Eu perdi dois heróis e ganhei o estatuto de “estranha”.
E que o que dói na dor é viverem dentro de nós pessoas que, perante o nosso sofrimento, digam, por palavras nossas: Afinal, quem és tu?
Os que o olham de cima supõem que são as manhãs de sol quem abre as persianas pelo coração. Acham o amor uma relação fora de moda e o melhor que conseguem é encontrar a pessoa dos seus sonhos... para os próximos dias. Não compreendem que a sedução é uma defesa contra os abraços. E não concebem que a segurança seja contar com o amor de alguém (em vez de estar seguro que a pessoa com quem se conta não conte, seguramente, para mais ninguém).
Já os outros reconhecem que, quando ponderamos acerca do que gostamos numa pessoa, já não gostamos dela: reparamos nos pormenores. E que, quanto mais preponderante é um amor, mais a iminência da sua perda nos revolve. Sabem, por mais que não as tenham, que há relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que serão elas a quem chamamos amor. E que esse amor faz do que temos cá dentro uma democracia que nos torna, a todos, iguais nos sonhos e diferentes na forma de os vivermos. E é por isso que, diante das falhas do amor, somos todos crianças desamparadas entre um colo e as cavalitas (como se amar com resignação fosse uma casa de chocolate que, depois de nos distrair, acaba por nos comer).
E que o que dói na dor é viverem dentro de nós pessoas que, perante o nosso sofrimento, digam, por palavras nossas: Afinal, quem és tu?
Na verdade, amar é ver mais longe. Mais longe, até, do que se avista quando se enxerga o coração do planalto de um abraço. Saudar os sonhos com a inocência de quem procura neles um trilho especial. E perceber que tudo o que se sonha é pouco mais do que nada ao pé das relações que iluminam a alma e que incendeiam a paixão. E que só essas fazem dos sonhos o passadiço do amor."
Eduardo SÁ
quinta-feira, dezembro 04, 2008
quinta-feira, novembro 20, 2008
Conduzidos aos bocadinhos, os meus passos convictos á mistura com muito tropeção calçada fora, trouxeram-me ao dia de hoje.Um dia que começou com uma decisão dura mas optimista, com um novo desafio profissional, decorreu entre palavras simpáticas e saborosas vindas de longe, de tempos idos, com encontros, reencontros e destinos. Terminará com um grupo de amigos, pequeno mas repleto de gente que não se vais embora nem que a vaca tussa e pelos braços da melhor coisa que tenho: os meus filhos.
A todos que de, uam forma ou de outra, se esforçaram para fazer deste dia, um dia ainda melhor: muito obrigada e continuem!!!
PS: Reclamação: andam a falhar nos presentes. A malta gosta de surpresas,tà?
terça-feira, novembro 18, 2008
Uma lição "quase" perfeita
Sei, por experiência que os homens também “ambicionam” uma princesa perfeita, ainda que com defeitos. Também sei que, desta extensa lista, há pontos que conseguimos, com honestidade, frontalidade, medo, coragem ou falta de jeito cumprir. E mesmo quando os não os conseguimos cumprir todos, vale a pena conhecê-los. Caso se preencham todos estes requisitos ficamos mais perto desse lugar que de perfeito tem pouco: O de ser um ser humano completo na base do outro.
A ti: desculpa o abuso, mas como afirmei recentemente as primeiras impressões são as que mais marcam e nesta lista está um belo cesto de sorrisos.Obrigada.
“(...)a propósito de uma lista de coisas que está no teu blog, eu também tenho uma lista mental do que é a mulher perfeita
(a ser inventada, claro!).
Eu gosto de:
1. Pessoas que tenham personalidade
2. Que tenham ideias originais
3. Que não se importem que eu goste de futebol e que percebam que isso não é incompativel com gostar de ler, ouvir musica ou conversar
4. Que reclamem carinhos que só por distracção ficaram por dar
5. Que saibam que os outros são diferentes e é por isso que gostamos deles
6. Que não se importem de chegar a casa e ver que afinal eu ainda não cheguei porque me distrai com as horas a conversar com alguém
7. Que saibam rir das patetadas que fazem
8. Que saibam que eu vou rir - quando me pedirem para não me rir de uma patetada qualquer que fizeram - porque me estou a rir com elas e não delas
8. Que entendam que os amigos são sempre bem vindos porque ser bem vindo é uma coisa que sabe bem
9. Que achem que pensar de forma diferente é um desafio e não um obstáculo
10. Que não tenham medo de arriscar
11. Que percebam os silêncios e que eles são às vezes a melhor forma de se dizer muita coisa
12. Que não tenham medo de dizer: amo-te (P), as vezes todas que quiserem
13. Que no meio do barulho percebam que os meus lábios estão a dizer isso mesmo
14. Que percebam que ser racional é uma arma para resolver situações e não um estado de espirito
15. Que ser irracional, emotivo e sincero é quase sempre um valor
16. Que se atrasem porque se distrairam com uma coisa qualquer mas entendam o possivel raspanete e saibam que se pedirem desculpa eu vou render-me
18.Que gostem de ver filmes no sofá com edredon e peçam qualquer coisa que esteja na cozinha exactamente no momento em que me enrosquei ao lado delas
19. Que o façam com um sorriso desarmante
20. Que saibam que vão ser obrigadas a pagar isso com muitos beijos
21. Que não reclamem por coisas futeis como por exemplo não ter arrumado os jornais que ficaram espalhados na sala
22. Que me digam que estou a ser um imbecil, quando mereço que isso seja dito
23. Que tenham segurança suficiente para não ter medo de falhar
24. Que me ajudem quando precisar
25. Que me peçam o mesmo quando precisam
26. Que tenham bom gosto
27. Que não liguem muito ao dinheiro porque ele é um meio e não um fim
28. Que aos abraços me digam que conseguiram qualquer coisa que desejavam muito
29. Que gostem de fazer amor às horas mais estapafurdias porque o sexo não tem horas
30. Que sejam inteligentes
31. Que tenham interesses completamente diferentes dos meus além dos que partilhamos em comum
32. Que me ensinem qualquer coisa que aprenderam e eu não sei
33. Que me perguntem o que querem saber
34. Que entendam que chorar é uma coisa normal e que é fundamental chorar quando for isso que têm que fazer
35. Que tenham coragem em sentido lato
37. Que entendam que amar não é uma obrigação, porque é um prazer
38. Que me vão buscar ao aeroporto ou que digam que não podem mas apareçam de surpresa
39. Que aceitem excessos da minha parte porque de vez em quando me apetece ser assim
40. Que me perguntem se posso ir buscar qualquer coisa delas que nem sei bem para que é que serve apenas porque têm preguiça
41. Que saibam partilhar
42. Que percebam que partilhar não é ceder mas sim recebe.
44. Que saibam que isso é essencial
45. Que gostem de andar pela rua
46. Que saibam perder
47. Que saibam ganhar 48. Que cedam no que achem que é acessório mas que não cedam no que acham que é essencial
49. Que percebam que eu gosto de praia quando ela está quase a acabar
50. Que saibam que eu sei que elas estão cheias de defeitos como eu
51. Que percebam que eu tenho dois pés esquerdos para dançar mas que faço um esforço
52. Que percebam que a vida deve valer a pena
53. Que saibam que esta lista é exemplificativa e não taxativa e que eu sei que elas também têm uma
55. Que me surpreendam com um sms idiota do estilo: "desculpa mas apesar de estar tudo bem e de te amar vou partir para a Islândia com um chefe de cozinha russo"
56. Que tenham duas pernas e dois braços de preferência
57. Que sejam bonitas quando sorriem
58. Que não sejam racistas
59. Que percam tempo a fazer qualquer coisa para mim porque estão a gostar
60. Que me dêm prendas
62. Que entendam que nada é perfeito
62. Que saibam que existem sempre pessoas melhores que nós e outras piores, mais ricas mas também mais pobres, mais inteligentes mas também menos, mais bonitas mas também mais feias, enfim que saibam relativizar o Mundo
64. Que não sejam cagonas
65. Que me digam: "mas porque é que não queres favas?", quando sabem que odeio favas
66. Que pintem as unhas quando estou atrasado e com uma calma olimpica secretamente olhem para mim enquanto se estão a rir por dentro por eu ter olhado para a cena e ter fechado a boca enchendo-a de ar para evitar dizer quarenta e sete asneiras óbvias
67. Que façam planos de projectos que podem ser possiveis ou não
68. Que entendam que deixo livros por todo o lado
69. Que sejam criativas
Nada a fazer portanto. É ir vendo até que ponto é que o desejado se encontra com o possivel.”
Paris
Uma história do tempo, ou da falta dele. Da ordem, dos compassos de cada vida. Do vai e vém de esperas. De desencontros que permitem outros encontros.
...de como nada temos a perder porque no fundo nada temos.
Ou a simples demonstração de como é dificil fazer um strip sexy de calças elasticas.
segunda-feira, outubro 27, 2008
Feliz aniversário futuro caçador de mitos...
terça-feira, outubro 21, 2008
Para onde vão os nossos heróis quando se cansam...?
Sempre olhei de soslaio todas as pessoas ou melhor pais, que de armadura em riste forrada de conceitos apreendidos de livros de pedospsiquatria, psicologia infantil, peuricultura e afins, se sentiam capazes de dar profundos conselhos a qualquer outro pai que, um pouco envergonhado levava as mãos à cabeça e admitia não saber o que fazer com o seu rebento.
Uma vez mais, a vida encarrega-se de me colocar em linha e percorrer caminhos literários idênticos, na busca do derradeira receita para fazer do meu filho, de novo, uma criança feliz.
E assim lá vai ela para a FNAC todas as semanas ler e reler tudo o que se publica sobre formas de lidar com a depressão infantil, o bullying, a neura, o desalento, o desamparo (de ambos), de tal forma que já tenho o direito de ouvir comentários graciosos ao jeito de "estás a tentar transformar-te na Marta Stewart da maternidade'"?.
Não. Apenas procuro a felicidade dele, ou pelo menos um tapete almofado que lhe ampare a queda, já que eu, por defeito, também não acredito nela.
Neste percurso de psicologia de trazer por casa, e ao longo das várias consultas do CADIN, que se amortizam semanalmente ano a ano, tenho encontrado textos muito bonitos, esclarecedores e até apaziuguadores de algumas mágoas pessoais, que vão muito além da minha faceta de mãe, nomeadamente do escritor Eduardo Sá, que publicarei aqui, sempre que façam sentido como encaixe das várias conversas tidas com aquele que sendo apenas uma infima parte de mim, é sem dúvida a melhor.
A propósito das falsas promessas, da amizade que se oferece em saldo e rapidamente se esgota, do "gosto muito de ti e nunca te vou esquecer", do fraca consolação do "és muito especial", aqui fica um pequeno texto do autor:
"Há pessoas que põem palavras nos nossos sentimentos. Parecem-se com os poetas. Mas depois, de surpresa, abandonam os nossos sonhos pé ante pé ou de “pantufas”. Não sei... Na verdade, decepcionam-nos (devagarinho) e, quando damos por isso, apagam-se dentro de nós. Deixam de ser preciosas e, por tudo o que valeram, não podem voltar a ser só (!) nossas amigas. Partem para uma “terra de ninguém”, muito distante do sítio onde vivem os génios da lâmpada, o Pai Natal, as fadas e os duendes. E por lá ficam. Mais ou menos errantes.
Imagino esse lugar, onde se acotovelam tantas pessoas que nos disseram tanto, como um Purgatório, com a particularidade de lá não se ser promovido, com facilidade, até ao Céu. É verdade que essas pessoas não se transformam num inferno dentro de nós, embora, por vezes, surjam, ora como um vulto ora como uma silhueta ou, até mesmo, como uma estrela cadente que, atravessando o nosso coração, já não provoca um arrepio (muito menos, um calafrio, que são aqueles sentimentos impetuosos que nos desabotoam a cabeça e nos deixam a arder de paixão e a tremer de medo, ao mesmo tempo).
Afinal, não são nem amigos nem amores. Transformam-se num museu? Numa arqueologia de todos os amores, por exemplo? Às vezes, nem isso. Infelizmente. Se fosse assim, estáticas, empoeirados, seguravam-se no nosso coração. O que não acontece às pessoas que foram perdendo a magia...
Este “não sei onde” é uma espécie de cemitério de poetas dentro de nós. Um lugar de silêncio que convida a espreitar para o que sentimos. Com surpresa e com dor, ao descobrirmos que, ao contrário do que sempre desejámos, há relações – luminosas - que foram morrendo para nós. Às vezes assusta. Afinal, não é simpático descobrirmos que mora em nós alguém que, não sendo o Capitão Gancho, tenha ajudado a morrer quem trouxe poesia, ou luz, ou um insustentável rebuliço ao que sentimos... Às vezes, atormenta. Porque magoa descobrirmos que – mesmo quando nos imaginamos a dar a sala mais espaçosa do nosso coração - também nós, dentro de algumas, vivemos sem viver, errantes, nesse “não sei onde” de alguém, entre os seus amigos e os seus amores. Às vezes ainda, somos tocados pelos galanteios da vida e, levados pelo entusiasmo, imaginamos que, se desejarmos com muita força, algumas das pessoas que guardamos no nosso cemitério de poetas ressuscitam e regressam, cheias de luz, para surpresa do Pai Natal ou das fadas. Eu sei que também entre as pessoas há quem pareça mágico mas intocável. Como eles. Mas: esse é o cais de embarque que, de surpresa, nos pode levar (sem volta) para o cemitério dos poetas."
[Eduardo Sá]
domingo, outubro 19, 2008
terça-feira, setembro 30, 2008
Um gajo normal
segunda-feira, setembro 29, 2008
Before is too late
"I wander through fiction to look for the truth
Buried beneath all the lies
and I stood at a distance
To feel who you are
Hiding myself in your eyes
And hold on before it's too late
We'll run till we leave this behind
Don't fall just be who you are
It's all that we need in our lives
and the risk that might break you
Is the one that would save
A life you don't live is still lost
So stand on the edge with me
Hold back your fear and see
Nothing is real 'til it's gone
So live like you mean it
Love 'til you feel it
It's all that we need in our lives
So stand on the edge with me
Hold back your fear and see
Nothing is real 'til it's gone"
Goo Goo Dolls
domingo, setembro 28, 2008
Entre portas
Há na vida inúmeras razões para mudar. Inúmeras circunstâncias que nos moldam. Toneladas de experiências que em passos de segundos nos corrigem. Uma casa é um motor tão forte como qualquer amor, ou abraço desejado em desespero.
Hoje, essa casa é minha. Essa mudança é minha. A razão do meu silêncio.
Tem o meu cheiro a correr à mistura com as minhas vozes. A 3 a 4 ou a 6 decibéis de prazer. Está repleta de passados. Cheia de escolhas próprias que reflectem como espelho velho e amarelecido pelos milhares de olhares, aquilo que fui, aquilo que ambiciono ser e melhor ainda, aquilo que sou.
As ausências também têm um tecto aqui. Quando se fecha os olhos e entre cortados eles nos levam de volta a outras casas. Quando nos entre alma adentro as pernas por cima de tapetes que antes se pisaram. E ao rever vemos os livros que hoje se lê, as palavras desditas dos jornais de hoje. Os sorrisos ténues de certezas, esperança, de quem pensa noutras casas, noutros móveis, cheiros, pedaços de dia-a-dia espalhados.
É por isso que me escrevo. Para que daqui a muito tempo, também outros passos regressem aqui.
Fomes
- Como te sentes?
Hesita por momentos, como se da sua resposta dependessem vidas. Como se as procurasse com cuidado no fundo da sua mala sempre desarrumada. Remexe-se na cadeira, respira. Abre a boca de mansinho mas cala.
- Exausta. Vazia. Tranquila. Arrumadinha como o quarto no momento seguinte á passagem do serviço de quartos. Esfomeada. Estou capaz de comer um boi.
Não consigo evitar rir ás gargalhadas. Daquelas cheias, a abarrotar de satisfação.
- Definitivamente estás diferente.
- Parece que me livrei das pedras que tinha entaladas na garganta e que impediam a passagem do susbstracto do corpo, da reles comidinha, do prazer. Sinto-me tão leve que preciso de comida para servir de lastro.
Sorria com vontade, enquanto virava o rosto e depositava o olhar no jovem sentado na mesa ao lado. Como se o visse pela primeira vez e gostasse do que os seus olhos lhe mostravam.
- Convido-te para jantar. Há que celebrar essa fome toda com algo substancial.
- De acordo. Mas escolhes tu. Aviso que estou com um apetite voraz.
Continuou calada toda a viagem. Não mudou a estação de rádio. Não se queixou do frio. Não reclamou do facto de não poder fumar..
quarta-feira, setembro 17, 2008
John Mayer - Free Fallin'
O meu chefe....
Não sei se alguma vez mencionei por aqui o facto de ter o melhor chefe do mundo! É mesmo isso, sem enganos ou sobressaltos. O meu chefe tornou-se com o passar dos anos e o aperto do trabalho e da vida, um dos meus melhores amigos.Muitas vezes vestiu ele o fato de Cavaleiro Andante (CH, obviamente!)
Para o Consolidar (Risos) desta forma de ser e estar, que é a nossa amizade disfarçada de muitos formalismos, contribuiu o facto de termos praticamente a mesma idade, backgrounds comuns, ambições parecidas e até defeitos convictos em nós.
Todos os dias aprendo algo novo com ele, seja uma anedota picante ou um novo príncipio económico. Aprendo que um sorriso faz milagres, permito-me ser eu e ter prazer por ai, a rir e brincar com o lado cinzento da vida.
Pela mão do chefe de má fama (cão que ladra não morde mas irrita!!!), conheci esta versão de uma música que muito mexe comigo.Afinal somos mais parecidos do que ambos suspeitávamos.
Por isso chefinho: SHOW ME THE MONEY!!!!
segunda-feira, setembro 15, 2008
in O Animal Moribundo de Philip Roth
sexta-feira, setembro 12, 2008
quinta-feira, setembro 11, 2008
terça-feira, agosto 05, 2008
"- J'ai peur que t'aies plus envie de moi, si tu me vois..." ou ando a precisar de comer mais crepes...
"Clic clac. Plus personne ne bouge. Moment suspendu. Bonheur"
"Même pas heureux d'ailleurs, ils n'étaient plus si exigeant. D'être ensemble, c'est tout. Et déjà c'était inesperé."
"Demain, il lui offrirait des crêpes Suzette pour la retenir à tout jamais."
"T'es contente de toi là ? Elles te gênent pas tes ailes quand tu marches ?"
"Tu vas pas t'en tirer comme ça ! Chose promise, orgasme dû !"
Muros homónimos
- Está bem, Camille, nunca te amarei.
- Obrigado, Franck. Eu também não!
quarta-feira, julho 30, 2008
segunda-feira, julho 28, 2008
"Lembro-me agora que tenho de marcar um
sexta-feira, julho 18, 2008
terça-feira, julho 15, 2008
terça-feira, julho 08, 2008
segunda-feira, julho 07, 2008
sexta-feira, julho 04, 2008
Sossurro à nuca do espelho
Coisa mais bonita é você,
quarta-feira, julho 02, 2008
Três gomos de saudade
ser como a noite que que passa em branco,
o comboio que regressa tarde ao reencontro esperado,
o grande amor de um poeta suicida num calmo entardecer.
O vento que espelha o ar espantalho,
as mil imagens dos teus olhos quentes
o único sorriso dos teus lábios memória
a tristeza guardada em mão fechada.
Quisera ser uma noite
tudo o que em palavras construo.
Ser o nada que te acalma,
ser o prazer das tuas noites etéreas,
ser a seiva dos teus suspiros,
não ser os medos da tua vida,
Não ser o teu segredo.
Não viver a tua vontade,
não cheirar as tuas flores.
Não cruzar os teus passos,
não sentir a tua presença vã,
não ser tudo aquilo que um dia quisera ser por ti...
Não quero
sentir esta presença negada,
ao teu espaço complexo.
Quero ser tua na tua mão.
sexta-feira, junho 27, 2008
Mudança para o Suprasumo do sossego
quinta-feira, junho 26, 2008
Sossego também pode ser o som dos nossos passos numa casa cheia de sorrisos...
Sossegar é saber com o que se conta, desde o azul do céu aos irmãos. O coração sossega em quem se conhece.
Sossegar é conhecer uma totalidade, as coisas feias ou bonitas, mas previsíveis e familiares. É por isso que sossega olhar para um rosto amado, que se conhece, ouvir a voz dessa pessoa, mesmo quando está a dizer disparates.
Não há falinhas mansas que tragam o sossego dos gritos duma pessoa com quem se pode contar. É um alívio.
Só a ordem pode sossegar, por muito alterosa que seja. A tempestade sosssega o marinheiro que conhece bem o barco e o mar."
Miguel Esteves Cardoso, in Verbos Irregulares
terça-feira, junho 24, 2008
My House in the middle of my street
Respirando cielo y horizonte
Esperabas ver la primera estrella
Para decidir cual es su nombre
Y seguir la historia que viaja en ti
Los sueños que te guian cada paso
A veces despertar en una casa
Es como despertar en un abrazo."
Mafalda Veiga M
quinta-feira, junho 12, 2008
Forward
15 anos de vida cabem em inúmeros caixotes que se empilham à espera dos braços de amigos voluntariosos para serem tresladados para um pedacinho novo de vida, com 90 m2 e muita esperança para preencher. Assim e como este ciclo parece que se encerra, esforço-me por fazer a triagem mais exaustiva da minha vida eliminando “entantos”, restinhos de amores que nunca chegaram a ser, memórias espelhadas em bilhetes de museus, concertos, talões de embarque, panfletos em diversas línguas, como que a provar que realmente vivi de facto todas essas experiências. Hoje já não preciso dessas provas materiais daquilo que vivi, não necessito de objectos de afectos cristalizados, para me lembrar do que senti e do quanto feliz se foi.
Tenho uma casa nova. Pequena mas simpática como eu, com tudo o que necessito para começar a minha vida renovada. Com tectos altos e portadas brancas que se abrem de par em par. Com o meu canteiro de ervas de cheiro, com retratos de amigos que partiram e histórias de mim. Com puffs e garrafas e livros e música. Comigo. Para mim e os meus amores e à minha maneira. Apenas à minha maneira.
Hoje é noite de Santo António e ele peço que entre casamentos, abençoe este meu novo estado civil.
Desculpem a falta de inspiração mas ultimamente é mais uma questão de transpiração.E de preguicite confessa!
sexta-feira, junho 06, 2008
quarta-feira, junho 04, 2008
Tic- tac; tic-tac
o tempo transforma tudo em tempo .
O ódio transforma-se em tempo ,
O Amor transforma-se em tempo ,
A dor transforma-se em tempo .
Os assuntos que julgávamos mais profundos,
mais impossíveis ,
mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo .
Por si só , o tempo não é nada .
E idade de nada é nada .
A eternidade não existe .
No entanto, a eternidade existe .
Os instantes dos teus olhos parados sobre mim ,
eram eternos .
Os instantes de teu sorriso ,
eram eternos .
Foste eterna até ao fim ."
José Luis Peixoto
no en(tre)tanto...
Miguel Esteves Cardoso;"no entanto"
sexta-feira, maio 30, 2008
Piropo
José Eduardo Agualusa na revista Pública, crónica de 4 de Maio de 2008
quinta-feira, maio 29, 2008
Dolce Vita
Ele já tinha reparado nela.Partilhavam uma zona de alimentação de um centro comercial.Tinha-lhe admirado a escultura perfeita do corpo e o olhar onde cabia o mundo.Estava sempre acompanhada,passando os fins de tarde a estudar e a tomar notas.Um dia,com a colega ausente,por inexplicável magia ficaram de cadeiras coladas.Ela levantou-se,pedindo-lhe com doçura para zelar dos livros e do portátil,enquanto ia á casa de banho,concluindo com um sorriso terno e com a promessa de breve regresso.
Ele esperou,mirando e remirando os livros.Ela voltou com o sorriso a incendiar-lhe a alma,agradeceu e começaram a falar.A propósito de nada,falaram de tudo.
Era estudante de medicina,faltando-lhe dois anos para terminar o curso,sendo natural de uma cidade minhota.
As horas passaram rápido e a esse dia outros se sucederam,com raras intermitências,provocadas pela incomoda,mas involuntária presença da colega.Uma esdrúxula magia instalou-se e sedimentou-se.Trocavam sorrisos e risos,ouviam-se,confidenciavam estados de alma,mergulhavam nos caboucos das suas vidas.
Provaram o fast-food,enquanto ela perorava sobre os malefícios daquele,demonizando-o e tragando-o,misturando sentenças médicas,com nacos de bom humor.E ria,ria muito.
Um dia,quando já tinham partilhado longas horas de conversa e aferido os sentimentos na distancia de um fim de semana,ele convidou-a para um jantar formal,longe do lugar onde tudo desabrochara.Ela desenhou um sorriso atento e pela primeira vez,sem responder ao convite,olhou para o dedo anelar da mão direita dele,onde repousava uma alva aliança,questionando o significado de tudo aquilo.
Ele explicou tudo,com tocante sinceridade e absoluta veracidade.Desnudou a alma,assumindo que não conseguia despir aquele objecto metálico,frio na forma,mas escaldante de conteúdo,porque prenhe de memorias e sentimentos vivos.Falou-lhe do tempo e do que por ela sentia.Ela ouviu e sorrindo sempre,disse que ia pensar em tudo.Despediram-se com um beijo meigo,marcando encontro para o dia seguinte.
Ele esperou.Ela não estava.Ele esperou muito.Ela não veio.
À noite,na hora do lobo,o telemóvel tocou.Era ela.Pediu desculpa pela ausência.Por momentos,aquela voz que ele tanto gostava,voltava a fulgurar a noite,dilacerando-lhe a tristeza.
Disse que tinha reflectido muito e que concluiu ser melhor não se verem mais,porque não queria sofrer,que não gostava de esperar.Ele argumentou,rebateu,propôs um encontro esclarecedor,definindo barreiras e pedindo-lhe tempo.Ela não aceitou a proposta,porque dizia que temia envolver-se mais e mais.Deixou em aberto a questão do tempo.
Ele voltou ao centro comercial,mas ela não mais voltou.O mundo tornou-se mais desinteressante e o colorido do centro comercial tornou-se plumbeo cerrado.
Um dia ele espera chegar e vê-la rodeada de livros,sorrindo para ele,com aquele sorriso que lhe mima a alma,com aqueles olhos onde cabe o mundo,com o langor melifluo do cio.
Ele sente a falta dela.Eu sinto a falta dela.
Superpoderes
quarta-feira, maio 28, 2008
As minhas lembranças sabem a vício
E já nada disto, juro, era teu.E foi assim que descobri que todas as coisas continuam para sempre, como um rio que corre ininterruptamente para o mar, por mais que façam para o deter.
Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas.
Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre passaremos pela sombra da árvore onde tantas vezes parámos, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido.
Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem principio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo.
E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas ilusões de que tudo podia ser meu pra sempre. "
Miguel Sousa Tavares in "Não te deixarei morrer, David Crocket"
quinta-feira, maio 15, 2008
Minha laranja amarga e doce
Gosto das ideias sossegadas, preguiçosas e compostas deitadas sobre uma cama doce e quente num silêncio de paz, que existe neste corpo desarrumado com gosto.
Gosto de inspirar este aroma que me envolve e se mistura com a chuva no asfalto quente e um suspiro floral das jacarandás que nos garantem a Primavera.
Gosto do som que as memórias frescas repetem em mim até à exaustão confessa de um sorriso cúmplice.
Gosto de olhar o espelho e não ter saudades de mim. De me sentir madura e moldada pelo tempo e saber-me mais bonita no futuro que se aproxima quando se esbate o reflexo cansado do exercício e do esforço de crescer. Gosto de ser crescida.
Gosto do que não sei dizer. Gosto do que ainda não sei mostrar.
Gosto de me descobrir em pequenas surpresas folheadas sem pressas.
Gosto de ser assim. De me viver assim.
De gostar que gostes.
terça-feira, maio 13, 2008
Ces Petits Riens
Um aniversário mais, um diálogo que não se esgota, umas mãos que se embrulham, os sorrisos que se soltam. Os segredos que se contam, as esperanças que se descotam, os motivos que se justificam.
Assentas-me bem.Sem mais, nem porquês.
quarta-feira, maio 07, 2008
Mensário
José Luís Peixoto, in Uma Casa na Escuridão
quinta-feira, abril 24, 2008
segunda-feira, abril 21, 2008
A idade do suspiro...
Por graça ao longo dos anos, os amigos habituaram-se a ouvir-me dizer que “casaria” com o primeiro homem que gostasse de Mafalda Veiga. Como se de alguma forma essa partilha de gostos podesse ser extrapolada numa garantia de felicidade certeira.
Praticamente um ano depois, e muita água passada debaixo destas pontes que se foram construindo percebo o quanto é fácil querer cosntruir alicerces de betão armado feitos de açucar amarelo. Não dá. A paixão tolda raciocínios e embrulha os medos, disfarça as diferenças, mascára os defeitos que não queremos ver, mas quase nunca nos mostra a massa de que as pessoas são feitas.Poder-se-ia gostar de Mafalda Veiga, por uma tarde como ramo de flores entregue á saída do escritório a jeito de querer confessado, mas nunca se seria fã da mesma Mafalda, pelos mesmos motivos, até porque ai não haveria nada a aportar.
Ao mesmo tempo que se discute o amor e se vive a paixão consubstancio esta minha ideia de que o mesmo não é compatível com desculpas esfarrapadas de ausência de tempo, dinheiro ou simples disponibilidade mental O amor, genuino no sentido, não se compraz com pedidos de ausência para arrumar ideias, a casa ou do Impresso do IRS que está a atrasado. Na paixão não se podem mendigar afectos, carinhos, atenções, nem aceitar que nos neguem o direito de os dar, porque é isso que nos apazigua o pequeno coração. Nada é suficientemente rídiculo, patético, impossível, imaturo quando se esta apaixonado. Dizemos as coisas mais adolescentes a propósito de um sorriso que nos faz feliz e mais bonitas.Ainda que agora as circunstâncias da nossa vida não tenham uma dose de imprevisisbilidade tão grande, e por muito que convictamente acreditemos que já não há nada de novo a descobrir, reside na essência da paixão essa capacidade de nos surpreendermos, de nos deixarmos levar, de repetir comportamentos que pensavamos ter deixado para trás.
Antes namoravamos ás escondidas dos pais ...agora namoramos ás escondidas dos filhos e somos capazes de afectos desnorteados que envergonhariam qualquer um deles...e somos felizes.
A propósito da simplicidade e da forma como o amor nos reorganiza a agenda e os hábitos aqui fica um texto do Alvim, que ás vezes até me consegue fazer rir.
“Esta coisa de gostar de alguém não é para todos e, por vezes – em mais casos do que se possa imaginar – existem pessoas que pura e simplesmente não conseguem gostar de ninguém. Esperem lá, não é que não queiram – querem! – mas quando gostam – e podem gostar muito – há sempre qualquer coisa que os impede. Ou porque a estrada está cortada para obras de pavimentação. Ou porque sofremos de diabetes e não podemos abusar dos açucares. Ou porque sim e não falamos mais nisto. Há muita gente que não pode comer crustáceos, verdade? E porquê? Não faço ideia, mas o médico diz que não podemos porque nascemos assim e nós, resignados, ao aproximar-se o empregado de mesa com meio quilo de gambas que faz favor, vamos dizendo: “Nem pensar, leve isso daqui que me irrita a pele”.Ora, por vezes, o simples facto de gostarmos de alguém pode provocar-nos uma alergia semelhante. E nós, sabendo-o, mandamos para trás quando estávamos mortinhos por ir em frente. Não vamos.. E muitas das vezes, sabendo deste nosso problema, escolhemos para nós aquilo que sabemos que, invariavelmente, iremos recusar. Daí existirem aquelas pessoas que insistem em afirmar que só se apaixonam pelas pessoas erradas. Mentira. Pensar dessa forma é que é errado, porque o certo é perceber que se nós escolhemos aquela pessoa foi porque já sabíamos que não íamos a lado nenhum e que – aqui entre nós – é até um alívio não dar em nada porque ia ser uma chatice e estava-se mesmo a ver que ia dar nisto. E deu. Do mesmo modo que no final de 10 anos de relacionamento, ou cinco, ou três, há o hábito generalizado de dizermos que aquela pessoa com quem nós nos casámos já não é a mesma pessoa, quando por mais que nos custe, é igualzinha. O que mudou – e o professor Júlio Machado Vaz que se cuide – foram as expectativas que nós criamos em relação a ela. Impressionados?
Pois bem, se me permitem, vou arregaçar as mangas. O que é díficil – dizem – é saber quando gostam de nós. E, quando afirmam isto, bebo logo dois dry martinis para a tosse. Saber quando gostam de nós? Mas com mil raios, isso é o mais fácil porque quando se gosta de alguém não há desculpas nem “ ai que amanhã não dá porque tenho muito trabalho”, nem “ ai que hoje era bom mas tenho outra coisa combinada” nem “ ai que não vi a tua chamada não atendida”.Quando se gosta de alguém – mas a sério, que é disto que falamos – não há nada mais importante do que essa outra pessoa. E sendo assim, não há sms que não se receba porque possivelmente não vimos, porque se calhar estava a passar num sítio sem rede, porque a minha amiga não me deu o recado, porque não percebi que querias estar comigo, porque recebi as flores mas pensava não serem para mim, porque não estava em casa quando tocaste.
Quando se gosta de alguém temos sempre rede, nunca falha a bateria, nunca nada nos impede de nos vermos e nem de nos encontrarmos no meio de uma multidão de gente. Quando se gosta de alguém não respondemos a uma mensagem só no final do dia, não temos acidentes de carro, nem nunca os nossos pais se sentiram mal a ponto de nos impossibilitarem o nosso encontro. Quando se gosta de alguém, ouvimos sempre o telefone, a campaínha da porta, lemos sempre a mensagem que nos deixaram no vidro embaciado do carro desse Inverno rigoroso. Quando se gosta de alguém – e estou a escrever para os que gostam - vamos para o local do acidente com a carta amigável, vamos ter com ela ao corredor do hospital ver como estão os pais, chamamos os bombeiros para abrirem a porta, mas nada, nada nos impede de estar juntos, porque nada nem ninguém é mais importante, do que nós."
Fernando Alvim
quinta-feira, abril 17, 2008
As costas da nossa pele
Damien Rice - Delicate
As mãos na pele, a pele á flor da mim. A conversa fácil do toque que se reconhece.
As mãos na terra, a semente na boca.
quarta-feira, abril 16, 2008
Os afectos
Ah, quantos sonos incompletos
Mas oh, quanta palavra tomou vida
Na nascente dos afectos
Desorganizados alfabetos
Não sabe ler neles quem pensa
nem lhe conhece bem as cores
quem por secundários os dispensa
aos afectos medidores do corpo e da alma e seus sabores
Porque o quadrado da hipotenusa
é igual a já não sei quê dos catetos
a traça do passado é tão confusa
mas tão límpida a lembrança dos afectos
são fartos e temíveis
são as cordas sensíveis
quietos irrequietos p´ra sempre politicamente incorrectos
os afectos, os afectos
Era de uma espécie quase extinta
foi encontrada adormecida
a cara talvez em paz, talvez faminta
esperando a investida
de um só beijo que a devolva à vida
Já que se pede ao amor loucura
não se lhe dê veneno à flecha
nem triste pecado à mordedura
abre o pano e até que fecha o amor busca nos afectos a deixa
Porque o quadrado da hipotenusa
é igual a já não sei quê dos catetos
a traça do passado é tão confusa
mas tão límpida e lembrança dos afectos
são fartos e temíveis
são as cordas sensíveis
quietos irrequietos pra sempre politicamente incorrectos
os afectos, os afectos "
Sérgio Godinho
terça-feira, abril 15, 2008
Pai apetitoso
Vamos à pesca disse o pai para os três filhos
vamos à pesca do esturjão
nada melhor do que pescar
para conservar a união familiar
a mãe deu-lhe razão
e preparou sem mais detença
um bom farnel
sopa de couves com feijão
para ir também
à pescaria do esturjão
e a mãe e o pai
e os três filhos
foram à pesca do esturjão
todos atentos
satisfeitíssimos
que bom pescar
o esturjão!
que bom comer
o belo farnel
sopa de couves com feijão!
e foi então
que apanharam
um magnífico esturjão
que logo quiseram
ali fritar
mas enganaram-se na fritada
e zás fritaram o velho pai
apetitoso
muito melhor
mais saboroso
do que o esturjão
vamos para casa
disse o esturjão "
Mário-Henrique Lieira
Todo o desejo é miope...ás vezes mesmo cego
"Estendeu os braços carinhosamente e avançou, de mãos abertas e cheias de ternura.
-És tu Ernesto, meu amor?
Não era.
Era o Bernardo.
Isso não os impediu de terem muitos meninos e não serem felizes.É o que faz a miopia."
Mário Henrique-Leiria
A luz que o meu querer reflecte é a forma das minhas palavras quando nuas...
Sempre um pouco antes, sempre um pouco depois.
Ela sabe que não se pode revelar definifivamente como, e porquê, uma pessoa ficou apaixonada por esta pessoa, precisamente esta, e não por outra muito parecida com ela. Qualquer razão perde a razão.
O que uma pessoa pode sentir é se está ou não apaixonada.
Que houve um estreito abismo, sem saber quando nem como, sobre o qual sabe que saltou. Sem poder avaliar as consequências. Como uma doença. Não é só isso.
Uma pessoa quando está apaixonada não está continuamente apaixonada, muito menos com a mesma intensidade. Varia muito. Acontece uma pessoa duvidar se está ou não apaixonada. Ficar totalmente baralhada.
É mais fácil uma pessoa sentir a paixão por outra pessoa quando ela não está presente.
Isso parece-lhe um facto. A sua ausência aumenta o poder da sua presença.
A paixão é mais sua, mais inteira, há menos interferências.
Com ela é assim. Sente um vazio que só o outro, único no mundo todo, vai poder preencher, sarar, cuidar. Uma espécie de saudade imperiosa. Uma questão de vida ou de morte."
in Rosa Vermelha em Quarto Escuro, Pedro Paixão
segunda-feira, abril 14, 2008
Oficialmente não tinha razão...mas algures por ai está uma nêspera em cima da mesa...
"Uma nêspera
estava na cama
deitada
muito calada
a ver
o que acontecia
chegou a Velha
e disse
olha uma nêspera
e zás comeu-a
é o que acontece
às nêsperas
que ficam deitadas
caladas
a esperar
o que acontece."
Mário Henrique-Leiria
sexta-feira, abril 11, 2008
Já chegou a Primavera?
É fácil saber se um amor é o primeiro amor ou não. Se admite que possa ser o primeiro, é porque não é, o primeiro amor só pode parecer o último amor. É o único amor, o máximo amor, o irrepetível e incrível e antes morrer que ter outro amor. Não há outro amor. O primeiro amor ocupa o amor todo.
Nunca se percebe bem por que razão começa. Mas começa. E acaba sempre mal só porque acaba. Todos os dias parece estar mesmo a começar porque as coisas vão bem, e o coração anda alto. E todos os dias parece que vai acabar porque as coisas vão mal e o coração anda em baixo.
(...)
Diz-se que não há amor como o primeiro e é verdade. Há amores maiores, amores melhores, amores mais bem pensados e apaixonadamente vividos. Há amores mais duradouros. Quase todos. Mas não há amor como o primeiro. É o único que estraga o coração e que o deixa estragado.
É como uma criança que põe os dedos dentro de uma tomada eléctrica. É esse o choque, a surpresa «Meu Deus! Como pode ser!» do primeiro amor. Os outros amores poderão ser mais úteis, até mais bonitos, mas são como ligar electrodomésticos à corrente. Este amor mói-nos o juízo como a Moulinex mói café. Aquele amor deixa-nos cozidos por dentro e com suores frios por fora, tal e qual num micro-ondas. Mas o «Zing!» inicial, o tremor perigoso que se nos enfia por baixo das unhas e dá quatro mil voltas ao corpo, naquele micro-segundo de electricidade que nos calhou, só acontece no primeiro amor.
O primeiro beijo é sempre uma confusão. Está tudo a andar à volta e não se consegue parar. A outra pessoa assalta-nos e deixa-nos tontos, isto apesar de ser tão tímida e inepta como nós. E os nomes dos nossos primeiros amores? Os nomes doem. Parecem minúsculos milagres. Cada vez que se pronunciam, rebenta um pequeno terramoto no equador. E as mãos? Quando a mão entra na mão de quem se ama e se sente aquele exagero de volts e de pele, a única resposta sensata é o assassínio, o exílio, o suicídio. Nada fica de fora. O mundo é uma conspiração cinzenta de amores em segunda mão. Nada é puro fora daquelas mãos. O tesouro está a arder, as pessoas estão a morrer, os olhos cheios de luz estão a cegar, mas o primeiro amor é também, e sem dúvida, o primeiro amor do mundo.
O primeiro amor é aquele que não se limita a esgotar a disposição sentimental para os amores seguintes: quer esgotá-la. Depois dele, ou depois dela, os olhos e os braços e os lábios deixam de ter qualquer utilidade ou interesse. As outras pessoas - por muito bonitas e fascinantes que sejam - metem-nos nojo. Só no primeiro amor.
Não há amor como o primeiro. Mais tarde, quando se deixa de crescer, há o equivalente adulto ao primeiro amor - é o primeiro casamento; mas não é igual. O primeiro amor é uma chapada, um sacudir das raízes adormecidas dos cabelos, uma voragem que nos come as entranhas e não nos explica. Electrifica-nos a capacidade de poder amar. Ardem-nos as órbitas dos olhos, do impensável calor de poder-mos ser amados. Atiramo-nos ao nosso primeiro amor sem pensar onde vamos cair ou de onde saltamos. Saltamos e caímos. Enchemos o peito de ar, seguramos as narinas com os dedos a fazer de mola de roupa, juramos fazer três ou quatro mortais de costas, e estatelamo-nos na água ou no chão, como patos disparados de um obus, com penas a esvoaçar por toda a parte.
Há amores melhores, mas são amores cansados, amores que já levaram na cabeça, amores que sabem dizer «Alto-e-pára-o-baile», amores que já dão o desconto, amores que já têm medo de se magoarem, amores democráticos, que se discutem e debatem. E todos os amores dão maior prazer que o primeiro. O primeiro amor está para além das categorias normais da dor e do prazer. Não faz sentido sequer. Não tem nada a ver com a vida. Pertence a um mundo que só tem duas cores - o preto-preto feito de todos os tons pretos do planeta e o branco-branco feito de todas as cores do arco-íris, todas a correr umas para as outras.
Podem ficar com a ternura dos 40 e com a loucura dos 30 e com a frescura dos 20 - não outro amor como o doentio, fechado-no-quarto, o amor do armário, com uma nesga de porta que dá para o Paraíso, o amor delirante de ter sempre a boca cheia de coração e não conseguir dizer outra coisa com coisa, nem falar, nem pedir para sair, nem sequer confessar: «Adeus Mariana - desta vez é que me vou mesmo suicidar.» Podem ficar (e que remédio têm) com o savoir-faire e os fait-divers e o «quero com vista pró mar se ainda houver». Não há paz de alma, nem soalheira pachorra de cafunés com champagne, que valha a guerra do primeiro amor, a única em que toda a gente morre e ninguém fica para contar como foi.
Não há regras para gerir o primeiro amor. Se fosse possível ser gerido, ser previsto, ser agendado, ser cuidado, não seria primeiro. A única regra é: Não pensar, não resistir, não duvidar. Como acontece em todas as tragédias, o primeiro amor sofre-se principalmente por não continuar. Anos mais tarde, ainda se sonha retomá-lo, reconquistá-lo, acrescentar um último capítulo mais feliz ou mais arrumado. Mas não pode ser. O primeiro amor é o único milagre da nossa vida - e não há milagres em segunda mão. É tão separado do resto como se fosse uma primeira vida. Depois do primeiro amor, morre-se. Quando se renasce há uma ressaca. É um misto de «Livra! Ainda bem que já acabou!» e de «Mas o que é isto? Para onde é que foi?».
Os outros amores são maiores, são mais verdadeiros, respeitam mais as personalidades, são mais construtivos - são tudo aquilo que se quiser. Mas formam um conjunto entre eles. O segundo e o terceiro e o quarto, por muito diferentes, são mais parecidos. São amores que se conhecem uns aos outros, bebem copos juntos, telefonam-se, combinam ir à Baixa comprar cortinados. O primeiro amor não forma conjunto nenhum. Nem sequer entre os dois amantes - os primeiros, primeiríssimos amantes. Acabam tão separados os dois como o primeiro amor acaba separado dos demais. O amor foi a única coisa que os prendeu e o amor, como toda a gente sabe, não chega para quase nada. É preciso respeito e bláblá, compreensão mútua e muito bláblá, e até uma certa amizade bláblá. Para se fazer uma vida a dois que seja recompensadora e sobretudo bláblá, o amor não chega. Não se vive só dele. Não se come. Não se deixa mobilar. Bláblá e enfim.
Mas é por ser insustentável e irrepetível que o primeiro amor não se esquece. Parece impossível porque foi. Não deu nada do que se quis. Não levou a parte nenhuma. O primeiro amor deveria ser o primeiro e esquecer-se, mas toda a gente sabe, durante o primeiro amor ou depois, que é sempre o último.
Afinal nem é por ser primeiro, nem é por ser amor. A força do primeiro amor vem de queimar - do incêndio incontrolável - todas aquelas ilusões e esperanças, saudades pequenas e sentimentos, que nascem em nós com uma força exagerada e excessiva. Como se queima um campo para crescer plantas nele. Se fôssemos para todos os outros amores com o coração semelhantemente alucinado e confuso, nunca mais seríamos felizes. É essa a tristeza do primeiro amor. Prepara-nos para sermos felizes, limando arestas, queimando energias, esgotando inusitadas pulsões, tornando-nos mais «inteligentes».
É por isso que o primeiro amor fica com a metade mais selvagem e inocente de nós. Seguimos caminho, para outros amores, mais suaves e civilizados, menos exigentes e mais compreensivos. Será por isso que o primeiro amor nunca é o único? Que lindo seria se fosse mesmo. Só para que não houvesse outro.
Miguel Esteves Cardoso - Os Meus Problemas (1988)